Artigo: Três sondas chegaram a Marte

Por Prof. Paulo Sergio Bretones*

No mês passado, chegaram a Marte as sondas de três países lançadas em julho do ano passado. No dia 9 de fevereiro, chegou a sonda Hope, dos Emirados Árabes Unidos, a quinta agência espacial a chegar ao planeta vermelho, sendo o primeiro país árabe a enviar uma missão interplanetária, após seis anos para construir o projeto. Após uma viagem de quase 500 milhões de quilômetros, a inserção na órbita de Marte foi muito arriscada. Cerca de metade dos 800 kg de combustível da Hope foi gasto para reduzir a velocidade de 121 mil para 18 mil km/h. durante 27 minutos para que a nave fosse capturada pela gravidade de Marte e entrasse em órbita.

Com o objetivo de estudar a atmosfera de Marte, a sonda usará três instrumentos, dois para analisar a luz infravermelha e ultravioleta e um gerador de imagens para obter fotos e dados para estudos diários e sazonais. Além disso, pretende conhecer a dinâmica do clima em diferentes camadas da atmosfera marciana e entender como a energia e as partículas, como oxigênio e hidrogênio, se movem e escapam do planeta fazendo-o perder parte de sua atmosfera. A sonda Hope fará uma órbita a cada 55 horas para obter imagens da atmosfera de Marte. Diferente das outras sondas que giram ao redor do planeta em torno dos polos e apenas observam uma área de sua superfície em certa hora do dia, a sonda fará uma órbita elíptica contornando a linha do equador com uma imagem completa a cada nove dias.     

Cerca de metade das missões enviadas a Marte falharam ao chegar lá. Segundo Omran Sharaf, gerente de projeto,a missão tem sido bem sucedida porque os Emirados Árabes “não começaram do zero, mas começaram onde outros terminaram”.Vários países consideram a exploração espacial como uma corrida ou competição, mas os Emirados entendem como uma cooperação internacional.

A sonda Tianwen-1, enviada pela China, chegou no dia 10 de fevereiro com um orbitador, um módulo de pouso e um robô para estudar a superfície de Marte em maio deste ano. A Administração Espacial Nacional da China (CNSA) divulgou um vídeo feito pela sonda quando se aproximava de Marte, vibrando e acionando seus motores para entrar na órbita e apresenta o planeta entrando no campo de visão seguido de uma borda de sua atmosfera. Também são vistas algumas crateras do planeta, o painel solar e a antena de rastreamento da sonda. Movido pela energia solar, o objetivo da missão é estudar a superfície, o solo, a presença de água, campos gravitacional e magnético, a atmosfera de Marte e evidências de vidas passadas e atuais.

No dia 18 de fevereiro a sonda Perseverance, da NASA pousou em Marte na cratera Jezero, com o uso de tecnologias automáticas, propulsores e paraquedas e foram obtidas e divulgadas as primeiras imagens com alta resolução e 360 graus, da superfície e do horizonte do planeta. Dentre os objetivos da missão estão: a busca por evidências de vida, o drone Ingenuity, com hélices duplas girando a alta velocidade numa atmosfera rarefeita e experimentos para obtenção de oxigênio. Também foram divulgados pela NASA o vídeo do pouso, um áudio no qual o vento pode ser ouvido e um mapa na Internet que apresenta a posição atual do Perseverance.

Muito se comenta sobre projetos de enviar astronautas a Marte. Bill Anders, piloto da Apollo 8 disse que é “estúpido” enviar tripulações para Marte, pois os programas não tripulados são mais baratos, além de questionar sobre a necessidade que o público não esteja tão interessado.

No contexto da pandemia, sem dúvida é um assunto discutível, mas as missões espaciais podem incentivar professores, estudantes e interessados para estudos, reflexões e como cuidar melhor do nosso planeta.

No início das próximas noites, se olharmos para a direção do horizonte oeste ou poente, podemos notar a constelação do Órion com as Três Marias. Logo abaixo, a estrela Aldebarã, da constelação do Touro e mais abaixo o Planeta Marte ambos com coloração avermelhada. Ao observarmos com alguém, podemos perguntar: E então, quantas sondas chegaram lá?

*É palestrante e autor, formado em Química com mestrado e doutorado com temas relacionados à Educação em Astronomia pela UNICAMP. Atualmente é Professor Associado da Universidade Federal de São Carlos.