Artigo: Telescópio Espacial James Webb

Por Prof. Paulo Sergio Bretones*

No dia 25 de dezembro foi lançado o telescópio espacial James Webb pela NASA, com um foguete Ariane 5, na base de Kourou, na Guiana Francesa. Após cerca de 30 dias, deverá chegar ao chamado ponto de Lagrange L2, a 1 milhão e 500 mil quilômetros da Terra, no lado oposto ao Sol. Girando ao redor do Sol de maneira sincronizada com a Terra estará em uma posição estável com necessidade de poucas correções na órbita. 

Do ponto de vista educacional é importante considerarmos a evolução histórica dos instrumentos ópticos e entendemos o que ocorreu antes para chegarmos nesse momento com o lançamento do telescópio espacial. A luneta ou telescópio refrator, inventado por Hans Lippershey em 1608, levou às descobertas de Galileu como as luas de Júpiter, fases de Vênus, crateras de montanhas da Lua e as manchas solares.

O telescópio refletor inventado por Isaac Newton levou a observações e descobertas de Hershel e outros de planetas, luas, asteroides, cometas, estrelas e galáxias. Depois grandes telescópios foram instalados em montanhas como Monte Wilson e Monte Palomar nos Estados Unidos, o telescópio Keck no Havaí e o VLT no Chile.

Também foram construídos radiotelescópios, telescópios espaciais e sondas enviadas a outros planetas. O telescópio espacial Hubble, lançado em 1990, com um espelho de 2,4 m de diâmetro, gira ao redor da Terra a uma altura de 600 km e com uma órbita que dura cerca de 1 hora e meia. Considerado sucessor do Hubble, o James Webb não é um observatório terrestre ou um satélite.

O projeto teve início em 1996, mas devido a revisões e problemas com o orçamento, o lançamento previsto para 2007 teve um atraso de 14 anos. Construído pela NASA nos Estados Unidos, será controlado pelo Instituto de Ciência do Telescópio Espacial, em Baltimore, no estado de Maryland em parceria com as agências espaciais da Europa (ESA) e do Canadá (CSA). Com um múltiplo de 18 espelhos dourados, terá o tamanho de um espelho de 6,5 m de diâmetro.

Dedicado a observações no infravermelho, fará estudos sobre nebulosas, atmosferas de exoplanetas, galáxias e a origem do Universo, com uma temperatura abaixo de –220º C. Com uma massa de 6 toneladas terá vários componentes como: antena, painéis solares, espelho secundário, flap de estabilização, instrumentos de controle da nave e um escudo solar para proteger o telescópio da luz e calor emitidos pelo Sol. Além disso, terá instrumentos científicos para o uso de câmera e espectrômetro de infravermelho.

Com um custo de 10 bilhões de dólares, nos leva a pensar sobre sua necessidade. Certamente é questionável, mas os gastos com armamentos superam esse valor. E como atender populações carentes de moradia, alimentação e saúde pelo mundo? Mas, como não avançar nas pesquisas científicas se melhores instrumentos levam a descobertas? Não existe uma resposta certa, mas leva a reflexões.

Recentemente recebi a resposta sobre uma mensagem que enviei a Edgar Morin, considerado uma grande referência na educação, que em julho completou 100 anos: “Caro Paulo: Devemos considerar a Astronomia como uma introdução ao questionamento para a Cosmologia, científica e filosófica sobre nosso Universo e o lugar da vida e da humanidade neste Universo onde somos feitos de matéria física e onde o Universo está dentro de nós como estamos dentro do Universo.”

Também considero que as maravilhas do céu sempre nos inspiram a reflexões e estudos sobre a nossa posição no Universo e o nosso papel para fazermos um mundo melhor.

*É palestrante e autor, formado em Química com mestrado e doutorado com temas relacionados à Educação em Astronomia pela UNICAMP. Atualmente é Professor Associado da Universidade Federal de São Carlos.