Novembro azul: chegou a vez dos homens

Assim como outubro é o mês de prevenção ao câncer de mama e ao câncer cervical, novembro é a vez dos homens ficarem em evidência. O Novembro Azul é um movimento mundial que acontece para reforçar a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Brasil o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens (atrás apenas do câncer de pele não-melanoma). O número de novos casos é maior nos países desenvolvidos em comparação aos países em desenvolvimento. Mais do que qualquer outro tipo, é considerado um câncer da terceira idade, já que cerca de 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos.

Alguns desses tumores podem crescer de forma rápida, espalhando-se para outros órgãos e podendo levar à morte. A maioria, porém, cresce de forma tão lenta (leva cerca de 15 anos para atingir 1 cm³ ) que não chega a dar sinais durante a vida e nem a ameaçar a saúde do homem.

Ainda de acordo com o INCA, em 2017 houve 15.391 mortes por conta do câncer de próstata – para 2018 a estimativa era de 68.220 novos casos.

O que é a próstata?
A próstata é uma glândula que só o homem possui e que se localiza na parte baixa do abdômen. Ela é um órgão pequeno, tem forma de maçã e fica logo abaixo da bexiga e à frente do reto (parte final do intestino grosso). A próstata envolve a porção inicial da uretra, tubo pelo qual a urina armazenada na bexiga é eliminada, além de produzir parte do sêmen, líquido espesso que contém os espermatozoides, liberado durante o ato sexual.

O que aumenta o risco de ter câncer de próstata?
A idade é um fator de risco importante, uma vez que tanto a incidência quanto a mortalidade aumentam significativamente após os 50 anos. Ter parentes de primeiro grau (pai, irmão) que tiveram câncer antes dos 60 anos é um fator que aumenta a incidência, podendo refletir ainda fatores genéticos (hereditários) e hábitos alimentares ou estilo de vida de risco de algumas famílias.

O excesso de gordura corporal também aumenta o risco de câncer de próstata avançado. E a exposições a aminas aromáticas (comuns nas indústrias químicas, mecânica e de transformação de alumínio), arsênio (usado como conservante de madeira e como agrotóxico), produtos de petróleo, motor de escape de veículo, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), fuligem e dioxinas também estão associadas ao câncer de próstata.

Sinais e sintomas da doença
Em sua fase inicial, o câncer da próstata tem evolução silenciosa. Muitos pacientes não apresentam nenhum sintoma ou, quando apresentam, são semelhantes aos do crescimento benigno da próstata (dificuldade de urinar, necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite). Na fase avançada, pode provocar dor óssea, sintomas urinários ou, quando mais grave, infecção generalizada ou insuficiência renal.

Descoberta precoce
A detecção precoce do câncer é uma estratégia para encontrar o tumor em fase inicial e, assim, possibilitar melhor chance de tratamento. A detecção pode ser feita por meio da investigação, com exames clínicos, laboratoriais ou radiológicos, de pessoas com sinais e sintomas sugestivos da doença, ou com o uso de exames periódicos em pessoas sem sinais ou sintomas, mas pertencentes a grupos com maior chance de ter a doença.

Porém, o rastreamento do câncer de próstata não traz mais benefícios do que riscos, sendo assim, o INCA não recomenda a realização de exames de rotina com essa finalidade. Caso os homens busquem ativamente o rastreamento desse tipo de tumor, o Instituto recomenda que eles sejam esclarecidos sobre os riscos envolvidos e sobre a possível ausência de benefícios desses exames feitos como rotina. 

Já o diagnóstico precoce desse tipo de câncer possibilita melhores resultados no tratamento e deve ser buscado com a investigação de sinais e sintomas como:

  • Dificuldade de urinar;
  • Diminuição do jato de urina;
  • Necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite;
  • Sangue na urina.
CDR457840 digital rectal exam

Como é feito o diagnóstico?
O câncer da próstata pode ser identificado com a combinação de dois exames:

  • Dosagem de PSA (antígeno prostático específico): exame de sangue que avalia a quantidade do antígeno prostático específico
  • Toque retal: como a glândula fica em frente ao reto, o exame permite ao médico palpar a próstata e perceber se há nódulos (caroços) ou tecidos endurecidos (possível estágio inicial da doença). O toque é feito com o dedo protegido por luva lubrificada.

Na maioria dos homens, o nível de PSA costuma permanecer abaixo de 4 nanogramas por milímetro. Alguns pacientes com nível normal de PSA podem ter um tumor maligno, que pode até ser mais agressivo – por isso esse exame, feito de forma isolada, não pode ser a única forma de diagnóstico. Nenhum dos dois exames têm 100% de precisão. Então, podem ser necessários exames complementares. 

A biópsia é o único procedimento capaz de confirmar o câncer. A retirada de amostras de tecido da glândula para análise é feita com auxílio da ultrassonografia. Pode haver desconforto e presença de sangue na urina ou no sêmen nos dias seguintes ao procedimento, e há risco de infecção, o que é resolvido com o uso de antibióticos.

Outros exames de imagem também podem ser solicitados, como tomografia computadorizada, ressonância magnética e cintilografia óssea.

Tratamento
Para doença localizada (que só atingiu a próstata e não se espalhou para outros órgãos), cirurgia, radioterapia e até mesmo observação vigilante podem ser oferecidos. Para doença localmente avançada, radioterapia ou cirurgia em combinação com tratamento hormonal têm sido utilizados.

Para doença metastática (quando o tumor já se espalhou para outras partes do corpo), o tratamento mais indicado é a terapia hormonal. A escolha do tratamento mais adequado deve ser individualizada e definida após médico e paciente discutirem os riscos e benefícios de cada um.

Exame de toque e o tabu
Uma pesquisa realizada em 2017 pelo Datafolha, a pedido da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), indicou que 21% dos entrevistados do sexo masculino acreditam que o exame de toque retal “não é coisa de homem”. Considerando aqueles com mais de 60 anos (grupo de risco), 38% disseram não achar o procedimento relevante.

Os valores culturais que prezam pela “força e resistência do homem” e as crenças machistas que parecem não aceitar um exame desse tipo ainda são um grande impeditivo no caminho para uma vida mais longa e saudável. 

O exame é indolor, dura poucos segundos e serve também para detectar outras doenças do ânus, do reto e do intestino grosso. Por esse motivo, é preciso quebrar a relutância dos homens em relação ao assunto e fazê-los entender que o exame pode é importante para determinar se há ou não doenças e iniciar um tratamento que pode salvar vidas.