“Os empresários precisam valorizar o que é daqui”, desabafa idealizador do Rodeio

Herculano Neto destaca a importância das parcerias para o sucesso do evento, que chega à décima edição em meio à crise econômica do país

Herculano Neto

LUCAS GANDIA

Entre os dias 6 e 10 de setembro, o Rodeio Itu celebrará dez anos de sucesso com os maiores nomes da música sertaneja atual. Entretanto, não se trata apenas de uma festa. O evento, considerado o maior do segmento no eixo Sorocaba – Campinas, emprega cerca de 1.500 pessoas e movimenta o comércio e os hotéis de Itu e região.

Em entrevista exclusiva ao “Periscópio”, o idealizador do Rodeio Itu, Herculano Neto, contou os preparativos para a edição comemorativa deste ano e por que a festa será realizada novamente na Arena Brasil Kirin. Além disso, o empresário também faz um desabafo sobre as dificuldades para obter apoio do empresariado local.

INÍCIO
“Curiosamente, tudo começou quando sofri um acidente e quebrei a mão. Durante consulta com o médico ortopedista Luiz Fernando Teochi, o celular dele tocou – e a música era do ‘Bad Religion’. Brinquei com aquilo e, dali pra frente, nos tornamos amigos.

Na época ele era médico da PBR (Professional Bull Riders, empresa que promove competições internacionais de montaria em touros). Como eu já tinha organizado outros eventos, como o ‘CarnaItu’, ele questionou por que eu não realizava um rodeio. Achei estranho, porque cavalo e boi eram coisas totalmente distantes da minha vida.

Pelo que soube, já havia ocorrido uma Festa de Peão na cidade há muitos anos, mas não vingou do jeito que esperavam. Então decidimos montar uma comissão de pessoas interessadas em tentar resgatar a festa.
Na primeira reunião, em 2007, fizemos o negócio acontecer. A festa aconteceu no antigo ‘Itusão’, mesmo tendo enfrentado muita resistência”.

EVOLUÇÃO
“Honestamente, não imaginava que atingiríamos o nível de profissionalismo que há hoje. No começo, rolava um receio natural da população, pois havia um histórico de eventos embargados na cidade.

Desde a primeira edição cumprimos uma série de exigências ambientais estabelecidas pela Promotoria de Justiça, além de haver todo um cuidado com os animais que participam das montarias. No nosso TAC [Termo de Ajustamento de Conduta] junto ao Ministério Público, assinamos um compromisso para respeitar o limite de ruído na área e não utilizamos água da rede pública.

Também estabelecemos que todo o impacto ambiental gerado pelo rodeio, como gasto de energia e combustível, é convertido em um valor em reais e destinado a uma instituição com fins ambientais. Já há alguns anos ajudamos a ASPA [Associação de Socorro e Proteção aos Animais de Itu]”.

EMPREGOS
“Estamos em um ano complicado. Reduzimos o número de trabalhadores em um setor, mas acabamos aumentando em outros. Na segurança e nos estacionamentos, por exemplo, contratamos mais pessoas. Já para a limpeza, pegamos uma equipe que trabalha com menos material humano e mais maquinário, otimizando o processo.

No geral, estamos com cerca de 1.500 pessoas empregadas, direta e indiretamente, número semelhante ao da última edição”.

PROGRAMAÇÃO
“Este ano recebemos as montarias da Ekip Rozeta, que participa dos principais rodeios do Brasil e realiza um ranking anual de melhores montadores. Além disso, estamos com um dia a mais de festa.

Para aproveitar o feriado de 7 de setembro, vamos começar na véspera, terça-feira, com shows das duplas Pedro Paulo & Alex e Camila & Haniel. A quarta-feira terá Matheus & Kauan e, na quinta-feira, trazemos o maior nome do cenário musical atual, que é o Wesley Safadão. A sexta-feira é um dia especial, pois traremos quatro amigos meus: Munhoz & Mariano e Fernando & Sorocaba. Para fechar, no sábado, o show será de Jorge & Mateus, que são sempre muito aguardados.

Se compararmos as grades, conseguimos mudar bastante a programação em relação ao ano passado. Temos muito cuidado com isso, porque são muitos públicos diferentes dentro da festa: as famílias, a galera da cocheira, o povo do camarote corporativo, quem compra o combo… São várias situações em um mesmo evento”.

LUGAR
“A Arena Brasil Kirin é sensacional, mas tínhamos muitos problemas com o estacionamento. Então estudamos um lugar que fica às margens da Rodovia do Açúcar, do lado direito de quem vai para Sorocaba. É uma área muito grande, totalmente plana, próxima ao Condomínio Xapada.

O proprietário do espaço foi bastante solícito, mas começamos a ter algumas incertezas em relação a documentações e aos nossos prazos. E, no final, a Schin entrou com um apoio ao nosso evento. Com isso, optei por voltar à Arena.

Em um ano complicado como este, há uma série de coisas que influenciam na organização. Eu ia fazer o evento no local novo, mas a partir do momento em que não fechei acordo com outras grandes cervejarias, como a Ambev e a Heineken, não havia mais razão para sair da Arena”.

ACESSO
“Este ano alugamos todos os terrenos das chácaras próximas à Arena Brasil Kirin. Mesmo que não usemos todos os espaços, evitamos problemas com estacionamentos irregulares. Fizemos reuniões com a Polícia Militar, a Guarda Municipal, a Rodovia das Colinas e a Prefeitura, para que nos ajudem a coibir os estacionamentos clandestinos.

Entrei firme para coibir isso, pensando na reputação da festa. Quero que as pessoas curtam com segurança.
Ainda fizemos uma parceria com a Viação Avante, que vai operar com linhas especiais de ônibus”.

APOIO
“Neste ano, chamei todos os meus fornecedores e estudei como poderia cortar custos, sem diminuir a qualidade dos serviços. Muitos foram compreensíveis; outros tiveram que ser trocados. Acabei me entendendo com a Brasil Kirin, pois sei que também é um ano difícil para eles. Mas espero que em 2017 voltem como apresentadores da festa.

Estou nessa luta há dez anos. Procuro conversar com alguns empresários da cidade e mostrar que a festa não é minha; é da população. Tem muita gente de Itu que faz parte do PIB nacional… Apoiar o evento não é pensar só no aumento das vendas, mas ver um evento desse porte acontecendo na cidade que ama, que escolheu para morar.

Tem muita gente que é parceira e faz de tudo para a festa acontecer. Fazemos um trabalho constante para que nosso rodeio seja o maior do eixo Sorocaba – Campinas. Os empresários precisam valorizar o que é daqui. Há muita gente boa, mas há quem poderia fazer muito mais pela cidade. Fico chateado por isso”.

FUTURO
“Olho pra trás e imagino que já são dez anos… Eu amo essa festa! Engolimos sapo, mas também trabalhamos duro. Espero que o Brasil melhore no próximo ano. Que tenhamos também novos artistas para oxigenar o Rodeio, pois o povo de Itu merece essa festa”.