Roma

Por André Roedel

Imagem do pôster de Roma e um dos momentos mais belos do filme, que é um retrato fiel da sociedade latino-americana (Foto – Divulgação/Netflix)

Disponível no catálogo da Netflix desde 14 de dezembro e em alguns cinemas selecionados pelo mundo afora, Roma é escrito, dirigido e editado pelo mexicano Alfonso Cuarón (de Gravidade e o terceiro filme da franquia Harry Potter). E tem sido muito elogiado pela crítica especializada. Muitos já o enxergam faturando estatuetas do Oscar. Tudo o que conquistar será merecido, pois se trata de um dos principais lançamentos do ano.

Contando a história de Cleo (Yalitza Aparicio), personagem inspirada em uma empregada doméstica que viveu e cuidou do próprio diretor durante sua infância em uma área de classe média no distrito federal do México no começo da década de 1970, Roma (que é o nome do bairro onde Cuarón morava) é inteligente, emocionante e crítico.

Filmado em preto e branco e com um ritmo lento, o filme pode criar uma certa resistência em quem não está acostumado com esse tipo de película. Porém, com o andar da carruagem, Roma vai se mostrando uma grande crítica social que denota as relações abusivas entre patrão e empregado, o machismo na sociedade e toda a realidade do povo mexicano no começo do governo de Luis Echeverría, incluindo um dos momentos mais tristes desse período: o massacre conhecido como Halconazo, quando centenas de estudantes foram mortos em protesto.

Yalitza, uma jovem atriz indígena, dá um show no papel da calada Cleo e sua rotina na casa de seus patrões. Com uma relação de carinho com os filhos do casal para quem trabalha, a empregada também vive seus dilemas em seus momentos de folga – como uma gravidez inesperada, fruto de um relacionamento com um jovem que a larga.

Com a bela fotografia em preto e branco e planos-sequência que deixam o espectador embasbacado, Roma é a obra-prima de Cuarón. Sem atores estelares, todo falado em espanhol ou dialetos mixtecos (falados pela comunidade indígena do México) e contando a história de uma personagem que geralmente seria a coadjuvante, o filme é uma aposta ousada que encontrou na Netflix sua plataforma perfeita.

Vencedor do Leão de Ouro do Festival de Veneza, Roma é um retrato das sociedades latino-americanas como um todo. Nós, brasileiros, certamente iremos nos identificar com algum ponto do longa-metragem, mesmo com a cultura mexicana sendo bem diferente da nossa. Isso porque a nossa raiz é a mesma. Os problemas são semelhantes. Em muitos momentos, o filme de Cuarón me fez lembrar o ótimo Que Horas Ela Volta?, produção nacional protagonizada por Regina Casé.

Se você quer se desligar dos blockbusters e assistir a um filme de arte, com todas as características do cinema de qualidade, Roma é pedida certa para esse fim de ano. A expectativa em vê-lo faturando as principais premiações é grande e não me surpreenderei em caso de vitória na categoria de Melhor Filme no Oscar. Definitivamente uma das melhores obras da sétima arte nos últimos tempos.

Nota: 5 de 5 estrelas