Artigo: Dia Mundial da Fake News

Por Marcio Pitliuk*

Os dois Joseph, Stalin e Goebbles, levaram a fake news ao estado da arte, para atingir seus objetivos, a extrema esquerda e a extrema direita são a mesma coisa.URSS era União das Repúblicas SOCIALISTAS Soviéticas, em prol do TRABALHADOR. Nazismo é Partido Nacional SOCIALISTA dos TRABALHADORES alemães. Alguma diferença?

 Décadas antes do Photoshop, Stalin já mandava eliminar das fotografias seus desafetos políticos. Ele reescrevia a história da Revolução Bolchevique destacando e glorificando sua própria pessoa, afinal, não existe ditador modesto. Depois passou a apagá-los fisicamente, despachava para o frio dos gulags da Sibéria ou o calor dosinfernos.

 A Fake News na União Soviética criou três mitos: Lenin, Marx e o próprio Stalin. O comunismo tentou eliminar as religiões e substituí-las por uma seita onde esses três eram venerados como deuses. Numa época em que não existia o Twitter, criou o jornal Pravda, que em russo quer dizer verdade, que só publicava mentiras. Um jornal inteiro voltado a Fake News, como tantos que conhecemos hoje em dia.

Tão competente nas Fake News quanto o Joseph georgiano, era o Joseph alemão, Goeblles. Foi um mestre na comunicação e na mentira, conseguiu levar a elite e o povo alemães a cometerem o assassinato de forma industrial, o Holocausto.

 Hitler, no seu best-seller “Mein Kampf”, escreveu que “quando você falar uma mentira, minta muito,assim o povo vai acreditar”. Segundo Adolf, uma grande mentira é mais fácil de colar do que uma mentirinha. Goebbles acrescentou: se uma mentira for repetida muitas vezes, eventualmente o povo vai acreditar nela.

 Joseph Goebbles virou Ministro da Propaganda, um dos ministérios mais importantes de um partido baseado em Fake News. Precisavam encontrar um inimigo genérico que simbolizasse o outro, que fosse “ele”. Havia de ser um grupo, não alguém em particular. Esse inimigo surgiu na figura dos judeus, não um judeu específico, mas os judeus como grupo. Os nazistas culparam os judeus pela derrota na guerra de 1914-1918 e pela crise econômica do país. Usando todas as mídias disponíveis, jornais, rádios, revistas, cartazes, filmes, livros, professores, o povo alemão foi bombardeado pela Fake News de que os judeus faziam um complô internacional para conquistar não só a Alemanha, mas o Mundo todo. Com ajuda de cientistas fakes baseados numa fake classificação de raças da humanidade, criaram a Fake News de que os arianos eram uma raça superior, acima de todas as outras, o que dava a eles o direito de conquistar o mundo (mas não era disso que os judeus eram acusados?) e escravizar os povos inferiores.

Stalin foi responsável pela morte de trinta milhões de pessoas, Hitler por mais cinquenta milhões. Oitenta milhões de vítimas são um número bem consistente para provar que devemos combater as Fake News enquanto estamos vivos.

 Hoje em dia, com as redes sociais, qualquer um pode publicar qualquer coisa e chegar a milhões de pessoas. Jornais falsos são criados na internet para dar mais credibilidade a mentira, falsamente assinadas por celebridades para conferir mais respeito.

Se antigamente apagavam personagens nas fotografias, imagine agora com o recurso do Photoshop. Não apenas é possível apagar uma pessoa, como acrescentar outra.Uma imagem vale mais que mil palavras.

 Enquanto seguimos discutindo se a direita é melhor que a esquerda, se nossa Fake News é verdadeira e a deles é mentirosa, os dois Joseph já provaram que só os déspotas saem lucrando. Para a vítima, tanto faz se o sistema é de direita ou de esquerda, a dor da tortura é igual.

 Combater as Fake News é fundamental para manter o estado de direito e as liberdades individuais. As Fake News levam a destruição da sociedade. 27 de janeiro foi instituído pela Organização das Nações Unidas como o Dia Mundial em Memória das Vítimas do Holocausto para lembrar os que morreram por culpa da mentira nazista. Será preciso criar o Dia Mundial do Combate a Fake News?

* É diretor no Brasil do Yad Vashem, curador do Memorial do Holocausto de São Paulo, autor dos livros “A alpinista” e “O homem que venceu Hitler”.