Artistas se reinventam durante a quarentena

Cantora e compositora, Andressa Leme encontrou na gastronomia a sua “válvula de escape” (Foto: Arquivo pessoal)

A situação causada pela pandemia fez e faz com que muitos profissionais necessitem se adaptar para cuidar da saúde e, ao mesmo tempo, manter suas finanças em dia. Os artistas, neste sentido, tiveram um impacto considerável. É o caso da cantora e compositora ituana Andressa Leme, de 22 anos, que possui oito anos de carreira se apresentando em estabelecimentos da região, no gênero sertanejo.

Em 2018, Andressa ingressou no maior tributo ao ABBA (banda sueca de renome mundial), apresentando-se de três a quatro vezes na semana em teatros. Porém, com a pandemia, o ritmo precisou ser alterado e, para manter as finanças, foi necessária a adaptação.

 “Estou vivendo em um momento repleto de lembranças. Quando eu era pequena, meu avô vinha toda quinta feira em casa comer bolo que eu fazia. Nessa pandemia, para não ficar sem nenhuma renda, decidi comprar os primeiros materiais com o dinheiro de uma live que fiz e comecei a fazer doces gourmets”, explica.

A ideia se transformou em mais um sucesso em sua trajetória. “Eu não imaginava que faria tanto sucesso já de início. Quando a pandemia acabar e voltar tudo ao normal eu pretendo continuar com os doces e doar uma parte para as ONGs que ajudo de animais e quem sabe, futuramente, abrir uma doceria”, comenta.

 A “descoberta” da área gastronômica auxiliou a artista de diferentes formas. “Além de me ajudar financeiramente , ajudou a ocupar minha mente e a saber lidar muito mais com meu lado financeiro”, conta.

 Karen Dutra, artesã de 28 anos, também necessitou se adaptar durante a pandemia, mas já havia programado para eventualidades. “Eu já tinha em mente que eu tinha que ter um ‘caixa reserva’, pois a vida de artesã é de altos e baixos. Quando começou a pandemia, eu estava no auge da minha loja e vi tudo caindo aos poucos”, relata.

 Embora tenha tido queda nas vendas, as parcerias profissionais foram fundamentais. “Me mantive bem em relação aos meus parceiros de trabalho. Tive que me adaptar e reinventar mesmo sendo a internet meu maior público. Agora que as coisas estão normalizando pra mim, aos poucos estou colocando ‘a casa em ordem’. Mas foi um aprendizado e um grande desafio me manter em pé diante de uma pandemia sendo artesã”.

O artista plástico e professor Luciano Luz, de 47 anos, é professor de desenho clássico e amante de uma vida simples, como ele mesmo define. Ele necessitou de uma grande e rápida adaptação. “Trabalhar em meio a essa pandemia é curioso. Eu já não sou muito da tecnologia e tive que me esforçar a conhecer alguns recursos tecnológicos da câmera e do vídeo para conseguir interagir com os alunos”.

 Ele até brinca: “A palavra videoconferência nem existia no meu dicionário e passou a existir. A adaptação foi lenta ao mesmo tempo que teve que ser pensada de uma forma rápida, pois os alunos não queriam parar e eu tive que arrumar uma forma de pensar no meu método para que eles pudessem continuar a fazer em casa”.

  O artista plástico comenta ainda as diferenças. “A vídeoaula não permite certos detalhes da arte, então muitas coisas nos vamos resolver presencialmente, quando tudo voltar ao normal”, explica.

Mesmo com a adaptação, o lado financeiro acabou prejudicado. “A gente perde alguns valores (financeiros) com isso, não tem como. Estou com uma fila de espera, pois no começo é necessário que o aluno tenha aulas presenciais, o que só vai ocorrer depois da pandemia e dentro dos que já faziam (as aulas) às vezes não se adaptam, metade deu uma pausa”.

 Porém, Luciano encara o período com otimismo. “Mas nada que não dê pra gente ir controlando gastos, sempre dá para dar um jeito, ser realista e tratar a vida de uma maneira mais modesta para passar por esse momento delicado, por uma fase, que não é eterna. Com diz meu pai, tudo o que não é para sempre a gente aguenta”, conclui.