Hereditário

Por André Roedel

Tenho lido pela internet afora que Hereditário é o melhor filme de terror do ano, e um dos melhores dos últimos tempos. Não sei se diria tanto – lembrem-se que há pouco tempo foi lançado o incrível Um Lugar Silencioso  e tivemos Corra! e tantas ótimas obras do gênero – mas o lançamento distribuído pela Diamond Films no Brasil é uma grande obra e vai marcar o gênero.

Hereditário fala, como bem descrito no título, sobre hereditariedade. Sobre problemas e maldições passadas de geração em geração na família Graham. O filme começa logo de cara com o velório da matriarca, a avó coberta de mistérios e segredos, e como sua filha (Annie, vivida por Toni Collette) e netos passam a lidar com essa perda.

Usando do meta-terror, o filme independente passa a falar sobre luto e doenças psicológicas – e o perigo delas caso não sejam tratadas. Annie é sonâmbula e sofre de transtornos de humor. A filha mais nova, Charlie (interpretada pela promissora Milly Shapiro), é reclusa e não aceita bem a morte da avó. Já o filho Peter (Alex Wolff) lida melhor com a perda, apesar de sentir uma presença estranha. Entre eles, o pai Steve (Gabriel Byrne) tenta ser o conciliador de todos os sentimentos.

Repleto de simbolismos, Hereditário vai mudando de tom ao longo das duas horas de duração. Vai deixando de ser um meta-terror para se tornar um terror mais tradicional, com possessões e espíritos. A transição, apesar de confundir a cabeça do espectador mais incauto, foi muito bem preparada pelo diretor e roteirista Ari Aster, que debuta em um longa-metragem. Toda a condução das cenas, usando uma fotografia escura e com tomadas que não apelam para os “sustinhos”, beira a primazia, transpassando uma tensão que deixa aquele clima de medo puro na sala de cinema.

Com momentos bizarros e totalmente inusitados (uma das cenas choca de tão inesperada), Hereditário instiga quem assiste do começo ao fim. O final, aliás, totalmente aberto, é um deleite para fãs de boas obras de terror não-convencional, que não se sustentam nos jump scares e não subestimam a inteligência dos espectadores.

Descrever mais sobre a trama é estragar totalmente a experiência, mas a dica que deixo a quem vai assistir é ir com a cabeça aberta e preparada para um filme perturbador, mas com grande refinamento técnico. A minha reação enquanto assistia ao filme era semelhante da quando vi A Bruxa, outro longa de terror da mesma leva. Só que a diferença é que Hereditário foi crescendo e fazendo eu pensar mais e mais em sua conclusão (será mesmo uma conclusão?). Enfim, cada cena do filme faz valer o ingresso.

 

Nota:

 

 

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