Está decretado o fim do voto secreto?

Por Moura Nápoli*

A eleição de 2018 – principalmente em termos de presidente – foi sui-generis. Acredito que nunca antes o pleito mobilizou tantas pessoas conhecidas e tantos anônimos, principalmente pelas chamadas redes sociais, procurando mobilizar familiares, parentes, amigos e até mesmo desconhecidos em favor a este ou aquele candidato.

Ao mesmo tempo em que foi legal, foi desgastante. Chegou a ser irritante. As redes sociais foram inundadas, entulhadas de provocações, baixarias de toda espécie e – pasmem – até de algumas propostas de governo!

Ao que parece, essa será a nova tendência. Vide o candidato vencedor Jair Bolsonaro, que dispunha de meros e mirrados oito segundos de tempo na televisão e se utilizou do tempo livre de Facebook, WhatsApp e outros para mobilizar milhões de eleitores, decretando, mesmo sem querer, o fim da era rádio-televisão como grandes influenciadores da opinião pública.

O lado positivo é que, com as redes sociais, não há mais limites para a comunicação de massa. O lado negativo é que, com a chegada desse novo meio de comunicação, foi criado o chamado fake news (ou seja, as notícias falsas), que além de não colaborar em nada para construir, pode ser fatal para destruir. Fake news é crime!

O mais triste e preocupante que se verificou nesta eleição de redes sociais é que as pessoas acabaram se expondo desnecessariamente. O que antes poderia ser uma discussão de esquina, de bar, ou salão de cabeleireiro, com uma roda de amigos falando sobre política, passou a ser escancarada para centenas, às vezes milhares de seguidores. Na verdade, no mais das vezes, um festival de baixaria.

Quanta mentira… Quanta baixaria… E quantas pessoas acreditando nos mais diversos absurdos, chegando ao ponto de se ver amizades perdidas, discussões idiotas e abertas a quem quiser ver. Eu, particularmente, passei os últimos meses recebendo enxurradas de material de prós e contras esse ou aquele candidato, como se eu não tivesse a minha própria opinião e como se eu – tal qual um idiota – fosse me influenciar por uma mentira aqui, outra acolá…

O voto, no Brasil, deixou de ser secreto. Isso começa a partir do momento em que você pode votar com a camisa do seu candidato e agora com a liberdade das redes sociais… Isso é bom? Isso é mau? Até que ponto?

 

* É jornalista do Periscópio.