O ódio gratuito e a miscigenação virtual

Gabriela Prado

É difícil pensar em alguém que não tenha redes sociais atualmente e é estranho se dar conta de que estas, por mais úteis e práticas que sejam, são poços de ódio, fúria e preconceito. As pessoas estão perdendo o direito de opinarem publicamente na internet por má índole alheia.

Nas redes sociais, se você não despeja uma crítica negativa em alguma publicação alheia você é rotulado como um indivíduo incapaz de gerar uma opinião sobre tal assunto. Na internet, todo mundo se torna corajoso e, mesmo que por trás de uma tela, cheio de espontaneidade compartilhando ódio por toda a grande rede.

O erro das pessoas é de acharem que somos livres. Não somos. E se engana mais ainda quem acha que está sendo livre atacando o colega. As agressões moral, verbal e emocional aumentam a cada segundo e qualquer opinião que seja contrária ao da maioria merece o ódio imediato dos haters – pessoas sem senso ou opinião que utilizam o poder da internet para odiarem tudo e todos.

A mídia cresce e dá a oportunidade de opinarmos sobre qualquer assunto a qualquer hora, mas isso nem sempre é benéfico. A mistura de culturas e de conhecimento na internet é um avanço da humanidade e, por mais que por poucas pessoas, a vontade de conhecer pontos de vista diferentes e agregar a já existente bagagem cultural é o que move o grande mundo tecnológico.

Crianças e adolescentes estão crescendo dentro da globalização e da ascensão da tecnologia e podem se tornar adultos sem caráter e com pouca opinião própria. A velha ideia de que ter uma opinião formada sobre tudo faz com que sejamos superiores e mais evoluídos leva à cegueira com o que realmente está acontecendo: estamos nos atacando sem parar.

Não percebemos o que um simples comentário pode causar na vida alheia. Não estamos conseguindo lidar com tamanha violência. Temos o livre arbítrio para nos expressarmos, mas não somos livres para atacar. Enquanto acharem que ser odioso e rude nas redes sociais faz de alguém desconstruído e dono de uma opinião, estaremos regredindo cada vez mais.

Cerca de 84% das menções na internet exalam racismo, preconceito e ódio, segundo dados do portal online do jornal carioca “O Globo”. Preta Gil, cantora, atriz e apresentadora de 42 anos, foi atacada em seu Instagram no ano passado. Ela foi chamada de “gorda” e “macaca”. A artista realizou boletim de ocorrência contra o ataque racista. Outras pessoas conhecidas na mídia, como a jornalista Maria Júlia Coutinho e a atriz Taís Araújo, também passaram pelo mesmo ataque preconceituoso. A empatia nem é procurada mais porque já se desfez em meio a tanto ódio desnecessário.

Ninguém é obrigado a aceitar tudo que vê, lê ou ouve, mas respeitar o que não lhe agrada é o mínimo a se fazer. O acontecimento mais comum hoje é a confusão entre troca de ideias e batalha de opiniões. Quando precisamos, utilizamos nossos argumentos e ideais contra outros, para que crescemos com novos olhares e ideais. Porém, a internet está sendo utilizada como motivo para tornar essa guerra constante. Essa mistura de conceitos está acabando com a sanidade humana.

Meu recado é válido para todo mundo que utiliza a internet como forma de expressão: aja com cautela. Monitore sua liberdade de expressão e não deixe se levar pela onda de “formadores de opinião”. Na maioria dos casos, prefira manter sua opinião em sigilo a profaná-la e ser bombardeado com opiniões diferentes e que exijam aceitação. A sua opinião não precisa ser igual às opiniões alheias e estas não precisam coincidir com as suas. A única liberdade que temos é de podermos mudar e evoluir sempre. Pena que tem gente que não aproveita esse benefício.