Que Natal, hein Madame!

J.C. Arruda

A repercussão da crônica publicada na semana passada foi bastante polêmica, principalmente em meio às leitoras. Umas levaram na gozação enquanto que outras acharam-na muito machista. Em resumo: a crônica contava uma cena com o casal de ituanos, Leonel e Wanda Gonzalez, que foi participar de um congresso no Rio de Janeiro e, lá chegando, ambos tiveram uma desavença, quando a mulher descobriu que, nesses congressos, o marido sempre era recepcionado e acompanhado por belas mulheres. Mas, para não prejudicar o próprio casamento, Wanda preferiu se conformar com a situação. Só que a história não acabou ali, como se verá a seguir.

De volta a Itu, Wanda passou a notar que Leonel não havia cometido somente aquele deslize do Rio. Percebeu que por aqui, o marido e quase sessentão também tinha suas quedas de garanhão, olhando para tudo quanto era mulher que passava na rua, principalmente as ninfetas. Aí, então, foi que ela mostrou as garras deixando claro que o conformismo mostrado no congresso havia sido apenas conveniente.

O Natal se aproximava e a família toda iria fazer a Ceia de 24 para 25 de dezembro no apartamento do Guarujá. Wanda chegou para Leonel e foi surpreendentemente clara: – “Olha Lelê (agora, cada vez que queria provocá-lo, chamava-o por esse apelido que ele detestava, por motivos óbvios), quero deixar bem claro que você não vai ficar dando uma de garotão lá no Guarujá, porque eu não vou engolir. Pensa que essas mulheres acham que você é um galã de TV? Elas querem sua grana, isso sim!” Pego de surpresa, esta vez foi o marido que preferiu ficar de boca fechada para evitar explicações.

Chegaram ao Guarujá. Leonel e Wanda foram para a suíte do casal, enquanto os filhos Fidel e Anita foram com nora, genro e netos para outros dois quartos. Como a Ceia deveria ser a partir das 23 horas, Wanda praticamente convocou o marido para ir até o calçadão, enquanto ainda era dia, para algumas compras. Ele topou, mas, em seguida nova ladainha. “Vamos se comportar direitinho, né Lelê ! Nada de querer bancar o Tarcísio Meira por aí. Senão, vai me dar o mesmo direito, hein!” – Avisou Wanda.

Nesse ponto Leonel não agüentou: – “Cê tá brincando, né? Só pode. Agora com cinqüenta anos, vem me fazer essa ameaça? Toma seu rumo, mulher”. E ela: – “Você não me provoque, Leonel. Saiba que ainda tenho alguns atrativos.” Leonel começou a sorrir e ameaçou uma risada, quando Wanda desafiou novamente: – “Se duvida, vamos sair juntos, só que você vem atrás de mim não demonstrando que é meu marido e verá que ainda não estou morta”. Mais por brincadeira, o marido aceitou o desafio. Wanda foi para o quarto e, quando reapareceu, surpreendeu. Vestia uma bermuda mais ousada que a de costume, calçou sandálias plataforma que, de certa forma, acentuaram-lhe a bunda grande e deve ter feito alguma mágica com os peitos, porque se mostravam mais erguidos que o normal. Os óculos escuros, ela os trazia acima da testa, uma moda que os jovens começavam a lançar. Leonel teve uma surpresa quando viu aquele mulherão diferente em sua frente, no lugar da mulher comum que sempre estivera a seu lado. Porém, preferiu não dar o braço à torcer. Fez de conta que nem havia notado.

No calçadão fizeram o combinado. Wanda ia na frente e, a uns dez metros atrás, seguia o marido. Não mais que de repente, Leonel quase de queixo caído, começou a perceber que, realmente, sua mulher chamava atenção. Os homens não apenas a olhavam de frente, como se viravam depois para olhá-la por trás. E não eram só os Coroas, não. Mesmo alguns jovens, como se diz hoje, sarados, encaravam Wanda e se voltavam depois para vê-la, após sua passagem.

Leonel, encucadíssimo, se manteve calado o tempo todo até o final do trajeto. Fizeram as compras, voltaram para o apartamento e aí sim. Antes, durante e depois da Ceia, o marido foi só atenção com a mulher. Na verdade, virou até um grude a ponto dos próprios filhos, nora e genro, notarem, mas sem comentar nada. Por volta das duas da manhã, foram todos dormir. E Wanda teve uma noite de amor como há muito tempo não experimentava. Foi um presente de Natal e tanto. Presente sincero e espontâneo, pois naquele tempo nem se falava em Viagra ainda.

Na manhã seguinte, o casal se levantou e era evidente no café da manhã a alegria e cumplicidade existentes entre os dois. Tanto assim que a filha Anita chamou a mãe para um canto e perguntou o que estava acontecendo. Wanda contou tintim-por-tintim toda a história, destacando o desafio, inclusive. Anita ficou surpresa: – “Mas nem eu, mãe, poderia imaginar a senhora fazendo tanto sucesso com os homens desse jeito.” Foi aí e só para a filha que Wanda revelou: – “É uma coisa para você guardar, pro resto da vida. Durante todo o trajeto, eu fui fazendo caras e bocas, me fingindo de vesga e mostrando a língua para todos os homens. É claro que eles teriam que me olhar, não? Eu só não esperava que o sucesso fosse tanto…”