Dia do Cerimonialista: profissional comenta situação na pandemia

Fernanda Mariáh em atuação antes da pandemia (Foto: Arquivo)

No dia 29 de outubro foi comemorado o Dia Nacional do Cerimonialista, profissional responsável pela assessoria ou consultoria na organização de eventos sociais como casamentos, formaturas, aniversários e outras solenidades. A data integra o calendário oficial de eventos do país desde 2009, quando foi aprovado um projeto de lei no Senado.

Em meio à pandemia, a atuação desse profissional ficou mais do que comprometida. Sem a realização de eventos para evitar aglomerações, os cerimonialistas ficaram sem poder exercer seu ganha-pão. O setor de eventos, afinal, foi o mais afetado e ainda não mostra sinais de reação.

Para entender como ficou a situação desses trabalhadores, a reportagem conversou com a cerimonialista ituana Fernanda Mariáh. Confira a entrevista abaixo:

Qual foi o impacto da pandemia na sua profissão?
Já passamos por várias crises ao longo dos anos, mas nada comparada a essa. O Sebrae fez um levantamento em abril deste ano, a pandemia afetou 98% das empresas de eventos, porém o que observei foi que o mercado deu uma limpada, quem era amador não resistiu, e quem trilhava o caminho do profissionalismo aproveitou essa oportunidade para se profissionalizar através de cursos e posicionamento nas redes sociais, aprendendo novas práticas de atendimento e alternativas para oferecer seus produtos e serviços. Óbvio que comparado ao que normalmente se ganha sem uma crise, foi um ano péssimo e assustador, porém a capacidade de alguns fornecedores de se reinventarem e olharem para o mercado com outros olhos, foi incrível e eu acredito que isso fará toda a diferença no futuro. Para os clientes isso também foi bom, porque fica claro, principalmente hoje com a internet, quem são os fornecedores profissionais e os amadores. Pasme você, ainda tem fornecedor que não tem nem CNPJ, e eu não sei como tem cliente que confia pagar por uma boa quantia e entregar um sonho na mão de uma pessoa que não atua como um profissional, se algo der errado, não tem de quem cobrar. Como tudo na vida tem os dois lados, triste demais por um pois também não estar ativamente executando foi desanimador, quem atua nessa área faz muito mais por paixão do que por qualquer outra coisa, é um sentimento de vazio, os sábados não são os mesmos desde que tudo isso começou, mas também foi bom, muitos inclusive eu, precisávamos olhar um pouco para nós, para nossa empresa, nossa família. Acredito que o pior já passou e muito em breve voltaremos a realizar sonhos e festejar com grande alegria.

Durante o período de isolamento, como você fez para se manter?
Dei alguns cursos online de atualização de mercado de eventos para quem já atua no mercado e também curso básico para aqueles que desejam ingressar nessa área, também prestei algumas consultorias para fornecedores que desejaram dar um upgrade em suas redes sociais, posicionamento, conteúdo assertivo, etc., tudo online.

Como tem sido a retomada dos eventos? Quais as mudanças precisaram ser feitas?
Gradual, muitos optaram por adiar para 2021. Outros, porém, irredutíveis, optaram por arriscar. As mudanças são pontuais, o que descaracteriza uma boa festa brasileira, tais como: apenas 60% da capacidade do local, isto é, contando convidados e fornecedores envolvidos, apenas de 4 a 5 convidados por mesa, estes devem ser da mesma casa, todos de máscara, medir a temperatura de todos que estiverem no evento, não pode haver pista de dança, nem mesa de buffet exposto, bem como os docinhos, essa parte de alimentação deve ser estilo à francesa, quando o garçom serve os convidados individualmente nas mesas de convidados e no máximo 3 horas de evento sendo 1h de cerimônia e 2h de festa. Também pudera! Uma festa parada, chata e tensa desse jeito não tem como durar muito né? (risos) O problema é que a teoria é linda, mas infelizmente quem está executando eventos nesse período não está respeitando as normas, na verdade é um dominó, a cerimonialista até pode orientar, mas muitas vezes o cliente não aceita as orientações, fornecedores que precisam trabalhar, e aí seja o que Deus quiser, estou vendo vários eventos com pista de dança e festa rolando até tarde como se não houvesse uma pandemia. Aí vai da consciência de cada um. 

