LENA E SUA BICICLETA

Minha maior amiga de infância foi a Lena, sem dúvida. Seu nome – Iria Helena – diferente, foi o único que eu conheci. Lena era magrinha, de cabelos longos, pretos e brilhantes, presos em duas tranças grossas que no final tinham um laço de fita. Ela odiava as tranças, mas não sei porque não soltava os cabelos ou nem os cortava curtos como os meus. Morávamos mais ou menos perto uma da outra e quase toda tarde andávamos de bicicleta até anoitecer. As bicicletas eram velhas, a minha “Singer” era modelo masculino (para ser usada também por meu irmão Célio). Um belo dia, Lena chegou em casa dizendo que Papai Noel lhe prometera uma bicicleta nova de marca “Monark”, que era o xodó do momento, principalmente porque o breque era no pé, uma grande mudança tecnológica!

Naquela noite pedi muito ao Papai Noel que mandasse também uma nova para mim…  Incrível como duas meninas de dez anos acreditavam ainda no bom velhinho! E ficamos esperando ansiosamente o Natal. No começo de dezembro o presente da Lena chegou e nós duas, na maior agitação, começamos a desmontar o invólucro do presente, montando como podíamos a “bici” Monark, vermelha reluzente, que foi logo ganhando a rua, mais precisamente o contorno do jardim da Matriz que era formado por laterais em descida e calçada com blocos de granito.

Eu dirigia e a Lena na garupa quando enfrentamos a descida mais acentuada do jardim. A bicicleta ganhou força e despencou ladeira abaixo. Tentei frear “no pé”, mas não consegui! No final entramos violentamente, eu, Lena e a bicicleta dentro da Sorveteria do Miguel Garofele e uma das tranças de Lena foi agarrada pela engrenagem da batedeira, que fazia os sorvetes e arrancou um monte de cabelo, até que foi desligada! Lena nunca mais entrou na Sorveteria, obrigou-me a segui-la e assim deixamos de saborear o delicioso sorvete – creme russo!

Maria de Lourdes Figueiredo Sioli

Cadeira nº 28 | Patrono Diogo Antônio Feijó