PERDAS & DANOS

Não é do meu agrado tratar desse assunto. Todavia os tristes e recentes acontecimentos forçaram-me a escrevê-lo, na tentativa inútil de aliviar a dor, refrigerar a alma e amenizar o melancólico sentimento com a perda de um ente querido.

Fiquei fora de Itu por trinta e cinco anos e durante todo esse tempo observei fatos, diferenças sociais e de comportamento que nos atingem, impiedosamente.

Na Capital os círculos de amizades são restritos e pouco cultiváveis. Resumem-se a poucos amigos, colegas de trabalho, superiores e subordinados quando os temos.

Fregueses ou clientes que atendemos diariamente, além das pessoas do nosso relacionamento, como os donos de bares e restaurantes, simpáticos garçons, jornaleiros, mecânicos, lojistas, vendedores, etc…

Quando eles adoecem ou chegam a falecer, raramente ficamos sabendo. Depois perguntamos: – Que fim levou fulano? E sicrano que não vimos mais? Geralmente ficamos sem respostas ou surgem palpites: – Acho que se mudou para o litoral, vivia falando nisso. Ou então: – Deve ter terminado a casa no interior e está residindo lá.

Nas cidades pequenas é diferente. As pessoas se conhecem amiúde. Sabem a quais famílias pertencem e os laços de amizade alongam-se em tentáculos suaves e amistosos. Encontramo-nos com eles quase todos os dias. Seja nos postos de combustíveis, supermercados, cafés, lojas, igrejas, restaurantes e até nos velórios.

Além disso, é grande o número de comemorações como casamentos, batizados, festas de aniversário, churrascos, quermesses e cerimônias religiosas.

Por falar em infortúnios, têm-se a falsa impressão de que na Capital as pessoas não morrem, simplesmente desaparecem. Fato curioso. É como afirmar, erroneamente, que as pessoas falecem em maior número no interior.

As estatísticas não endossam a teoria mas nós, míseros humanos temos limites.

O fato é que sentimos aqui, estarmos mais perto da morte do que nas grandes cidades. Nada mais enganoso. Contudo, toda semana recebemos notícias sobre algum conhecido, parente ou amigo que se foi.

Para endossar isso surgem os boquirrotos que, antes de nos cumprimentar, disparam sem a menor cerimônia:

– Sabe quem morreu?

Outra curiosidade é o envelhecimento. Quanto mais velhos ficamos mais perdas registramos. Eles vão-se embora e nós ficamos, cada vez mais isolados e solitários.

Arrisco dizer que esses fatos podem nos induzir a uma maior religiosidade.

Talvez isso justifique a procura por conselheiros espirituais, pais de santo, cartomantes, padres, pastores e diáconos em busca de respostas ou conforto espiritual.

Quanto aos danos? O Aurélio nos ensina: dano pode ser uma ofensa com prejuízo moral ou material. Lembrei-me do velho ditado: – “Ninguém é insubstituível!”.

Creio que o insubstituível fica por conta do desempenho, da liderança, da competência e da dedicação. Se nos falta alguém que comanda um negócio de maneira impecável, ou um chefe de família exemplar, vamos contabilizar danos irreparáveis.

Mas a vida continua. Se o passado é uma referência e o futuro uma incógnita, vivamos o presente com intensidade e sabedoria. Devemos orar e agradecer a Deus por mais um dia, ao lado dos nossos amigos e entes queridos.

Vamos saudar o nascer do dia e o sol que nos aquece. Não importa se faz frio ou calor. Se as tempestades e os raios nos metem medo. Se o vento nos fustiga e a chuva nos aborrece. São fenômenos naturais e sabemos que a natureza é sábia.

Afinal, tudo passa.

 

Guilherme Del Campo

Cadeira nº 11 I Patrono Mário de Andrade