Mulher, negra e enfermeira da linha de frente é a primeira brasileira vacinada

Mônica mora em Itaquera com o filho de 30 anos (Foto: Reprodução)

Há oito meses, dia sim, dia não, Mônica Calazans, 54 anos, sai de sua casa em Itaquera, na zona Leste da capital Paulista, e leva cerca de uma hora e meia se deslocando até o trabalho no Emílio Ribas, hospital de referência para a Covid-19 na região central de São Paulo. Mônica é mulher, negra, enfermeira da linha de frente no combate à pandemia e atua na UTI da unidade que hoje possui 60 leitos e desde abril mantém mais de 90% de taxa de ocupação.

A enfermeira, primeira brasileira a ser vacinada contra a Covid-19 no Brasil, tem perfil de alto risco para complicações da covid-19: é obesa, hipertensa e diabética. Em maio, quando a pandemia atingia alguns de seus maiores picos, se inscreveu para vagas de CTD (Contrato por Tempo Determinado) e, dentre vários hospitais, escolheu trabalhar no Emílio Ribas, mesmo ciente de que a unidade estaria no epicentro do combate à pandemia. Segundo ela, a vocação falou mais alto.

Mulher de muitos recomeços, Mônica atuou como auxiliar de enfermagem durante 26 anos e resolveu fazer faculdade já numa fase mais madura. O diploma veio aos 47. “Quem cuida do outro tem que ter determinação e não pode ter medo. É lógico que eu tenho me cuidado muito a pandemia toda. Preciso estar saudável para poder me dedicar. Quem tem um dom de cuidar do outro sabe sentir a dor do outro e jamais o abandona,” disse Mônica.

A enfermeira, que é viúva e mora com o filho Felipe, de 30 anos, conta que é minuciosa nos cuidados de higiene e distanciamento no trabalho e quando chega em casa. Aos dez meses na linha de frente, nem ela, nem o filho se infectaram com a covid-19. Outro forte motivo para tenta se proteger é o cuidado e ajuda à mãe, uma senhora de 72 anos, que vive sozinha em outra casa e que também não foi infectada. Mesmo assim, sentiu a Covid-19 chegar bem perto quando teve o irmão caçula, auxiliar de enfermagem de 44 anos, internado por 20 dias com a doença.

Apesar da rotina intensa e puxada, com o trabalho cada vez mais volumoso nos seus plantões de 12h, ela tenta manter o discurso sempre otimista e o equilíbrio emocional aproveitando os momentos de folga para assistir a séries, jogos do Corinthians (de quem é torcedora fiel) e ouvir Seu Jorge, o músico favorito. É na fé e na religiosidade, no entanto, que também se apega para se sentir mais confiante. Todos os dias reza por ela, pelos familiares, mas também por todos os colegas do trabalho e até pelos pacientes.

“Eu tenho em mente sempre que não posso me abater porque os pacientes precisam de mim, por isso tenho sempre uma palavra de positividade e de que vamos sair dessa situação. O que me ajuda também é o prazer que sinto com o meu trabalho”, afirma a enfermeira.

Mônica confessa que os piores momentos são sempre quando sente que o SUS (Sistema Único de Saúde) está operando no limite. Otimista com a vacina, ela acredita que a imunização será essencial para que os brasileiros possam voltar a ter uma vida normal.