Espaço Acadil: À Janela

Poeta Sidarta Martins
Cadeira Nº 20 I Patrono Luiz da Silveira Moraes          

Estou aqui, parado em frente a esta janela no 11º andar de um apartamento encantado. É uma visita a duas amigas queridas, a primeira depois do “caos” da pandemia.

São várias janelas, com vista para a Cidade de Itu. Poderia ser qualquer cidade ou povoado, em qualquer parte do Planeta.

O Sol se põe e chega a noite, trazendo as luzes da ribalta, aos nossos pés.

É uma visão maravilhosa das infinitas linhas de luzes das milhares de casas e, hoje, dezenas, talvez centenas, de prédios. Um espetáculo de encher os olhos.

Me pergunto quais são as conversas e preocupações humanas que se desenrolam neste emaranhado de luzes. Afinal, essas luzes nos falam da história de uma cidade e, também, da história das pessoas, Seres Humanos, reflexos do Divino, que habitam esta cidade.

Os sorrisos e as lembranças de infância se misturam com os sonhos e planos futuros, as tristezas pelas perdas, antigas e recentes, se contrastam com as tantas e quantas conquistas que construíram o presente e se tornaram o alicerce para realizações das gerações futuras.

Neste exato momento pais, mães, irmãos, primos, primas, amigos de longa data, se despedem ao portão, se abraçam e prometem se encontrar “em breve”. Outros choram pelo “breve” que não foi possível, pelas conversas sem final, pelas promessas não cumpridas, pelas histórias que ficaram pelo caminho.

Ali, aos nossos pés, a história da existência humana, a história de uma civilização que se diz civilizada.

Ali, aos nossos pés, a vida nua e crua, tal qual ela é, acontecendo, se transformando, se remendando, se arrastando, resistindo ao tempo e às nossas quimeras.

Ali, bem aos nossos pés.

Então reflito, como tudo isso poderia ser diferente.

Nossas alegrias e conquistas poderiam ser divididas, nossas tristezas e tropeços poderiam ser compartilhadas.

Digo a mim mesmo que a jornada seria mais leve, enfrentaríamos as tormentas com mais confiança.

Num relance elevo meu pensamento a Deus. Agradeço por estar ali, agradeço por poder contemplar aquelas luzes e por ter passado intacto pela tormenta que se abateu sobre o Mundo.

Sinto pelas perdas, pelas famílias desfeitas, mas agradeço por ter chegado até aqui e pelas famílias que continuarão seu caminho, graças à conquista da ciência, graças à aceitação do que nos foi dado pela Graça Divina, que nos permitiu reagir rapidamente e evitar uma catástrofe maior.

O Mundo, bem ou mal, continuará sua jornada em busca da realização da Criação Divina.

Sei que estamos ainda no começo, então peço a Deus paciência com seus filhos, ali, naquele emaranhado de luzes, permeado pelos pontos escuros.

Mas, feliz, observo que a Luz vence a escuridão.