Cinerama: Doutor Sono

Por André Roedel

Trailer de Doutor Sono, da Warner Bros.

Servir como sequência de um filme como O Iluminado não é tarefa das mais simples. O longa-metragem de Stanley Kubrick é até hoje um dos mais marcantes do gênero e elevou o status de Stephen King, o autor da obra original. E Doutor Sono consegue se sair bem. Faz as referências necessárias, cultua a obra do escritor e consegue empregar seu próprio charme. É repleto de tensão, fugindo dos sustos fáceis vistos nas produções do tipo atualmente – até mesmo em outras adaptações de livros de King.

Palmas para Mike Flanagan. O cineasta, que já levou para as telas outra obra do escritor – em Jogo Perigoso, da Netflix, considerada por muitos a obra “inadaptável” do autor – e também fez sucesso com a série A Maldição da Residência Hill, assume todo o comando deste filme, dirigindo, escrevendo o roteiro e editando. Isso faz com que tudo tenha uma marca mais própria, mesmo com algumas tentativas que Flanagan faz para emular a direção de Kubrick – algo difícil, mas que se torna uma elegante homenagem.

Ewan McGregor em cena. Foto: Reprodução

A maior dificuldade em Doutor Sono é ser uma continuação do filme de 1980 e uma adaptação do livro de 2013. Isso porque O Iluminado se distanciou muito do lado místico apresentado na obra de Stephen King, ao ponto de o autor detestar o longa. Já este novo filme quer prosseguir do ponto em que o anterior parou e incluir todo esse lado “mágico”, que ficou de escanteio no longa protagonizado por Jack Nicholson, naturalmente. Por isso, os espectadores que não são tão familiarizados com esse universo podem estranhar.

Tirando isso, o filme consegue ser satisfatório tanto para os adoradores de Kubrick quanto do universo de King. Na trama, vemos Danny Torrance (Ewan McGregor) logo após os acontecimentos de O Iluminado, tentando “apagar” a sua iluminação – uma espécie de dom. Traumatizado, ele vai parar numa cidadezinha no interior dos EUA quando acaba se deparando com uma outra criança iluminada e um grupo inimigo.

McGregor manda muito bem no papel, mas quem rouba a cena é Rebecca Ferguson no papel de Rose, a Cartola. A vilã, que quer sugar a iluminação de crianças, é o grande destaque no quesito atuação, apresentando uma nuance que a atriz dificilmente apresentou nas telonas. Kyliegh Curran, no papel da garota iluminada, Abra, também vai bem. Sua personagem gosta dos poderes que apresenta, fazendo um contraponto a Danny.

Com a recriação de cenas e cenários clássicos, como o Hotel Overlook, Doutor Sono serve como um tributo honesto às obras de Kubrick e King, leva tensão na medida certa para o espectador e mostra que existem novos talentos, como Mike Flanagan, surgindo por aí. Um alento para a sétima arte.

Nota: ✫ ✫ ✫ ✫