Maria do Carmo Piunti: “Quero ser uma vereadora do povo”

Única mulher no Legislativo ituano nos próximos quatro anos, vereadora eleita falou ao “Periscópio” sobre como será seu trabalho

dsc03705

André Roedel /Foto: Ana Luísa Tomba

Maria do Carmo Piunti (PSC) terá um grande desafio a partir de 2017: ser a única mulher na Câmara de Vereadores de Itu. A experiente ex-deputada estadual, hoje com 62 anos, já ocupou uma das cadeiras do Legislativo ituano (entre 1983 e 1986), inclusive sendo presidente da Casa, e agora vive mais um desafio na política. Com 1.844 votos nas eleições deste ano, ela foi a quarta mais bem votada.

Em entrevista concedida ao “Periscópio” na última quinta-feira (20), a vereadora eleita fala sobre a responsabilidade de ser apenas ela a representar as mulheres ituanas, como será sua atuação na Casa de Leis e quais são os planos para o futuro. Confira:

JP: A que a senhora credita a expressiva votação, principalmente na região do bairro Cidade Nova, sendo que sua campanha foi pequena nesta eleição?
Realmente eu fiz uma campanha bastante modesta, porque eu não dispunha de recursos e porque também não era esse o meu objetivo, de fazer uma campanha artificial, digamos assim. Então eu fiz uma campanha dentro daquilo que eu podia fazer. Eu credito os votos às pessoas que entenderam que seria importante meu retorno à política. Penso que seja isso o que as urnas quiseram me dizer. Por aquilo que eu já fiz, pela minha história, o trabalho que eu já pude desenvolver nos cargos que eu ocupei e porque eu acho que as pessoas entenderam que a gente tem alguma coisa a contribuir ainda para com a cidade.

JP: A senhora será a única mulher na próxima legislatura. É uma responsabilidade muito grande? E quais são as pautas que a senhora irá levantar em defesa da mulher?
Coincidentemente, quando eu fui eleita pela primeira vez vereadora, em 1982, eram 15 vereadores na Câmara e eu também fui a única mulher. Na época, inclusive, eu fui eleita presidente da Câmara, a primeira a ocupar esse cargo. E após esse período, nós tivemos várias legislaturas com pelo menos duas mulheres – o que poderíamos considerar um avanço, ainda que pequeno. Nessa legislatura infelizmente eu sou a única mulher. Eu gostaria que tivéssemos mais mulheres. Nós tivemos 30% de mulheres candidatas e elegemos menos de 10% da Câmara. E as políticas que eu pretendo desenvolver em prol das mulheres, até justamente visando que a mulher tenha mais participação, em primeiro lugar é nós garantirmos o direito de creche. Porque hoje ainda a responsabilidade maior de cuidados dos filhos é da mãe, é da mulher. E na medida que ela não tem onde deixar seu filho para ir trabalhar, não tenha uma creche, que ela possa ir trabalhar e ficar tranquila, ela não só vai deixar de trabalhar e deixar de ter renda familiar; ela não vai ter condição de participar da sociedade. Ela não vai ter condição de participar de uma reunião de bairro, de uma comissão na empresa que trabalha. Por conta disso também é reduzido o espaço dela na política. Então o primeiro trabalho, que eu pretendo focar muito, é a questão do direito de creche. Ampliar o número de creches na cidade. Eu acho que a cidade não tem creches suficientes, então temos que focar nisso. Ampliar, qualificar o atendimento.

JP: Além das creches, em que setor a senhora irá focar a sua atuação?
A questão prioritária em Itu hoje é a saúde. Tanto é que nesta terça-feira (18) eu estive, juntamente com o deputado Rodrigo Moraes (DEM) e o vereador eleito José Galvão (DEM), na Secretaria Estadual da Saúde em reunião com o secretário Dr. David Uip para levar a ele os principais questionamentos da cidade de Itu com relação à saúde. Porque hoje o atendimento de saúde nem precisamos nos estender muito nisso, porque é óbvio: o atendimento na área da saúde é muito precário. Por exemplo: nós estamos no mês de outubro. “Outubro Rosa”. Ótimo. Um mês por ano nós lembramos. E todas as mulheres estão conseguindo fazer mamografia esse mês? Essa é a pergunta que eu faço, porque até pouco tempo atrás a fila de espera era de quatro a cinco meses. Então se realmente você tem um câncer de mama, um câncer de colo de útero ou de ovário, cinco meses é um tempo muito grande para ficar esperando para ter um diagnóstico. Então a saúde é o foco principal.

