PERISCÓPIO ENTREVISTA: Novembro Azul: “Há muito preconceito”, diz médica oncologista sobre exame de toque

O mês de novembro é dedicado mundialmente à conscientização e prevenção do câncer de próstata e vem ganhando cada vez mais força com as campanhas do Novembro Azul. Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam 68.220 novos casos da doença entre 2018 e 2019. Desses, 13.772 homens devem vir a óbito em decorrência da doença.

Dada a importância do tema, o Periscópio entrevistou a Dra. Elisa Watanabe Camargo, médica oncologista do OncoItu, para falar sobre as possíveis causas do câncer de próstata, o diagnóstico e os mitos envolvendo a doença e a realização dos exames preventivos. Confira:

 

JP: Quais são as possíveis causas do câncer de próstata?

As causas do câncer de próstata ainda não são totalmente conhecidas pelos pesquisadores. As pesquisas têm mostrado como algumas mutações no DNA das células normais provocam o desenvolvimento anormal das células da próstata, formando assim o câncer. Tais mutações podem ser genéticas que correspondem a cerca de 5 a 10% dos casos ou adquiridas ao longo da vida.  Dentre as mutações genéticas mais estudadas estão aquelas relacionadas aos genes RNASEL (antigo HPC1), BRCA1 e BRCA2, Genes de Reparação de Incompatibilidade do DNA (como MSH2 e MLH1) e HOXB13. Outros fatores que podem estar envolvidos no desenvolvimento do câncer de próstata são aqueles relacionados aos níveis hormonais elevados de testosterona e processos inflamatórios, dentre outros que são ainda objetos de estudo.

 

JP: Como é feito o diagnóstico?

Achados no exame clínico (toque retal) em associação com o resultado do exame de PSA podem sugerir o câncer de próstata. Nestes casos é indicada a realização de ultrassonografia pélvica ou prostática transretal e então recomendada a biopsia, exame este que coleta o material para análise e definição do diagnóstico de certeza.

 

JP: O câncer de próstata atinge alguma faixa etária específica?

A incidência de câncer de próstata aumenta com a idade, principalmente a partir dos 50 anos. Mais da metade dos casos são diagnosticados em pacientes com mais de 65 anos, mas é importante que também pacientes mais jovens estejam atentos e conversem com seus médicos para avaliação de fatores de risco e rastreamento da doença.

 

JP: Quais são os maiores mitos sobre o câncer e também sobre o exame de toque?

O câncer de próstata é uma doença rodeada de muitos mitos, mas destaco o fato de que muitos pacientes entendem que por não apresentarem sintomas e se sentirem bem, consideram-se saudáveis e sem necessidade de realizarem avaliação médica periódica. Isso tira a oportunidade de realizarmos o rastreamento/diagnóstico precoce e o tratamento adequado. Não se trata de uma doença exclusiva de idosos e por isso deve-se atentar aos fatores de risco e personalizar o rastreio conforme necessário. Outro mito a ser destacado é que câncer tem cura se diagnosticado em estágio inicial e que não se deve comparar a doença de um paciente com a do outro, já que a mesma doença tem comportamentos diferentes e diante dos avanços atuais,  os tratamentos são altamente personalizados. O toque retal é a forma como se examina a próstata. Há muito preconceito a respeito dessa forma de exame físico, mas para o médico é apenas uma forma objetiva de obter informações sobre a próstata e suas características.

 

Foto: Divulgação