Menino de Ouro: confira entrevista com o nadador Marcelo Chierighini

Em 2015, Marcelo Chierighini foi destaque nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, se tornou sucesso nas redes sociais e passou a integrar o casting de uma poderosa agência de modelos. Em 2016, as atenções do jovem nadador de Itu estão voltadas para um único sonho: as Olimpíadas do Rio de Janeiro

Por Lucas Gandia / Fotos: Michel Cutaith

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Aos 25 anos, Marcelo Chierighini é um daqueles exemplos de que, com dedicação, sempre é possível correr atrás de um sonho – mesmo que este desejo seja descoberto um pouco “em cima da hora”. Nascido em São Paulo, o nadador passou a infância e a adolescência em Itu. E foi nas piscinas ituanas que ele deu as primeiras braçadas “sérias”, aos 17 anos.

Apesar do início tardio para um atleta profissional, o sucesso de Marcelo foi avassalador. Logo após os primeiros treinos na equipe de natação de Itu, o jovem já ganhou medalhas e bateu recordes. Não demorou muito para que o nadador chamasse a atenção do Esporte Clube Pinheiros, de São Paulo, que o contratou em 2008. Dois anos depois, Chierighini participou de seu primeiro Mundial, em Dubai, onde ganhou medalha de bronze ao lado de Cesar Cielo, Nicholas Santos e Nicolas Oliveira.

No currículo de Marcelo ainda há a participação nos Jogos Olímpicos de Londres (2012), nos revezamentos 4x100m livre e medley, além de diversas conquistas em outras competições. Aos olhos do grande público, o talento do jovem de Itu ganhou projeção durante os Jogos Pan-Americanos de 2015, disputado em Toronto. Na cidade canadense, Chierighini ganhou três medalhas: duas de ouro e uma de bronze.

Considerado um dos nadadores mais rápidos do mundo, o atleta mora há cinco anos na cidade de Auburn, nos Estados Unidos. Além de treinar diariamente nas piscinas, o jovem concluiu em 2015 seus estudos pela Universidade de Auburn, onde cursou Administração Pública.

Multitalentoso
Apesar de estar totalmente focado nas eliminatórias para as Olimpíadas deste ano, que acontecem no Rio de Janeiro, o nadador descobriu recentemente outro talento: as fotos. Em agosto do ano passado, Marcelo assinou contrato com a “Ford Sports”, a nova divisão da agência de modelos “Ford Models Brasil”. O objetivo é fortalecer sua imagem também fora das piscinas, para assim mergulhar no ramo publicitário e nas campanhas.

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Sucesso nas águas, nos estúdios fotográficos e nas redes sociais, onde é seguido por cerca de 20 mil pessoas, o jovem afirma vir a Itu cerca de três vezes por ano. Nessas raras ocasiões, o atleta aproveita para passear pelos seus pontos preferidos na cidade, além de matar a saudade dos amigos e familiares – em especial dos pais, Antonio Augusto e Flavia, e do irmão, Felipe.

Independente de acompanharem as competições de natação, os ituanos possuem um motivo a mais para torcer pelo sucesso do Brasil nas piscinas. De uma coisa todos nós temos certeza: ainda vamos ouvir falar muito de Marcelo Chierighini.

Como foi seu início nas piscinas?
Comecei a nadar muito tarde, aos 17 anos, por influência do meu irmão, Felipe. Comecei a me interessar mais pela natação na época do Pan do Rio, em 2007. Fiquei muito empolgado em ver os nadadores representando o Brasil e dando o máximo pelo país. Foi na mesma época que meu irmão me chamou para nadar com ele numa academia; ali comecei a descobrir que poderia ter um futuro como nadador.

Quando você decidiu transformar o esporte em profissão?
Meu irmão treinava em São Paulo com o técnico Felipe Domingues e comentou com ele sobre mim. Esse técnico pediu que eu fosse um dia lá para me ver nadando e ver se eu realmente tinha um futuro como nadador profissional. Então marcamos um dia e fomos lá. Ele disse que eu tinha um talento enorme e que queria me treinar, mas eu teria que me mudar para São Paulo e treinar todos os dias com ele. Decidi que era isso que queria da minha vida.

Foi uma escolha difícil?
Foi uma decisão difícil em termos de me mudar, pois São Paulo é uma cidade com um custo de vida muito maior do que Itu. Mas eu tinha certeza que era a decisão certa para se tomar.

Há cinco anos você treina na Universidade de Auburn, no Alabama. Como é sua rotina nos EUA?
Agora eu já estou formado, então minha rotina é mais tranquila. Mas quando estava estudando e treinando ao mesmo tempo era bem puxado, pois tinha que ir para o treino às 6h da manhã, logo depois ia para a aula e à tarde tinha treino novamente. E depois do treino da tarde ainda tinha que estudar mais. Hoje, treino na água às segundas, quartas e sextas de manhã, além de fazer musculação de manhã e de tarde. De terça e quinta faço somente musculação, no período da tarde. No sábado acontece o treino mais forte da semana, justamente quando já estamos esgotados. Então o domingo é nosso único dia livre.

Os treinos estão mais intensos devido à proximidade dos Jogos Olímpicos?
Não diria que estão mais puxados, mas nós e os técnicos nos cobramos muito.

