Em Salto, Rio Tietê é tomado por água preta

Coloração escura do Rio Tietê afeta o meio ambiente em cidades ribeirinhas, afirmou vice-prefeito de Salto (Foto: Edemilson Santos/Divulgação)

No último domingo (29/08), a população de Salto e região se espantou com a coloração escura da água do Rio Tietê. “Parecia petróleo”, diziam diversos moradores através das redes sociais. O fato preocupou também as autoridades municipais.

“Assim como em 2014, neste domingo o Rio Tietê em Salto amanheceu com a lama negra, oriunda da abertura de comportas na capital após as chuvas. Todo o lodo do fundo do rio é arrastado e segue para as cidades ribeirinhas, afetando todo o meio ambiente”, declarou o vice-prefeito saltense, Edemilson Santos (Podemos).

Segundo ele, a Secretaria do Meio Ambiente está acompanhando o caso e acionou a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), assim como órgãos estaduais, pois novamente a cidade de Salto fica com os prejuízos. “A equipe está monitorando as consequências com possível mortandade de peixes”, prosseguiu.

Edemilson esteve no rio com membros da Secretaria de Meio Ambiente e constatou a existência de peixes mortos. “Infelizmente já tem muitos peixes mortos na foz do Córrego do Ajudante. Lamentavelmente poderá ocorrer a mesma situação de 2014 com toneladas de peixes mortos”, afirmou o vice-prefeito.

Segundo especialistas ouvidos pelo Portal G1, a tonalidade da água indica a presença de lama e sujeira. Com a chuva registrada no Estado no fim de semana, as barragens de geração de energia na cidade de Pirapora do Bom Jesus/SP precisaram ser abertas para evitar inundações. Com isso, a lama que estava represada há meses “desceu”, o que deixou a água com a tonalidade mais escura.

Criminoso

Segundo o INEVAT (Instituto de Estudos do Vale do Tietê), a lama descarregada no Rio Tietê neste domingo foi liberada “criminosamente” pela EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) através do túnel de fundo da barragem de Pirapora, obra construída aproximadamente em 1995, seis anos após a aprovação da Constituição do Estado de São Paulo (1989).

O engenheiro geotécnico Ismar Ferrari, coordenador técnico do INEVAT, informa que o artigo 208 dessa Constituição proíbe ações de poluição nos rios de São Paulo. “Assim, essa obra poluidora foi construída sem respeitar a Constituição do Estado”, afirma.

Ferrari também diz que em 2015, e também em todos os anos que se seguiram a conclusão do túnel, que não teve Estudo de Impacto Ambiental obrigatório por lei, o rio recebe essa lama altamente venenosa que acarreta prejuízos à economia, meio ambiente, saúde da população das cidades do Médio Tietê. “Nessa ocasião a Cetesb avaliou as causas desse problema e apontou a origem desse lodo na descarga dos túneis de fundo da barragem de Pirapora”, diz Ferrari.

O especialista ainda informa que, na ocasião, a Cetesb determinou que o Governo do Estado deveria dragar esse lodo altamente venenoso, promover a contenção do mesmo em depósitos apropriados fora do reservatório e executar tratamento até recuperá-lo.

“Em seguida aplicou multa pesada sobre a EMAE, responsável pela liberação do lodo. A empresa se recusou a pagar, enquanto que nenhum governante tomou iniciativa de retirar o lodo acumulado no fundo do reservatório. Ao invés disso retiram lodo no canal do rio Pinheiros”, finaliza o engenheiro.