Combate ao Alcoolismo: luta e desafios contra o consumo excessivo do álcool

Demilson Florentin comenta a importância de se abordar o tema e levá-lo ao conhecimento dos jovens (Foto: Arquivo pessoal)

Na última quinta-feira (18), foi celebrado o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, instituído para conscientizar os brasileiros a respeito do consumo excessivo de álcool e os males que a prática pode ocasionar. Entre as principais consequências do abuso do álcool, ao longo dos anos, estão: lesões no fígado, que causam inflamação crônica e fibrose, que pode levar a morte.

O alcoolismo é uma doença crônica que atinge tanto homens quanto mulheres e, para auxílio dessas pessoas, existe o Alcoólicos Anônimos (A.A.), uma comunidade de caráter voluntário existente desde 1935, que se reúne para alcançar e manter a sobriedade através da abstinência total de ingestão de bebidas alcoólicas.

Sem caráter religioso, porém espiritual, incorporou muitos princípios de diversas religiões. Como comunidade recebe pessoas de todas as doutrinas, sobrevivendo financeiramente através dos seus próprios membros que contribuem espontaneamente, não aceitando financiamento proveniente de fora da própria Irmandade

O Alcoólicos Anônimos funciona com base no Programa de 12 passos, 12 tradições e 12 conceitos e fundamenta-se no anonimato de seus membros. A irmandade divide-se em grupos locais, que realizam reuniões regulares, nas quais os participantes conversam sobre suas experiências com o alcoolismo e com o tratamento da doença.

Para ser membro de A.A. o único requisito é ter o desejo de parar de beber. No programa de 12 passos, é utilizada a oração da serenidade como um meio de aceitação e superação. Em Itu, existem dois grupos do A.A., um situado na Rua Luiz Gonzaga Bicudo, 1981, no bairro Vila Nova, e o outro, no bairro Cidade Nova (Rua Taubaté, 30).

 Nesta semana, o Periscópio conversou com um idoso de 60 anos, que é coordenador do Comitê Trabalhando com os Outros (CTO), do Alcoólicos Anônimos, situado na Vila Nova.

Preferindo não se identificar, o homem, que atualmente é vendedor autônomo, perdeu seu casamento para o álcool, porém, após se conscientizar que necessitava de ajuda, procurou o A.A. e está há mais de duas décadas sem colocar uma gota de álcool em seu organismo.

“Cheguei ao fundo do poço. O alcoolismo como doença, e eu não sabia, me tirou tudo o que eu tinha de mais valor e me deixou um rastejante por causa de um gole de bebida. Aí encontrei o Alcoólicos Anônimos, fui convidado para assistir a uma reunião em 1997 e de lá para cá eu venho frequentando o grupo”,

acrescenta o coordenador, reforçando que as reuniões acontecem respeitando todos os protocolos sanitários de combate e prevenção à Covid-19.

O JP também conversou com Demilson Florentin, de 47 anos. Ele comenta que teve seu primeiro contato com o álcool ainda na adolescência. “Conheci o álcool aos 16 para 17 anos no ambiente família. Considerava o álcool completamente inofensivo, já que presenciava quase todos os familiares consumindo tranquilamente”, diz.

Porém, de acordo com Demilson, a situação mudou. “O beber de forma compulsiva começou aos 22 anos. Jamais tinha ouvido falar que o álcool era droga e muito menos que o beber em excesso é uma doença e até custei para aceitar o meu alcoolismo”.

Com o problema instalado e a vida disfuncional, Demilson procurou auxílio e viu sua história novamente mudar, dessa vez para melhor. “Procurei ajuda em Alcoólicos Anônimos e em uma comunidade terapêutica. Minha história mudou a partir de então, e no dia 10 de outubro de 2018 iniciei um tratamento contra a doença do alcoolismo”.

Ele reforça que é essencial a pessoa aceitar sua condição. “A conscientização é fundamental e faz dois anos e cinco meses que não consumo uma gota de álcool. Minha  vida mudou completamente e seguramente a internação e a frequência em Alcoólicos Anônimos fizeram e fazem  toda a diferença na minha vida”.

