O Ocaso da Política

Por José Renato Nalini*

Como dizia Sérgio Abranches em recente livro, a falência da Democracia Representativa é uma das angústias contemporâneas. Ninguém imaginou, porém, que essa tendência mundial viesse a repercutir de forma tão estridente neste Brasil onde tudo chega mais tarde, pois é uma Democracia incipiente e imatura.

O fenômeno de 7 de outubro de 2018 será analisado com vagar, assim que houver decantação do susto. E que susto! Caciques longevos, que tiveram o cuidado de tentar perpetuar sua blindagem, para que permanecessem no poder, foram banidos. 18% da Câmara Federal é composta de gente que nunca disputou eleição.

O eleitor mandou um recado explícito à política partidária. Propaganda eleitoral não funciona. É um método anacrônico. Ninguém mais aguenta a repetição de falácias, nem o duelo entre candidatos que, em lugar de mostrar aquilo que podem fazer, detonam o adversário. Por isso é que muitos preferem falar em colapso da Democracia Representativa.

A TV perdeu o seu espaço e ela já havia percebido isso. Tanto que migrou para os assinantes de nichos específicos. As redes sociais constituem hoje uma presença efetiva. Quem acreditou que os “grotões” brasileiros, a partir do norte de Minas para cima, fossem teleguiados pela propaganda eleitoral “gratuita”, colheu as consequências de sua avaliação equivocada. O Brasil possui 265 milhões de mobiles, ou seja: há brasileiros que possuem celular, smartphone, tablet e computador pessoal. Essa a nova fórmula da comunicação. Ela preponderou na formação da opinião e o eleitor mostrou o cansaço das mentiras, escancarou a fratura do material, o fim da política partidária usada em próprio benefício.

É saudável que o recado tenha sido o de que não existe a profissão político. Seria melhor que se admitisse a candidatura sem partido, para permitir que cidadãos enojados das táticas utilizadas pelas raposas também se oferecessem como opção.

Bom momento para rever a estrutura das Administrações Públicas. Tudo aquilo que o governo faz é mais caro, mais demorado, menos eficiente e sob suspeita de falta de lisura. Para implementar a Democracia Participativa, precisamos menos de Estado e mais de cidadania.

O recado foi dado. Agora é torcer para que os destinatários enfiem a carapuça e se ajustem aos novos tempos, às novas exigências e a uma nova cidadania, mais atuante, mais lúcida, menos suscetível de vir a ser enganada como reiteradamente o foi.

* É Reitor da Uniregistral, docente da Uninove e Anchieta, palestrante e autor de “Ética Geral e Profissional”.