JP: E como foi esse encontro com o secretário de Saúde?
O secretário ficou de fazer todo um levantamento para ver o que a Secretaria do Estado pode interferir – e vai interferir – na questão do Hospital São Camilo. E também nós pedimos a ele uma parceria maior para o próximo governo. Embora sejamos vereadores, nós estamos defendendo a cidade. Pedimos a ele (Uip) que possa estudar a possibilidade de recursos maiores para a saúde no município e ficamos de ter um retorno. Ele vai marcar uma nova audiência para nos dar retorno dos questionamentos que fizemos.

JP: Como foi essa volta para a política depois de tantos anos afastada?
O que a gente percebe é que em muitos aspectos a política mudou. Mas no meu caso, como disse no início, as pessoas que estavam recebendo o meu nome foram pessoas que fizeram isso pela minha história, pelas minhas propostas, por aquilo que eu já fiz e aquilo que pretendo fazer. Então eu fiz uma campanha da forma como sempre fiz, andando, visitando as pessoas e fazendo reuniões. Eu participei de muitas reuniões em empresas, escritórios, prestadores de serviço. Você citou o Cidade Nova; fiz várias reuniões lá. As pessoas me abriam as portas das casas para fazer reunião. Então o retorno foi como eu sempre fiz. Não tive que mudar a minha estratégia para me eleger.

JP: Sua volta à política pode ser considerada o retorno do “Piuntismo”?
Não sei se a gente pode ver dessa forma. Não sei se as pessoas colocaram dessa maneira. O que eu posso dizer e afirmar é que a Maria do Carmo Piunti está de volta (risos).

JP: Como será sua atuação na Câmara? Será oposição, situação ou neutra?
Eu não quero ser nem uma vereadora de oposição e nem uma vereadora de situação. Eu vejo que se o vereador é de oposição radical ao prefeito, quem perde é a cidade. A cidade perde muito e a gente já viu isso em outros mandatos. Então não serei uma vereadora de oposição radical. Mas também não serei uma vereadora da situação, porque quero ser independente. Quero ser uma vereadora do povo.

JP: Como é seu relacionamento com o prefeito eleito Guilherme Gazzola? A senhora já fez contato com ele após a eleição?
Ainda não tivemos um contato, mas eu entendo que nós teremos uma relação institucional, sim. Acho que o prefeito sabe, ele já foi do Legislativo, que precisamos governar todos juntos. Eu acho que todos nós, pelo menos de minha parte e do prefeito, estivemos em campanhas dizendo praticamente a mesma coisa: queremos reconstruir essa cidade. Então acho que teremos um relacionamento institucional, de Legislativo para Executivo, como eu disse pautando sempre as prioridades do povo de Itu.

JP: A senhora tem aspiração de ser novamente presidente da Câmara? E de se lançar candidata à deputada ou outros cargos maiores, como prefeita de Itu, novamente?
Nesse primeiro momento, não. Depois, a gente não sabe. Eu me candidatei a vereadora por sugestão de muitas pessoas que me abordavam desde o início do ano passado. Muitas até sugeriram para sair candidata à prefeita, mas eu tinha consciência do meu espaço político. Na medida em que eu fiquei fora tanto tempo da política, eu sabia que o meu espaço era menor. Então eu entendi que eu poderia estar na Câmara, que era um espaço que eu poderia conquistar, e que eu poderia ajudar a cidade, ajudar o povo, ser uma voz na Câmara. Então nesse momento o que eu gostaria era de ser vereadora mesmo, plenamente. Por isso que nesse primeiro momento eu não tenho aspiração de ser presidente da Câmara, porque a presidência exige um trabalho muito burocrático, formal.

JP: Como a senhora observou essa renovação quase que total da Câmara?
Eu acho que o povo deu a resposta. O povo mostrou o que queria. O povo queria uma renovação, uma mudança de verdade na cidade. Uma mudança de comportamento, na forma de agir dos vereadores. E por isso mesmo eu entendo que a nova Câmara tem uma responsabilidade muito grande, porque o povo de Itu depositou uma confiança muito grande.

