BULDOGUE EFICIENTE

Naquele tempo, os velórios eram realizados nas próprias residências das pessoas falecidas. Quando chegava a hora do enterro, o caixão era carregado por parentes e amigos, geralmente com as próprias mãos. Só os mortos de famílias ricas é que tinham condições de transportar o caixão no carro funerário. Então, o transporte da vítima, poderia ser bem penoso. Saia da casa, onde foi o velório e o esquife era conduzido até a igreja para o corpo ser encomendado pelo padre, mesmo porque, na época, a população católica era esmagadoramente predominante. Depois da igreja, o caixão era conduzido até o cemitério, com os acompanhantes se alternando para levar o corpo.

Foi numa dessas que o contramestre da Fábrica São Pedro, conhecido por Tidão, mas cujo nome era Aristides Nascimento, estava saindo do SIM Supermercados que ficava onde é hoje o Supermercado Paulistão, se deparou com o um enterro e ficou surpreso. Mais surpreso ainda ficou quando viu que havia dois caixões, conduzidos da mesma forma. Notou também a pouca presença de mulheres no cortejo. Havia sim uma grande e estranha fila “indiana” de homens acompanhando. Assim, curioso, Tidão resolveu seguir, a pé, o enterro. Foi se aproximando de um homem que vinha à frente de todos e que conduzia pela coleira, um cão Buldogue. Tidão se aproximou e conseguiu abordar o homem do cachorro, falando baixinho: – “Me desculpe, mas o senhor poderia dizer quem morreu?” O cidadão explicou: – “No primeiro caixão está a minha esposa que foi atacada por este buldogue e não resistiu aos ferimentos”. – “E no outro caixão, quem seria?” – Indagou Tidão. – “Nele está a minha sogra que tentou socorrer a filha e também acabou sendo morta pelo cachorro”. – Disse o viúvo. Fez-se um silêncio no diálogo, até que Tidão criou coragem e pediu: – “Sei que o momento não é apropriado, mas passado este transe, o senhor poderia me emprestar esse Buldogue por um dia?” E o viúvo respondeu:

– “Posso sim, mas o senhor vai precisar entrar na fila dos homens aí atrás, que já me fizeram antes, o mesmo pedido…”