Desenhistas de Itu celebram o Dia do Quadrinho Nacional indicando obras

Hoje (30) é celebrado o Dia do Quadrinho Nacional – não confundir com “Dia Nacional dos Quadrinhos”. A explicação para a escolha desta data está no fato de ter sido em 30 de janeiro de 1869 que foi publicada a primeira história de quadrinho brasileira: “As Aventuras de Nhô-Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte”, de autoria do cartunista Angelo Agostini.

 A partir de 1984, ficou instituído, através da Associação dos Quadrinistas e Cartunistas do Estado de São Paulo (AQC-ESP), que todo o dia 30 de janeiro se comemoraria o Dia do Quadrinho Nacional, em homenagem ao trabalho de Agostini.

 Itu não chega a ser um celeiro de profissionais da área, mas conta com um crescimento no interesse. Ano passado, antes da pandemia, estava previsto para ocorrer a primeira edição da CaipiraCon, convenção de quadrinhos e derivados nos moldes da Comic Con Experience (CCXP). O evento segue nos planos dos organizadores.

Pedro Mauro

 A cidade ainda é terra de talentos das HQs. É o caso de Pedro Mauro, que nasceu em Nova Europa/SP, mas tem residência em Itu desde a década de 1980. Após anos trabalhando na área de publicidade, ele voltou a desenhar quadrinhos em 2013 e vem ganhando destaque nacional e até mundial.

Recentemente, ele publicou, ao lado do quadrinista Carlos Estefan, a trilogia “Gatilho”, que ganhará nova edição em março. O gibi segue o gênero de faroeste, seu preferido desde criança. Mas quando perguntado qual seu quadrinho nacional predileto, Pedro Mauro vai por outro caminho.

 “O meu nacional favorito até agora é de 2018, ‘Jeremias – Pele’, do Rafael Calça e Jefferson Costa. Uma HQ que emociona do começo ao fim, com belo roteiro e arte dessa dupla”, comenta ele. Lançado pelo selo Graphic MSP, a história em quadrinhos traz uma nova visão para o personagem de Mauricio de Sousa, abordando o racismo estrutural. O gibi venceu o Prêmio Jabuti em 2019.

Beto Nascimento

 Beto Nascimento, que atualmente tem feito trabalhos com quadrinhos para o exterior, quadrinhos corporativos para empresas e ilustrações para o mercado publicitário, se interessou pelo mundo da “nona arte” cedo. “Quando assistindo a TV, vi um mascote representando a Copa de 82 na Espanha. Um personagem chamado Naranjito. A partir dali comecei a rabiscar em cadernos velhos e peguei o gosto pelo desenho”, conta.

  Ele sempre gostou de desenhar e começou a ganhar dinheiro desenhando aos 21 anos, trabalhando em uma empresa de vitrais. “No entanto, viver de quadrinhos sempre foi uma tarefa árdua no Brasil”, comenta Beto, que observava o sucesso de alguns talentos nacionais no exterior.

 Na faculdade de comunicação social, o artista passou a ter uma visão mais comercial com os desenhos e acrescentou também a habilidade de designer gráfico no currículo. Mais influenciado pelo mercado estrangeiro – “uma falha minha”, confessa – Beto considera “10 Pãezinhos” o seu gibi nacional favorito. A produção independente dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, publicada nos anos 1990 em forma de “fanzine”, durou 40 números.

Jones Alves

 Outro quadrinista de Itu é Jones Alves. O gosto pelo meio começou também na infância, com gibis da Disney e da Turma da Mônica. “Mas no final dos anos 80 e início dos anos 90, me deparei com o gibi do Batman e dos X-Men, que mudaram o meu olhar para os gibis e fiquei encantado, passava horas tentando copiar as artes daqueles artistas. Assim nasceu minha paixão por quadrinhos e minha coleção”, conta.

Inspirado pelo brasileiro Roger Cruz, que desenhava os X-Men nos anos 1990, ele decidiu se profissionalizar. “Mas apenas no início dos anos 2000 tive minha primeira oportunidade profissional. Fiz uma história para uma revista chamada ‘Talentos do Mangá’, da editora Escala, a partir daí não parei mais”, relembra Jones, que passou a trabalhar também com publicidade e a desenhar regularmente para uma editora nos EUA.

Desde o ano passado, Jones começou a desenvolver dois projetos pessoais: uma HQ de terror inspirada no folclore brasileiro, com título provisório “O silêncio da floresta”, e também estou uma HQ de ação com uma crítica política, chamada provisoriamente de “Sociedade”. Ambas estão programadas para serem publicadas este ano, de forma independente.

Para ele, escolher um só quadrinho nacional favorito é difícil. “Difícil de dizer diante de tantas obras incríveis, como dos geniais Angeli e Laerte, entre muitos outros, mas tem um que me impressionou muito que foi o gibi ‘Xampu’, do Roger Cruz, que é uma HQ mais underground e fala da juventude no final dos anos 80 início nos anos 90. A narrativa e a retratação dos personagens, assim como a relação entre eles, é muito bem escrita e desenvolvia. É um gibi que vale a pena ser lido”.