JP: Como a senhora enxerga o cenário político municipal e nacional atualmente, com os políticos cada vez mais desacreditados?
Eu acho que em Itu a gente já começou a mudar um pouco com essa renovação da Câmara, com o prefeito eleito. Eu vejo que o povo já passou a ver os políticos de outra forma, tanto que deu essa renovada na Câmara e na Prefeitura. Quer dizer, nós não queremos mais os mesmos. Então eu vejo que o povo, a grande maioria, já está sabendo discernir quem está fazendo política de uma forma e quem está fazendo de outra forma. O povo conseguiu entender, pelo menos em nível de Itu.

JP: O impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a prisão do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha pode ser o começo dessa mudança?
Com certeza. Até antes do Eduardo Cunha ser presidente da Câmara, eu não tinha conhecimento da vida dele, da atuação dele. E ontem (19), acompanhando as reportagens, tivemos tantas informações e nós vimos que a prática dele de fazer política e até mesmo a chegada dele à presidência da Câmara foi uma prática nada republicana. Agora nós vimos a eleição do novo presidente da Câmara, que foi totalmente diferente. Eu acho que isso é um recomeço, sim. Devemos muito à Polícia Federal e à Operação Lava Jato.

JP: A senhora foi deputada por dois mandatos seguidos e depois a cidade ficou um tempo sem, até a eleição da deputada Rita Passos. A senhora acredita que ela manteve a mesma imagem de representante da população ituana?
Em primeiro lugar eu só quero retificar que, na eleição de 2014, nós tivemos o deputado Rodrigo Moraes que fez mais de 8 mil votos na cidade. Então eu o vejo como uma força da cidade hoje. Tanto é que a audiência com o secretário de saúde foi agendada pelo deputado e ele estava lá justamente por estar preocupado com essa questão da cidade. Então eu não vejo a deputada Rita Passos como única representante da cidade. Agora, se ela vai manter ou não aí é uma questão de decisão dela.

JP: E como esse contato com o deputado Rodrigo Moraes, e até com o pai dele, o deputado federal José Olímpio, pode contribuir para trazer recursos para a cidade?
Eles estão muito empenhados e muito dispostos a estar colaborando com a cidade. Eles já se colocaram à disposição, devem estar conversando com o prefeito eleito imagino que até o final do ano, porque eles querem, inclusive, colocar o mandato à disposição do prefeito eleito, por conta justamente dessa responsabilidade que eles têm para com a cidade, independente de quem seja o prefeito.

JP: Outra questão que é muito importante para a cidade de Itu, além da saúde, é a questão da água. A senhora tem alguma proposta de fiscalização nessa área?
O prefeito eleito defendeu a tese do retorno do SAAE. E nós também defendíamos essa mesma tese, porque eu vejo o seguinte: Sorocaba tem sua autarquia de água, Indaiatuba tem, Campinas tem, Salto tem. Todas as cidades têm. Não é possível que estejam todas erradas. Eu vejo que as coisas caminham, e não é possível que falte água só em Itu. O que nós vamos defender é o retorno do SAAE, da autarquia municipal. Porque sendo uma autarquia municipal, a fiscalização, como você falou, se torna muito objetiva. O vereador tem como fiscalizar, tem como saber os recursos que estão sendo investidos.

JP: Há três anos Itu sediou uma audiência pública a respeito do “lixo atômico”, como é conhecido o material depositado no Botuxim. A senhora irá continuar a lutar para a retirada do material?
Eu acho que nós temos que voltar a trabalhar nessa área. E trabalhar com seriedade, para que a gente possa dar um destino realmente correto. Porque não adianta a gente tirar daqui e jogar em Cabreúva, em Salto, em Porto Feliz, por exemplo. Isso, não. Nós queremos um destino correto. Se eles entendem que é um material que pode ter reaproveitamento, então que levem para algum lugar. Mas que tenha um condicionamento correto. Vejo que é uma questão que nós vamos ter que trabalhar, até porque esse lixo está em uma área de manancial.

JP: Para finalizar, o que o cidadão ituano pode esperar para esses próximos quatro anos da Câmara e da atuação da senhora?
Pelo menos da minha parte, pode esperar muito trabalho. Essa foi a minha bandeira. Eu vou me empenhar muito, vou me dedicar muito. E tenho visto de outros vereadores eleitos também essa mesma disposição, de trabalharmos muito.