“Fiquei abismado quando percebi que a sociedade trata o álcool sem importância, de forma, digamos, infantil. Hoje em dia minha bandeira para combater a doença do alcoolismo é o ponto que mais me ajuda a permanecer sóbrio, não combato o álcool,  quero apenas que todo jovem saiba a verdade sobre o álcool, que o álcool não é uma brincadeira inocente”, destaca.

Demilson conclui falando que o álcool “é, sim, uma droga perigosa e é que mais mata no mundo. E havendo predisposição do jovem, ele será facilmente escravizado pelo alcoolismo. Já que ninguém tem escrito na testa ‘tenho tendência ao alcoolismo’. Minha mensagem é procure ajuda antes que seja tarde, pois você  pode estar lutando contra uma doença terrível chamada alcoolismo”.

Acompanhamento

O Periscópio conversou também com a psicóloga Dra. Cybele Micai, que falou sobre a importância de um acompanhamento psicológico para “orientar sobre qual é a melhor abordagem a ser usada, acolher a angústia da família e acompanhar todo o tratamento e avaliar intervenções e internação”.

A psicóloga reforça ainda que é fundamental a pessoa entender que precisa de acolhimento profissional e que cuidar da dependência e compulsão precisa de orientação e acompanhamento profissional, pois “é quase impossível vencer sozinho”.

 Ela explica ainda que o alcoolismo é mais do que apenas beber muito e com frequência, “é uma dependência física e psicológica da substância. O alcoolismo é percebido quando o beber virou uma rotina em sua vida, que isso já está começando a atrapalhar as atividades e relacionamentos no seu dia a dia”.

“Para ajudar a pessoa na dependência, precisa saber conversar sem julgar, sem criticar, no lugar e momento certos”, destaca Dra. Cybele, que comenta ainda que existem diversos acompanhamentos que auxiliam nos tratamentos médicos e psicológicos, atividades físicas, atividades voluntários que auxiliam no resgate da autoestima e valores, o apoio religioso, etc.

Questionada sobre um possível agravamento de casos de alcoolismo durante a pandemia, a profissional comenta. “A pandemia oculta a ingestão da bebida social, o que a pessoa sairia para beber está consumindo sem limites e críticas na proteção da casa. Além do distanciamento dos vínculos afetivos, solidão e angústia em conviver com os próprios problemas e emoções no confinamento domiciliar”.

Ações públicas

A reportagem também questionou a Prefeitura de Itu sobre os serviços voltados ao combate ao alcoolismo e a administração municipal informa que a Secretaria Municipal de Promoção e Desenvolvimento Social presta assistência por meio da equipe técnica junto aos equipamentos sociais.

Após isso, devidamente avaliada a situação e dependendo da gravidade do caso, há um encaminhamento ao CAPS AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) junto a Secretaria de Saúde. O CAPS AD é um dos equipamentos que presta atendimento às pessoas com transtornos recorrentes ao uso de álcool e substâncias psicoativas e também aos seus familiares.

Segundo a Prefeitura, os usuários podem ser encaminhados pelos vários dispositivos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) da Secretaria de Saúde, porém, não nega atendimento à demanda espontânea e reforça que o CAPS AD, situado na Rua do Patrocínio, 131, Centro, conta com uma equipe multiprofissional formada por psiquiatras, psicólogos, assistente social e enfermeiros e funciona de segunda à sexta-feira, das 7h às 17h

Serviços

Aos interessados em procurar auxílio, o telefone do Alcoólicos Anônimos do bairro Cidade Nova é (11) 3315-9333, com as reuniões ocorrendo de terça a quinta (a partir das 20h), sábados (a partir das 19h30) e aos domingos, a partir das 9h30. Já no A.A. situado no bairro Vila Nova, o contato pode ser feito pelos telefones (11) 4024-7588 ou (11) 95055-2041 (WhatsApp). As reuniões são diárias e realizadas entre 20h e 21h30.