Presidente do Codisei fala sobre o mês do orgulho LGBT e políticas públicas

O presidente do Codisei – Coletivo da Diversidade Sexual de Itu, Felipe Cavalheiro, 35 anos, é o entrevistado desta semana no JP. Ele, que também é diretor de economia criativa na Secretaria Municipal de Cultura, fala sobre o Mês do Orgulho LGBTQIA+ (sigla que inclui lésbicas, gays, bissexuais, transexuais etc.), celebrado em junho, e a importância das políticas públicas voltadas a esse público. Confira:

Felipe Cavalheiro é presidente do Codisei (Foto: Divulgação)

Vivemos numa sociedade conservadora e numa cidade ainda mais. Como é a vida da pessoa LGBTQIA+ neste contexto?

O preconceito existe e isso é fato, e não podemos ignorar, por muitas vezes velado por trás das famosas “brincadeiras”, seja no ambiente familiar ou empresarial. Eu mesmo sendo uma pessoa pública e ativo na luta pela visibilidade e implantação de políticas púbicas LGBTQIA+ em Itu e região tenho que lidar com estas adversidades por onde eu passo. Mas eu não me calo, eu questiono e repreendo o agressor e faço quase que um trabalho pedagógico, pois ainda acredito que a maior arma contra o preconceito é a informação. A vida de uma pessoa LGBTQIA+ é uma luta diária, todos os dias temos que provar para a sociedade nossa capacidade e que podemos ocupar espaços  em todos os setores, sejam eles privados ou públicos somos um protesto, pelo simples fato de existirmos.

Você acredita que as políticas públicas voltadas a esse público evoluíram nos últimos anos? O que ainda falta em nível nacional? E em nível municipal, quais avanços você pode citar?

Tivemos um retrocesso no que diz respeito a políticas públicas para população LGBTQIA+ por parte do Governo Federal, na pasta da ministra Damares [Alves, chefe do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos] existe uma diretoria que deveria tratar dessa pauta, mas nada se foi feito. Dizer que não houve evoluções nos últimos anos eu estaria sendo radical, mas continuamos dando passos de formigas e enquanto isso estamos morrendo diariamente, seja por agressões físicas ou psicológicas. Já em nível municipal tivemos grandes avanços como a aprovação da inclusão da Semana da Diversidade e Parada do Orgulho no calendário oficial de eventos da cidade de Itu, o governo municipal sempre apoiou e continua apoiando a diversidade ituana.

Você acredita que o mercado de trabalho ainda discrimina muito o público LGBT?

Infelizmente sim, mas muitas empresas já se posicionam como amigas da diversidade, entenderam que a capacidade profissional não está atrelada a sua sexualidade ou identidade de gênero.

A pandemia, que impede realização de eventos presenciais (como a Parada LGBT), tem afetado esse público também. O quanto faz falta a realização desses eventos e seminários que discutem a realidade e implementação de políticas?

Sentimos falta do afeto, das risadas e de apoiarmos uns aos outros. Muitos dos nossos fazem destes encontros sua libertação, é ali e somente neste momento que podem ser quem realmente são. Não é fácil encontrar rejeição dentro da própria casa, eu recebo diversas mensagens nas minhas redes sociais com depoimentos de LGBTs que sofrem por não poderem ser quem realmente são por repressão dentro de casa e até no trabalho. São nestes encontros presenciais que buscamos apoio junto aos nossos, além de discutirmos as pautas importantes de luta ao que diz respeito a políticas públicas para diversidade.

Nesse contexto, como está a atuação do Codisei? Quantas pessoas integram o grupo e como tem sido a rotina de discussões?

Por conta da pandemia, todas as nossas ações como o Fala Aí e Debate-Cabelo continuam acontecendo mensalmente em formato virtual. Recentemente fomos contemplados no edital +Orgulho do Governo do Estado, que irá nos possibilitar a realização da 2ª Semana da Diversidade mesmo que virtualmente, que está prevista para final de novembro. Em breve iremos lançar o primeiro documentário contando a história do movimento LGBTQIA+ de Itu e uma exposição de fotos voltadas ao combate a invisibilidade das pessoas trans e travestis do interior paulista. Hoje somos em 3 integrantes ativos, eu, Ana Flávia Toni (advogada e presidente da comissão da diversidade da OAB de Itu) e Maria Eduarda de Camargo (professora e coordenadora da Aliança Nacional LGBT). Nossa rotina de discussões sobre ações em prol da nossa comunidade é diária, trabalhamos em sintonia e temos muito orgulho das nossas conquistas.

Qual a sua opinião sobre o debate de gênero e sexualidade nas escolas?

O ambiente escolar é considerado um dos principais lugares de construção dos saberes e desenvolvimento da criança, incluindo de identidade e, consequentemente, é um dos primeiros lugares em que a criança se depara com as diferenças, principalmente as de gênero. É muito importante que haja o desenvolvimento de uma consciência crítica e de práticas pautadas pelo respeito à diversidade e aos direitos humanos.

Por último, gostaria que você deixasse uma mensagem à sociedade sobre a importância do Mês do Orgulho LGBTQIA+.

Simboliza visibilidade, orgulho e muita luta, significa sobrevivência, o celebramos como um ato de muito amor por nossos corpos, existência e resistência. Devemos fazer dessa data um marco para ampliar a busca por equidade, visibilidade e respeito em todos os outros meses do ano.