Itu: temperatura alta é um dos fatores que causam surgimento de escorpiões

Reportagem do Periscópio recebeu vários relatos de animais que adentraram residências. Biólogo explica aumento nos casos e fala dos cuidados

Foto: MartVing/Shutterstock.com

Nas últimas semanas, o Periscópio recebeu via WhatsApp diversas reclamações de munícipes a respeito de escorpiões em suas residências. Os moradores alegam que os animais aparecem devido mato alto em loteamentos próximos às suas residências e também acúmulo de entulhos e lixos.

O biólogo Gilberto de Lucena, de 58 anos, é coordenador do Departamento de Controle de Vetores da Prefeitura de Itu há 25 anos e explica que os animais aparecem historicamente nesta época do ano no município devido às altas temperaturas e tempo seco, também alegando que não apenas Itu, mas o Estado de São Paulo inteiro está mobilizado e preocupado com a infestação de escorpiões.

“Os escorpiões estão aparecendo no Estado de São Paulo como um todo porque as cidades estão em franca expansão”, comenta o profissional, indicando que não houve aumento expressivo a ponto de ser considerada epidemia e hoje há mais divulgação sobre os casos, principalmente através da imprensa.

“Eles são extremamente resistentes e sensíveis à falta de água, então em épocas que são mais secas eles ficam mais agitados”, informa o biólogo, acrescentando que eles comem pouco e comem animais vivos, sendo comum o aparecimento em locais semi-ocupados e bairros mais novos, e que no inverno as notificações diminuem. “Começou a ficar muito seco, muito quente, o animal já se sente incomodado”.

Gilberto explica que o escorpião amarelo, o Tityus serrulatus, é o mais comum em 90% dos casos, tanto no município quanto em toda a região sudeste do Brasil, pois é um animal urbano. “Ele se adaptou bem à vida urbana e convive com o homem, embora essa convivência não seja muito desejada”. Esta espécie de escorpião, segundo o biólogo, é a mais perigosa porque o animal tem capacidade de se reproduzir sozinho – partenogênese –, não precisando de um macho para procriar, já que a própria fêmea se encarrega de reproduzir de duas a três crias por ano, cada cria gerando cerca de 15 escorpiões.

Casos em Itu em 2018

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, de 1º de janeiro de 2018 até o último dia 30 de novembro, foram atendidos 121 acidentes escorpiônicos. Desse total, 114 foram classificados como leves e sete como moderados (sendo que dois deles necessitaram de soro).

Nesse mesmo período, não houve registro de caso classificado como grave e nem óbito por acidente escorpiônico. A gravidade do envenenamento geralmente se manifesta dentro das duas primeiras horas do acidente, ou seja, o paciente grave já começa grave desde o início, apresentando precocemente inúmeros episódios de vômitos.

Os acidentes com os animais ocorrem porque eles são afugentados por alguma modificação naquele ambiente, seja demolição ou construção de casa, capina de mato, de grama, e eles se alojam em muros e frestas para ficarem abrigados da luz e do calor excessivo.

Lucena também explica que a picada do escorpião despolariza as ligações de sódio e potássio do organismo, causando muita dor, como uma picada de abelha, mas mais potente, podendo levar crianças, pessoas com imunidade baixa e idosos a óbito, e que a “potência” do veneno depende do quão alimentado o animal está. “Como todo animal peçonhento, quanto mais alimentado, menos potente será o veneno. É uma questão da natureza. A intenção dele não é nos matar, mas se defender”.

A orientação é que, em caso de acidente com escorpiões, seja feito contato imediato com a Central de Ambulâncias pelo telefone 192. Este serviço já é devidamente orientado e treinado para o atendimento desses casos, encaminhando os pacientes para o serviço de Pronto Atendimento Municipal mais próximo ao local da ocorrência do acidente.

Nesses serviços, os casos passam por avaliação médica imediata, onde são tomadas as devidas condutas de analgesia e encaminhamento para soroterapia, caso seja necessário. Todo paciente picado por escorpião deve permanecer em observação, mesmo os casos leves, recomendando-se pelo menos durante as três/quatro primeiras horas após a picada. Os casos moderados e graves devem ser observados em ambiente hospitalar.

Havendo necessidade de realizar soroterapia, os pacientes são encaminhados imediatamente ao Pronto Socorro do Hospital São Camilo, onde já existe referência formal de atendimento de casos graves de acidentes escorpiônicos não apenas para o município de Itu, mas também Salto e Porto Feliz.

Notificações

O biólogo ressalta que é necessário que a população, em caso de encontrar um escorpião em sua residência, notifique o setor de animais peçonhentos do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) – pelo telefone (11) 4023-4334 – e guarde o animal, para que a espécie seja identificada e analisada pelo departamento. “Nem todo mundo que se acidenta notifica e nem todo mundo que notifica se acidenta”, explica.

Não é recomendada pelo Ministério da Saúde a aplicação de inseticida pela ineficiência que apresenta dentro dos imóveis. “O inseticida não tem efeito permanente no ambiente. Você vai aplicar e ele vai matar aqueles que estiverem ali. O inseticida é sempre um complemento de uma atividade e não a atividade em si”, informa.

O profissional encerra comentando que o escorpião “não é um animal tão fácil de ser eliminado”. “Mente quem fala que vai conseguir acabar com ele rapidamente. Nenhum município consegue acabar sem a introdução de um programa, uma análise de aparecimentos e notificações, e, obviamente, atendimento aos pacientes acidentados”. (Gabriela Prado)