FOGÃO À LENHA

Para muitos o fogão à lenha ou fogão caipira como é conhecido não faz o menor sentido. Todavia os fogões à lenha são mais utilizados do que se pensa, principalmente nos estados de Minas Gerais, São Paulo e em todo o sul do país.

Quando éramos crianças a lenha era despejada pelos carroceiros nas calçadas. Eu e meu irmão ficávamos encarregados de carregá-la para dentro, utilizando-se de sacos de estopa e era comum ganharmos estrepes nas mãos. O litro de leite era deixado na porta e precisava ser fervido para eliminar as bactérias. Colocado num canecão sobre o fogão à lenha o leite (muito gordo) precisava levantar fervura três vezes, para eliminar as bactérias. O café com leite quando colocado na xícara formava nata na superfície o que para mim era nojento. Eu e meu irmão ficávamos enrolando até minha mãe retirar a nata com uma colher ou pegar o chinelo do meu pai.

Além do leite e do pão, uma pedra de gelo era deixada em nossa porta pela manhã. Eu era encarregado de quebrar a pedra em duas com uma machadinha para caber na pequenina geladeira. Ela possuía duas portas, a de cima recebia o gelo e a de baixo, alimentos e bebidas. Funcionava como uma geladeira portátil de isopor. A marca era Esteves. Curiosamente, em São Paulo, trabalhei com uma neta desse fabricante.

Em casa minha mãe logo cedo acendia o fogo e para isso já deixava, na noite anterior, o fogão com achas (lenha rachada) e jornais para facilitar o acendimento. Quando a lenha estava úmida era difícil acender o fogo, mesmo abanando. O fogão possuía um sistema de serpentinas (canos de cobre) que aquecidos no fogão levavam água quente para o banheiro. Era um banho sem o menor conforto pois a água ora aquecia demais, ora esfriava. Nas residências havia o hábito de manter sobre o fogão um bule de ágata, geralmente descascado, com café adoçado.

Depois de alguns anos surgiu o fogão a querosene. Minha mãe insistiu e meu pai comprou um daqueles, não sem antes instalar o nosso fogão à lenha num quartinho que havia no quintal e que por diversas vezes foi aceso para suprir as deficiências do fogão a querosene. O diabo do fogão a querosene (precisava ser bombado para dar pressão) exalava cheiro de gasolina e não raro o odor que dele desprendia impregnava a comida. Meu pai detestou e voltou o fogão à lenha.

Até hoje o fogão à lenha ainda habita muitos lares brasileiros e são encontrados junto a churrasqueiras e fornos à lenha nas áreas de lazer. Há muitos hotéis, bares e restaurantes que utilizam-se desse artefato como atração turística, levando muitos clientes a procurá-los por associar a comida feita ali como sendo a mais saborosa.

Faço um convite: – que tal uma caipirinha gelada, um leitão pururuca com gotas de limão e pimenta malagueta, arroz branco, virado de feijão com torresmos e doce de abóbora como sobremesa, tudo cozido num fogão a lenha?

– Bom apetite!

 

Guilherme Del Campo

Cadeira nº11 I Patrono Mario de Andrade