Desde a flexibilização da quarentena, você já fez algum casamento?
Não fiz e não sou a favor de fazer. Por sorte eu costumo dizer que tenho as melhores noivas, quero dizer, sonhadoras como as chamo carinhosamente, do universo, pois todas entenderam a gravidade que estamos vivendo e tiveram consciência que não é o momento de festejar. Isso vai passar e teremos sim, com certeza, muitos motivos para nos alegrar não só com o casamento, mas com as festas de aniversário, enfim, tudo na sua devida hora, pois algumas colegas da área já fizeram e todas elas foram unanimes em me dizer que por mais cuidado que os fornecedores tenham, ainda existe um clima de pesar no ar, sem contar na preocupação com os nossos, porque os convidados podem estar acostumados a conviver, porém nós não estamos acostumados a convivência com eles, e aí nos colocamos em risco. Evento já é uma caixinha de surpresa e ter mais essa para se preocupar, acredito que além de irresponsabilidade, é desnecessário a exposição. Para as pessoas que não aceitaram o adiamento, lamento a falta de empatia.

Quais são as tendências no mercado de casamentos nesse período de pandemia?
Não só nesse período mas como no pós-pandemia será com certeza o mini wedding, ou como os especialistas vem chamando boutique wedding. São pequenos casamentos, com no máximo 60 pessoas, uma cerimônia mais restrita e uma festa mais enxuta, porém totalmente decorada e projetada especialmente de acordo com o perfil do cliente. Uma festa com menos convidados você pode se dar ao luxo de oferecer mais nobreza e requinte já que você acaba gastando menos na quantidade e investindo mais na qualidade, por exemplo, se fizer uma festa para 150 pessoas você calcula essa quantidade vezes o valor básico de um buffet, uma margem de R$ 110,00 por pessoa, total de R$ 16.500,00. Agora faça vezes 60, total R$ 6.600, olha a diferença! Com R$ 10 mil você investe em outros detalhes, pequenos mimos que fazem a diferença, com um chinelinho para as mulheres, um cantil personalizado para os homens, itens que se multiplicar o valor individual por 150 pessoas encarece demais e aí não dá para fazer, quem tem condições até faz algo bacana, mas nada comparado a uma recepção mais minimalista e animada. Cá entre nós, não tem nada mais chique que uma festa mais seletiva, afinal, os melhores churrascos com certeza não foram com 150 pessoas, certo? Temos que festejar com quem passa os perrengues da vida com a gente, convidar parente só porque é parente, é desperdício inclusive de dinheiro. Engana-se também que uma festa mais personalizada e intimista não é animada, com menos convidados, você pode investir em atrações extras como spa dos pés, uma pista de dança personalizada e uma estrutura totalmente moderna e inovadora.

Antes da pandemia, como estava o mercado da sua área na região?
Incrivelmente aquecido. Na verdade o ramo de eventos é sempre muito aquecido, o povo brasileiro adora uma festa, uma aglomeraçãozinha (risos). De acordo com a última pesquisa (2013) da Associação Brasileira de Empresas e Eventos, o setor movimentou cerca de R$ 209 bilhões por ano, e respondeu por 4,3 do PIB brasileiro, então quando a crise financeira bate na porta, a gente procura alternativas que vão caber no orçamento mas sem deixar de festejar, sem contar que existem fases, tem momentos em que os eventos sociais estão mais em alta como os casamentos nos meses de abril, setembro, outubro e novembro, aí em dezembro, março, junho, julho os eventos corporativos ganham espaço. Acredito que de um modo geral a pandemia foi algo que deu uma desacelerada mas que com o fim dela, o mercado volta a decolar, já é notável que terá tudo para ser uma área promissora, na minha empresa, nos últimos dois meses a procura por orçamento para casamentos em 2021 e 2022 foi maior que comparado ao ano passado.