Essa é a parte mais estressante da rotina de um atleta profissional?
Tem dias que acabo um treino totalmente esgotado, e no dia seguinte tenho que acordar às 6h para treinar mais. Algumas vezes eu acordo com o despertador, cansado e sem vontade de levantar. Mas faz parte da carreira.

Como são seus cuidados com a alimentação?
Tenho restrições, mas não gosto de ficar ‘bitolado’ na dieta. Procuro comer de forma saudável, é claro, mas sem neuroses. Se não for assim, vou ficar preocupado com qualquer coisa diferente que comer no final de semana, por exemplo. E isso pode mexer muito com nosso psicológico.

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A sua trajetória no esporte foi – e tem sido – meteórica. Você chegou a se assustar com a velocidade do sucesso?
Eu sei que tudo aconteceu muito rápido para mim, mas não chego a me assustar, pois sempre tive metas de curto e longo prazo. Sempre soube que a escada é muito grande e teria que passar por todos os níveis antes de chegar ao topo. E assim fui conquistando meus sonhos e objetivos.

Qual é a importância do apoio da família para os jovens que querem ingressar no esporte?
Isso é algo fundamental! Sem eles, tenho certeza absoluta de que não estaria onde estou agora. Em primeiro lugar, o apoio financeiro no começo da minha carreira e, depois, o apoio de família mesmo, pois todo atleta de ponta passa por momentos difíceis e, às vezes, fica difícil superá-los sem o apoio dos familiares.

Qual foi a conquista mais significativa da sua carreira?
Acho que foi quando ganhamos medalha de bronze no mundial de Dubai, em 2010, no revezamento 4×100 livre. Lá foi o meu primeiro campeonato internacional e nunca tinha nadado lado a lado com os melhores velocistas do mundo. Inclusive, nossa equipe de revezamento tinha Cesar Cielo, Nicholas Santos e Nicolas Nilo, nadadores que sempre foram minhas inspirações. Lembro que estava muito nervoso, pois eu era o mais novo do revezamento, mas todos me deram muita força e conseguimos pegar o bronze, ganhando até dos Estados Unidos. Foi show!

O seu desempenho nos Jogos Pan-Americanos de 2015, em Toronto, acabou chamando a atenção do mundo todo. Não demorou muito para você ‘bombar’ nas redes sociais. Como você lida com o assédio do público?
Eu acho muito legal todas as mensagens de apoio e de incentivo. Me dá ainda mais motivação para continuar treinando forte, pois eu já estive dos dois lados: sei como é torcer para atletas representando o Brasil e agora sei como é bacana estar lá nadando e recebendo todo o carinho dos torcedores brasileiros.

E o interesse da mídia pelo seu trabalho? Ajuda ou atrapalha?
Acho que não atrapalha, até porque, nos EUA, a mídia tem menos acesso aos atletas. Mas imagino que se ficassem muito em cima, principalmente nesta época, seria complicado. Este é o momento do ‘agora ou nunca’ para os atletas; até as pequenas coisas vão somando na cabeça da gente.

Recentemente, você assinou contrato com a renomada agência Ford Models Brasil. Quais são seus objetivos na carreira de modelo?
Meu grande foco agora é nas Olimpíadas. Nós firmamos uma parceria muito bacana com a Ford Sports, nova divisão esportiva da agência, onde eles podem explorar meu lado de modelo, mas sem tirar meu foco da natação. A agência entende muito bem isso, pois possui gente especializada no esporte. Eles sabem que o objetivo principal de um atleta é sempre um bom desempenho esportivo.

A beleza pode influenciar a trajetória de um atleta?
É um negócio legal, porque uma coisa puxa a outra. Eu dou meu melhor na natação – e esses bons resultados fazem com que as pessoas se interessem pela minha imagem. Isso pode abrir portas para a publicidade, então acho que as duas carreiras caminham bem juntas.

Neymar, Gabriel Medina e Cesar Cielo são exemplos disso…
Sim, e ainda temos outros nomes na natação. O Felipe Martins, um dos melhores nadadores do Brasil, também é modelo.

Qual é a importância da cidade de Itu para sua trajetória de sucesso?
Muito grande, pois comecei a fazer natação de verdade em Itu. Foi quando entrei para o time da cidade, comandado pelo técnico Marcelo Matiusso, antes de me mudar para São Paulo.

O que você gosta de fazer quando está por aqui?
Geralmente venho para Itu três vezes ao ano. Não é muito, mas quando estou na cidade gosto bastante de ir à pizzaria Max, ao Bar do Alemão e ao Container Sucos, para tomar um açaí.

Do que você mais sente saudade quando está longe?
Dos meus amigos e da minha família.

Quais são os preparativos e expectativas para as Olimpíadas deste ano?
Estou treinando mais forte do que nunca. Por enquanto, tenho índice para as provas de 50m livre e 100m livre, e estou na equipe provisória do revezamento 4X100m livre. As últimas seletivas acontecem entre os dias 15 e 20 de abril, e é lá que tudo vai ser decidido. Primeiro quero me classificar e, depois, tentar buscar uma medalha para o Brasil, que é o meu grande sonho.

(Beleza: Beto / Agradecimento: Academia Tem Esportes)

* Entrevista publicada na edição da revista “Vida Máxima” de abril de 2016