Dia das Mães: amor e proteção

Patrícia (à esquerda) ao lado da esposa Teila (à direita) e o filho Davi (Foto: Arquivo pessoal)

Neste domingo (08) comemora-se o Dia das Mães e, na edição deste sábado (07), o Periscópio trazemos a história da família formada por Patricia Maria Prada de Queiroz, sua esposa Teila Vanessa Antunes Prada e o filho Davi, adotado no ano de 2008.

Patrícia, que mora em Salto mas atua no judiciário ituano como escrevente do Tribunal de Justiça de São Paulo, recorda a trajetória. “Quando nos conhecemos, a opção pela adoção já era um elemento comum entre nós. Iniciamos nossa vida juntas em 2005 e acredito que em 2006 demos início ao processo”.

Na época, o processo consistia em juntar todos os documentos solicitados pelas varas de infância e enviá-los para várias comarcas [diversas cidades e estados]. O sistema de e-mail estava apenas começando, “de maneira que nós enviávamos aqueles grandes envelopes pardos pelo correio”, relembra Patrícia.

Questionada como é ser mãe e como foi ter adotado, Patrícia comenta. “Essa é uma pergunta engraçada. Mesmo antes de ter noção da minha sexualidade, eu me imaginava sendo mãe, mas nunca me imaginei grávida, e nunca tive, organicamente falando, nenhum impedimento para fazê-lo. Eu nasci nos anos 1970 e, durante a infância, eu ouvia falar muito naquele tabu de ‘o filho adotado’, e eu achava estranho porque, na minha cabeça, eu não entendia porque consideravam o adotado tão diferente”, aponta.

“Na minha cabeça, no meu entendimento de mundo, não existe diferença entre mãe adotiva e mãe biológica. Minha esposa pensa da mesma forma, então, a gente até pode responder como é ser mãe, mas, não podemos responder como é ser mãe adotiva porque, para nós, essa diferença não existe”, destaca Patrícia.

Embora a escrevente comente que para algumas pessoas a diferença existe, ela prefere se abster de julgamentos, mas considera que a crença de que existe uma diferença entre filhos adotados e biológicos “algo tão obtuso, que acabo por me esquecer que isso existe”.

Davi foi adotado por Patrícia e Teila quando este tinha quatro meses de vida, com elas indo até o Estado do Acre. Porém, até ter o filho nos braços, foram muitos os desafios. “Na época, entre 2006 e 2007 houve duas ou três cidades [de Minas Gerais e Rio Grande do Sul] cujos magistrados emitiram decisões negando nosso pedido de habilitação por sermos homossexuais”. 

Sobre o processo atual de adoção, Patrícia analisa. “Atualmente, está com uma série de restrições que visam evitar que se ‘comercialize’ as crianças. Óbvio que o Estado tem o dever de impedir esse tipo de coisa, entretanto, sob a justificativa de levar isso a efeito, o Estado insiste numa busca de parentes de crianças cujos pais tenham sido considerados inaptos para cuidar delas; busca essa , na maioria das vezes demora anos, sem surtir resultados e mantendo a criança institucionalizada por todo esse tempo.”

 “Sem falar, nos casos de abusos e maus tratos, que a Justiça insiste em devolver aos pais quando, poucos meses depois de perder a criança,  eles aparecem na frente do juiz ou do psicólogo com uma roupinha bonitinha, cabelo penteadinho e carteira de trabalho assinada, sendo que, meses depois voltam a exibir o mesmo comportamento que os fez perder seu filho. Se os profissionais não estão preparados para perceber quando uma mãe está ou não comprometida para criar um filho, eles deveriam receber um treinamento que os preparasse para tal”, destaca. 

“Quanto ao preconceito, ele sem duvida está menor do que há dez ou doze anos, mas, ainda que em menor na escala, sempre vai existir, porque sempre haverá gente problemática”, opina Patrícia que também fala sobre os desafios de ser mãe. “Ser mãe é uma aventura na saga de ser humano. Uma epopeia rumo à sua excelência pessoal. Ser mãe é aprender a se comunicar, aceitar limites e diferenças, tanto os seus quanto os de seus filhos, é entender e aperfeiçoar seu amor”.

“Amar, às vezes, é ter a coragem de deixar o outro triste ou bravo porque você vai cobrar uma coisa chata como estudar ou arrumar um quarto. Eu acho que o grande desafio, é a necessidade de você não parar de questionar a si mesmo, não parar de pensar em como foi sua vida, sua educação, a fim de que você possa ser alguém melhor como pai ou mãe”.

Patrícia aproveita para aconselhar casais que pretendem adotar. “Em primeiro lugar, tenha certeza que você quer ser pai e mãe. Adotar não é fazer caridade, se tem alguém que faz caridade é a criança, que faz a caridade de permitir que você sinta um amor incondicional por outro ser, o que te coloca mais perto de Deus, mas essa caridade qualquer filho faz, biológico ou não”.

“A Justiça não diferencia filho biológico de não biológico, faça o mesmo, em sua alma. Quem não pode fazer isso, na nossa opinião, não deve adotar… faça uma poupança e apele para a ciência. Em segundo lugar, tenha paciência, mas nunca deixe de ter certeza e convicção”, conclui.