Dia Internacional da Amizade entre Brasil-Argentina sob o olhar “ituano”

Na segunda-feira (30/11) foi celebrado o Dia Internacional da Amizade Brasil-Argentina e, para comemorar a data, o Periscópio esteve em contato com um argentino que mora em Itu para falar como é sua vida no país, bem como adaptação. O representante comercial Sérgio Gamboa, nascido em Buenos Aires, é casado há 22 anos com a brasileira Suzi Nunes Gamboa, professora de espanhol e mora na cidade desde o ano de 2011.

O argentino é conhecido na cidade como Conca ou Serginho e teve uma boa primeira impressão de Itu. “Não queria ter uma mudança para São Paulo e achava Itu muito aconchegante, charmosa. O fato da família da minha mulher se mudar para Itu facilitou as coisas e, em 2011, depois de uma série de acontecimentos, decidi vir para cá”.

“Graças a Deus foi muito fácil a minha adaptação, hoje jogo tênis e futebol. Comecei  a praticar esses dois esportes, que já fazia na Argentina, e isso foi muito bom, porque fez com a que minha adaptação fosse rápida e muito boa, fiz muitas amizades. Gosto muito de morar aqui, sou muito grato a Itu, ao Brasil e a tanta gente que conheci nesse tempo”, comenta o representante comercial, que possui dois filhos: Nicolás e Tomás, ambos nascidos na Argentina.

Itu também conta com frutos da relação Brasil-Argentina. É o caso da diretora de interatividade Ana Beatriz Sioli, filha da brasileira Maria de Lourdes com o argentino Dante Luís (ambos já falecidos). Bia como é mais conhecida, comenta sobre a constante presença dos países em sua vida. “Sempre estiveram presentes na nossa casa, sangue, música e, principalmente, na nossa mesa. Num duelo pessoal e inevitável sobre futebol e política, a animosidade nunca se criou”.

“Em Copas do Mundo, aí sim, momento de brigas e muita tensão de ambos os lados. Na cozinha, meu pai jogando ‘catiça’ nos ‘brazucas’ e o resto da família torcendo na sala em silêncio, para não arrumar encrenca. Minha mãe se encarregava de garantir o clima no ambiente, mesmo quando os ‘hermanos’ perdiam”, recorda. “Vivemos nossa infância entre empanadas e coxinhas, milongas e MPB, Pelé e Maradona e viagens intermináveis de carro a Moron (cidade na província de Buenos Aires), ouvindo Rita Lee e seu bendito ‘Banho de Espuma”’, acrescenta.

“Moro no Brasil, com metade da família argentina e a outra metade daqui. Tenho irmã argentina, irmão nacionalizado e sobrinhas com dupla cidadania. Nunca senti, mesmo depois de adulta, a rivalidade que tanto se fala entre os dois países.Talvez por que já esteja “acostumada” com o modo único dos portenhos de ser”, reforça Bia. “A amizade entre os dois países deve ultrapassar fronteiras, unir forças, propiciar novas e ricas experiências, respeitar as diferenças culturais. São dois países tão ricos, tão próximos. Tanto para trocar e aprender”, destaca Bia.

Nem só de argentinos ou descendentes deles é que se faz a relação Brasil e Argentina em Itu. Existem também pessoas como Ana Paula Sbrissa que, sem qualquer parentesco com argentinos, nutrem verdadeira admiração pelo país vizinho. A especialista em Gestão de Projetos Culturais e Eventos, com atuação na área de Museologia, explica o carinho pelos ‘hermanos’. “A minha primeira viagem à Argentina foi em 2006, uma visita técnica da faculdade à Buenos Aires. E foi amor à primeira vista pela cultura e estilo de vida argentino”.

“Fizemos o roteiro turístico básico, mas foi o suficiente que havia muito a ser descoberto naquela cidade. Os ‘hermanos’ foram receptivos e cada lugar visitado ou prato degustado alimentava o desejo de voltar e conhecer mais sobre aquele lugar e aquelas pessoas. Assim, retornei em 2011 e 2015”, comenta Ana Paula. “A partir dessas viagens me aprofundei na gastronomia, adoro cozinhar, na música e na literatura. E assim, me apaixono cada vez mais pela Argentina”.

“Os argentinos são orgulhosos do seu país e da sua história, e como entendem a política do passado e do presente – independente, se são situação ou oposição. Todos são bem informados e fazem questão de lembrar marcos da sua história, por mais dolorido que seja, como por exemplo, a Ditadura Militar.”

“A formação política e histórica é um elemento que admiro nos argentinos e nós brasileiros deveríamos aprender como eles essa lição. O espírito combativo e questionador também é admirável. Que a rivalidade exista apenas entre as quatro linhas do campo, e a amizade sirva de inspiração para aprendermos como eles a lidar com as dores e as alegrias, valorizando e respeitando a história e a cultura”, conclui.

Maradona no Ituano?

Ainda sobre os argentinos em Itu, o mais famoso deles teria sido sondado para viver na cidade. Em 1998, pelos menos no papel, Diego Armando Maradona esteve perto de vestir a camisa do Ituano Futebol Clube. O presidente do Ituano na época, Francisco Fernando Vieira, chegou a anunciar, em coletiva, que Maradona vestiria a camisa do Ituano. Veio Tiba. Maradona, que havia jogado pela última vez oficialmente em 1997, seguiu com sua aposentadoria.

Na época, em uma estratégia de marketing, o então presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo José Farah, anunciou que a entidade contrataria grandes nomes do futebol e repassaria aos clubes. Isso criou mais problemas que soluções.

A ideia era a Federação, de certa forma, bancar a contratação ou os salários e Farah entendia que isso seria um “chamariz” para o futebol paulista ter mais qualidade e visibilidade. Dentre os grandes nomes, – sem querer menosprezar quem quer que seja – vieram o polonês Piekarski (Mogi Mirim), Valdeir (Inter de Limeira), Cássio (Guarani) e Almir (também Guarani), entre outros.

Alguns se destacaram, como Carlos Miguel (São Paulo), Nildo (Portuguesa Santista) e Evair (Portuguesa de Desportos). O Ituano, cujo presidente sonhou com Maradona, recebeu Tiba, vindo do Corinthians. O jogador, que passou a maior parte da competição no banco, marcou um gol no último jogo do turno.