Artigo: Salvar a Ucrânia é salvar o mundo livre

Por Márcio Pitliuk*

Em 12 de março de 1938, Hitler anexou a Áustria e o mundo se calou. Seis meses depois, Hitler ocupou os Sudetos, que era território tchecoslovaco, e a Europa não reagiu. Em 1º de setembro de 1939, o mesmo Hitler invadiu a Polônia e a mesma Europa agiu apenas diplomaticamente.

As potências da época, Inglaterra e França, fingiram acreditar que a Alemanha iria parar por aí e não quiseram se envolver nessa guerra, apesar de haver um acordo em que eles defenderiam a Polônia com a força das armas, caso fosse invadida.

A partir dessa fraqueza, Hitler conquistou a Dinamarca, Noruega, Hungria, Holanda, Bélgica, Grécia, Lituânia, Letônia, Luxemburgo, Estônia, Romênia, Ucrânia e muitos outros países, até mesmo a França, que se acovardou em setembro de 1939. Tudo isso só terminou 50 milhões de mortos depois.

“Mas hoje em dia isso não pode acontecer”. Aconteceu a pouco mais de 70 anos, no século XX, sem contar que a Alemanha era um dos países mais civilizados da época. Ainda existem testemunhas vivas daquela guerra. “Mas Hitler era louco”. O que sabemos do Putin e das pessoas que o cercam? Aprendemos na escola que o valentão só parava de brigar quando encontrava alguém mais forte e que dava uma surra nele, infelizmente essas pessoas só acreditam na violência, não no diálogo.

Sansões econômicas, como os Estados Unidos e a Comunidade Europeia estão fazendo, ajudam, mas não salvam a Ucrânia e nem impedem a Rússia de seguir com seu plano expansionista. A Alemanha nazista também sofreu boicotes e foi buscar nos territórios ocupados o que faltava para prosseguir com a guerra, como aço, petróleo, comida e até mesmo escravos.

Quase a totalidade dos países da ONU condenou a Rússia, vale aqui lembrar o que Stalin falou para Pierre Laval quando este ofereceu o apoio do Papa Pio XII: “Quantas divisões tem o papa?”. Putin deve ter perguntado quantas divisões tem a ONU.

 Por que Putin invadiu a Ucrânia? Porque quis. Ele criou uma Fake News para justificar a invasão ao dizer que esse país era uma ameaça a soberania da Rússia. Não havia nenhum sinal de ameaça, nenhum exército se armando e nem armas da OTAN na Ucrânia. Ele também não invadiu em busca de energia ou terra fértil, os russos não precisam da Ucrânia para isso. Invadiu porque acredita que tem esse direito e se não for bloqueado, vai continuar seu projeto expansionista. Se ele não for impedido de conquistar a Ucrânia, vai inventar outras mentiras para continuar sua expansão, para trazer a Rússia de volta aos tempos dos czares ou da União Soviética.

Um ditador que controla seu próprio povo com mão de ferro não tem o menor escrúpulo com os outros povos. Para o ditador só importa o poder e a expansão do seu império, ele quer dominar mais e mais pessoas e satisfazer seu ego doentio. É por isso que ele invadiu a Ucrânia e engana-se quem acredita, como a Inglaterra e a França acreditaram em 1939, que ele vai se satisfazer com esse país.          

O mundo livre abandonou a Ucrânia à própria sorte como abandonaram a Polônia em 1939 e pagou um preço caro por isso. Depois da Ucrânia serão os países Bálticos, depois Moldávia, Romênia, Hungria e assim por diante. Até que o mundo livre vai cair como dominó.

Vale lembrar o poema do Eduardo Alves da Costa: “Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada.  Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.”

 A História se repete, nem sempre como farsa, muitas vezes como tragédia.

*É membro da Academia Ituana de Letras, curador do Memorial do Holocausto de São Paulo e autor dos livros “A alpinista” e “O homem que venceu Hitler”.