Fabio Steinberg: a pandemia atrapalha ou ajuda o Turismo em Itu?

Sim. Eu, você e todo mundo estamos cansados de conviver com este tal de coronavírus. Mas o efeito colateral da pandemia são pessoas comuns que, do nada, acham que se tornaram os maiores especialistas no assunto. Se antes só davam opiniões sobre futebol e política, agora fazem recomendações de tratamentos miraculosos para evitar a contaminação. Em qualquer lugar há destes especialistas, com fórmulas mágicas e soluções infalíveis para o combate ao inimigo atual da humanidade. 

Mas o pior é quando estas profecias de araque chegam aos prognósticos. Há um contraste surreal. De um lado, os mais gabaritados profissionais de infectologia, biologia e saúde lutam para entender o problema e encontrar uma forma eficiente de imunização. Mas de outro, falsos profetas, sem base científica ou dados, projetam hipotéticas retomadas. Fazem de conta que as coisas já estão sob completo controle. Neste segundo grupo, misturam-se governantes e governados, que oscilam entre oportunistas, palpiteiros, bem-intencionados, incrédulos e ingênuos. Vendem um futuro garantido, mas na prática caminham sobre um pântano de incertezas.

O Turismo não está imune a esta situação. Justamente por operar sobre o imaginário das pessoas, que sonham com um lazer seguro em destinos que são objeto de desejo, torna-se suscetível ao jogo “me-engana-que-eu gosto”. Seria divertido, se não fosse trágico, ver tanta gente falando em retomada do Turismo, como se fosse apenas uma questão de cronologia e programação. Ora, não é bem assim. O Turismo nunca mais vai ser igual a antes. Seja por receio de nova onda de contaminação, falta de dinheiro no bolso na pós-crise, ou alternativas tecnológicas, como viagens virtuais. 

Isto não quer dizer que o Turismo acabou. Mas, com certeza, será bem mais seletivo. Difícil imaginar nos próximos anos eventos culturais com grandes multidões, mega cruzeiros com mais de 5 mil passageiros se esbarrando uns nos outros, ou aviões sem espaço tipo sardinhas em lata. No lugar, vamos observar o crescimento da segmentação. É mais fácil imaginar viagens de pequenos grupos que compartilham interesses comuns com protocolos sanitários mais rígidos que antes. No novo cenário, nem todo mundo perde. Por exemplo, esta é uma boa notícia para a Ecologia e Sustentabilidade do Planeta. É possivelmente o fim do turismo predatório ou em massa. Será que o excesso do overtourism está com os dias contados? Aliás, desaparece em boa hora, pois estava destruindo cidades, geografias e qualidade de vida dos moradores de destinos badalados. 

Neste contexto, há uma oportunidade de ouro para cidades como Itu. Por quê? Na pós-pandemia os brasileiros não só devem ficar com pouco dinheiro para viajar para o exterior, como não serão aceitos nos Estados Unidos e Europa. Além disso, com medo de novos surtos de contaminação longe de casa, devem optar por destinos mais próximos. E Itu não só fica no Estado, mas apenas uma hora do maior centro emissor de Turismo do país, que é a cidade de São Paulo.

Mas esta janela não se abrirá sem mais nem menos. A cidade precisa se reposicionar, e concentrar energias e recursos para melhor explorar seus potenciais. Há algumas regras que deram certo em destinos bem sucedidos, tanto no Brasil como no mundo. 

Primeiro: identificar quais os verdadeiros diferenciais da cidade e o que a distingue de outros destinos similares. Ou seja, o que justificaria alguém visitar Itu, e não outro lugar? Segundo: entender e praticar a essência do Turismo, que é atrair visitantes, e gerar renda para a cidade. Aqui mora o perigo. A maioria dos destinos peca por realizar eventos, alguns até bem-sucedidos, mas voltados a agradar os próprios moradores. Terceiro: não só exercitar o planejamento, com metas quantificáveis, estratégias, táticas e definição de responsabilidades, como desenvolver um sistema de mensuração que permita cobrar resultados tangíveis e com regularidade. E quarto, e talvez o mais importante dos quesitos: entender que Turismo não é atividade exclusivamente governamental. Pelo contrário. Cabe à iniciativa privada, que é a principal beneficiada nos negócios pelo fluxo de turistas à cidade, organizar-se para melhor explorar oportunidades.

Associações locais fortes de Turismo ganham músculos para cobrar políticas públicas do governo, assim como atrair novos empreendimentos. E governos se beneficiam dos impostos e melhoria da renda da cidade. Forma-se assim um círculo virtuoso de crescimento. Há boas experiências neste sentido no Brasil, como Olímpia e Holambra, em São Paulo; ou Bonito, no Mato Grosso do Sul.

O que falta fazer então? Com a palavra, empresários e governo de Itu. 

Fabio Steinberg jornalista e autor, mora em Itu e edita o site www.turismosemcensura.com.br.

Um comentário em “Fabio Steinberg: a pandemia atrapalha ou ajuda o Turismo em Itu?

  • 01/08/2020 em 14:19
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    Que pensamentos curtos heim?. EUA e Europa não aceitarão brasileiros? De que planeta é este sujeito?

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