Artigo: Conjunção entre Júpiter e Saturno

Prof. Paulo Sergio Bretones
Departamento de Metodologia de Ensino/UFSCar

No início da noite de 21 de dezembro, poderemos observar a chamada Grande Conjunção entre os planetas Júpiter e Saturno que estarão muito próximos no céu, a 0,1 grau, ou 1/5 do diâmetro da Lua.

É um fenômeno relativamente raro, pois ocorre a cada 20 anos. Em 1623 houve outra grande aproximação, mas muito perto do pôr do Sol e a mais próxima, vista com mais facilidade, foi na Idade Média, em 1226. O astrônomo Johannes Kepler (1571-1630) acreditava que a conjunção de Júpiter e Saturno ocorrida em 7 a. C. teria sido a Estrela de Belém mencionada no Evangelho de São Mateus, que teria guiado os Reis Magos. A próxima ocorrerá em 2040, mas só estarão tão próximos em 2080.

No dia 21, o Sol se põe às 18h53, pelo horário de São Paulo, e às 19h30 já podemos observar os planetas que se põem às 20h50. Assim, é importante observarmos já no começo da noite na direção do oeste ou poente, procurar locais altos e sem poluição luminosa.

Nesta mesma data a Lua estará na fase de Quarto Crescente, e no dia 23 próxima do planeta Marte. Observando com uma pequena luneta ou telescópio, conforme o número de aumentos, dia e horário, Júpiter pode ser visto com suas quatro maiores luas: Io, Europa, Ganímedes e Calisto e Saturno com seus belíssimos anéis e sua maior lua, Titã.

O fenômeno é uma ótima oportunidade para entendermos os movimentos, brilhos, distâncias, tamanhos e composições dos planetas. A conjunção não significa que Júpiter e Saturno estejam próximos entre si, mas é como vemos daqui da Terra, pois estão alinhados, se notarmos pelas suas órbitas.

Júpiter é um dos objetos mais brilhantes do céu, está a cerca de 886 milhões de quilômetros. O Gigante dos Mundos é o maior planeta do Sistema Solar, 1300 vezes maior que a Terra em volume, 79 luas conhecidas e praticamente todo gasoso feito principalmente de hidrogênio, amônia e metano. Saturno está a 1,6 bilhão de quilômetros o segundo em tamanho, com uma composição parecida e 82 luas.

O dia 21 de dezembro também é uma data especial porque às 7h02 é o início do verão, o solstício, no hemisfério sul com o dia mais longo e a noite mais curta do ano e o inverno no hemisfério norte, com o dia mais curto e a noite mais longa do ano. Nesta data o Sol se põe o mais para a esquerda possível, mais deslocado para o Sul.

No início da noite pode ser vista a constelação do Órion com as Três Marias sobre o horizonte leste, à direita a estrela Sírius e à esquerda o aglomerado das Plêiades. A observação dos astros nas próximas noites nos permite incentivar estudos sobre a Astronomia junto a professores, estudantes e interessados.

Muitos mapas celestes são disponíveis em softwares gratuitos como o Stellarium, o site heavens-above, ou os aplicativos SkyMap e Star Chart. Mesmo com o avanço da tecnologia, os recursos digitais são ferramentas, mas a experiência real da observação do céu e seus fenômenos é sempre um espetáculo inesquecível e insubstituível como parte de nossas vidas.

Esperamos que o céu não esteja nublado para obtermos lindas fotos na ocasião. Nesta data acontece a noite de Yalda, um dos eventos tradicionais mais celebrados no Irã e na cultura Persa. Todos os anos, os iranianos comemoram a chegada do inverno, a renovação do Sol e a vitória da luz sobre as trevas.

Esta conexão com a natureza tem um grande reflexo na arte e literatura persa, pois significa “nascimento” à espera do amanhecer brilhante no lindo céu da manhã e o triunfo do Sol sobre a escuridão, com mais tempo e luz no céu.

Em tempos de pandemia, a contemplação do céu com uma conjunção rara e belíssima nos traz um alento, uma evidência de que o tempo passa e que a ciência sempre nos ajuda a entender a natureza, enfrentar doenças e superar tempos difíceis.