Periscópio Entrevista: Dorival Jesus Nascimento

O entrevistado desta semana é o metalúrgico Dorival Jesus Nascimento. Presidente regional do sindicato da categoria desde o ano de 2010, o dirigente comenta a respeito da sanção da reforma trabalhista, promovida pelo presidente da República Michel Temer (PMDB) no último dia 13 de julho.

A nova legislação altera regras da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e prevê pontos que poderão ser negociados entre empregadores e empregados. Além disso, passarão a ter força de lei, em caso de acordo coletivo. Tais medidas deverão entrar em vigor no mês de novembro.

Dorival comenta ainda sobre as manifestações promovidas no mês de abril, assim como avalia as propostas de reforma na previdência.

 

JP) Como o senhor vê a reforma trabalhista?
Lutamos muito contra ela. Ela é um retrocesso para a categoria. Ela tem vários pontos em que o trabalhador estará perdendo direitos que tiveram muitas lutas para serem conquistados. A reforma não foi discutida, foi “empurrada goela abaixo”.

 

JP) Qual o posicionamento do sindicato quanto à sanção do projeto de lei da reforma trabalhista?
O sindicato começou agora também a campanha salarial. Nós deliberamos de conseguirmos colocar cláusulas tanto para conseguir segurar a terceirização, assim como a reforma trabalhista. Dia 31 vence nossa convenção coletiva e essa cláusula, não valendo mais em nossa categoria, o trabalhador em vias de se aposentar, com doença ocupacional ou acidentado, poderá ser demitido. Hoje, a convenção coletiva os resguarda. Outra cláusula fala sobre o trabalhador negociar com o patrão. Como ele vai negociar nessa época com a crise e muitos desempregos? São coisas de muito retrocesso.

 

JP) E a avaliação do senhor quanto à reforma da previdência?
Um trabalhador metalúrgico que passou dos 40 anos, se for demitido, será muito difícil voltar ao mercado de trabalho. E o que as empresas de linha montagem estão fazendo, por exemplo? Mandaram embora todos acima de 40 anos e colocaram no lugar jovens de 18 anos. Eles precisam trabalhar? Precisam, mas aqueles que foram pra rua, aonde vão? Essas pessoas não vão ter condições de se aposentar.
Hoje o jovem não consegue ter a carteira assinada antes dos 18 e, se for demitido com pouco mais de 40 anos, como terá 25, 40, 49 anos de contribuição para se aposentar?
O que vai acontecer é que muitas dessas pessoas, sem aposentar, inevitavelmente vão ficar doentes e acabaram “encostadas” no auxílio-doença.
Se quer alterar a previdência, tem que colocar alguma regra. Tem que haver uma estabilidade.
Por que os políticos em “seis meses de trabalho” tem aposentadoria? As condições têm de ser iguais.

 

JP) Sobre o fim da contribuição sindical obrigatória, até quanto isso irá impactar o sindicato, bem como os trabalhadores assistidos pelo mesmo?
Hoje a gente tem estrutura para atender, um departamento jurídico. Como que se banca todo esse atendimento? Por meio da contribuição. Mas o sindicato que tem sócio, e não estamos nos apegando ao fim do imposto sindical. O sindicato que é combativo e tem o associado do seu lado ultrapassa essa questão. Temos hoje 8 mil sócios. Já é uma bandeira da CUT (Central Única dos Trabalhadores) acabar com o imposto sindical. E é um direito do trabalhador pagar ou não. Só irá prejudicar aquele sindicato que vive em uma sala e não possui trabalho.

 

JP) Há conversas entre os sindicatos para posicionamento conjunto contra as reformas trabalhista e da previdência?
Há luta, mas não há contato. Aqui em Itu, tivemos dificuldade. Nessa cidade, temos 11 sindicatos. Não conseguimos reunir todos, mas a maior questão é a população, como um todo, entender que ela está perdendo. Pois existem pessoas que não sabem o que estão perdendo com essas mudanças. Não estão entendendo, mas uma hora ou outro se darão conta disso.

 

JP) Qual a sua avaliação quanto ao Governo Michel Temer?
Tiraram a Dilma (Rouseff) por causa da “pedalada”. Todos os antigos presidentes fizeram a “pedalada”. O Fernando Henrique (Cardoso), o Lula, todo mundo fez, pois era uma questão social, que tinha que ser feita. Com o Temer, o desemprego aumentou. O que teve de planejamento para combater o desemprego? Nada. A reforma trabalhista não vai gerar emprego.
A inflação abaixou, não porque foi feita alguma coisa pelo governo, e sim porque a população não está consumindo. Quem está desempregado não tem como comprar e quem está empregado, tem medo de consumir e perder seu trabalho e ficar endividado.
É um governo que não fez nada pela indústria e não demonstra que fará alguma coisa.

 

JP) Sobre as manifestações contra as reformas do governo, realizadas no final de abril deste ano, qual o balanço realizado pelo senhor? A adesão foi positiva?
O ato em seu começo estava bastante positivo. Estava bastante organizado até um dia antes. Fizemos reuniões no sindicato com algumas entidades, descemos ao Sindicato dos Condutores para conversarmos e estava tudo certo, mas acabou havendo problema com os condutores, que eram o ponto-chave, que não mais participaram e então fizemos o ato com quem podíamos naquele momento. Mas foi positivo, acho que conseguimos dar nosso recado.

 

JP) O sindicato planeja novas manifestações em Itu, uma vez sancionada a reforma trabalhista?
Vamos aguardar. Teremos reunião na CUT e a realização de uma avaliação. Na verdade, sancionada a reforma trabalhista, vamos ter que ver como colocar algum tipo de regra em nossa convenção coletiva. Ato vai ter. Aqui em Itu, o sindicato estará disposto como sempre esteve. Depende de todas as centrais estarem envolvidas.

 

Fotos – Daniel Nápoli