“Setembro Amarelo”: profissional fala da importância do auxílio psicológico

Rita Priscila alerta sobre a necessidade em buscar auxílio e também de apoiar familiares e amigos (Foto: Arquivo pessoal)

O Setembro Amarelo é a campanha de combate ao suicídio. Durante todo o mês, por meio de diversas iniciativas, é destacada a importância da conscientização sobre a saúde mental e a valorização da vida.

Durante a pandemia, as discussões fizeram-se ainda mais necessária, já que foi e continua sendo um período em que muitas pessoas tiveram que lidar com conflitos internos e externos, que antes não eram tão aparentes assim.

“Estamos tendo que lidar com algo novo que nos desorganiza por completo, e por isso, precisamos redobrar ainda mais nossa atenção à saúde mental. Há um grande número de pessoas que cometem suicídio que em nenhum momento buscaram ajuda e também não tiveram apoio do núcleo familiar/social para lidar com a situação, por isso se faz necessário o diálogo sobre o suicídio, que muitas vezes é deixado de lado por medo de aumentar ainda mais os números”, destaca a psicóloga Rita Priscila Carvalho.

Ela reforça a importância da campanha. “O Setembro Amarelo vem para mostrar às pessoas que possuem pensamentos suicidas, que não estão sozinhas e há uma grande rede de apoio e cuidado. A conscientização é necessária pois essas pessoas que cometem suicídio não têm como objetivo sua morte física mas sim a morte do que está enfrentando, procurando pelo fim do sofrimento.”

A profissional explica que os suicídios são planejados e é importante ter o conhecimento de que até o seu acontecimento, “a pessoa pode demonstrar diversos sinais, conscientes ou não, e precisamos aprender a reconhecer esses sinais para ofertar o apoio que ela precisa”.

“A empatia e acolhimento são fundamentais ao conversar com pessoas que demonstram instabilidade emocional e desejo de tirar a própria vida, e após isso, é necessário também o encaminhamento para profissionais da área: psicólogos e psiquiatras. Agir salva vidas”, reforça a psicóloga.

 Os sinais aos quais Rita destaca requerer mais atenção são: falar ou pensar em se matar, estado depressivo e desanimo, perda de interesse pelas coisas e atividades que gostava, comentários sobre estar sem esperança, enxergar-se como um fardo  para outras pessoas, visitar e ligar para pessoas como quem se despede, aversão social, solidão e isolamento.

A psicóloga relata ainda que existe uma facilidade maior da mulher em procurar ajuda psicológica. “Outro ponto que gostaria de chegar também é sobre a diferença de suicídio entre homens e mulheres, sendo um número muito maior o de homens. Os homens desde muito cedo são ensinados a não demonstrar sua fraqueza e seu lado sentimental, pois existe uma construção social que eles precisam ser fortes o tempo todo”, conta. “É preciso mudar nosso olhar diante aos homens, seus processos emocionais e nossa dinâmica do cuidar, para que se sintam seguros em se expressar e buscar ajuda”.

Rita volta a falar sobre os impactos da pandemia na saúde mental. “Aumentou o número de pessoas com transtorno de ansiedade e casos de depressão, sendo assim, a procura por ajuda e apoio psicológico também, mas, em contrapartida, também temos o desastre econômico que estamos enfrentando, onde a maioria das pessoas que mais precisam de terapia não possui condições financeiras de arcar com o tratamento.”

 Como meio de apoio gratuito, existe o  CVV (Centro de Valorização da Vida) – rede de apoio emocional e prevenção do suicídio (https://www.cvv.org.br/) , gratuito, por meio de chat 24 horas, e-mail e telefone  e o CAPS (Centro de Referencia em Atenção Psicossocial) – rede de serviço municipal especializada em saúde mental – telefone: (11) 4403-8932.

Clínicas Escolas de Psicologia – faculdades que possuem curso de Psicologia – como o CEUNSP, oferecem atendimento psicológico gratuito para a população , além de algumas clínicas particulares que também ofertam atendimento gratuito e de valor social, caso a pessoa que precise não possa arcar com o valor.

Reflexo

A analista de controladoria Norma de Cássia Ricomine, de 30 anos, foi uma das pessoas que procurou auxílio durante a pandemia. “Quando decidi passar por sessões de terapia, eu estava buscando ajuda. Já havia feito antes e parei, mas precisei voltar agora, pois me vi em uma situação emocionalmente delicada. Eu estava frágil e não conseguia enxergar sentido nas coisas que fazia diariamente e que me definiam como eu era antes”, relata.

“A junção da maternidade, da pandemia, da mudança de planos e de casa e a morte de uma amiga muito próxima por Covid, fizeram com que eu me sentisse perdida. Por mais que eu escrevesse em meu diário, conversasse bastante com meu marido e lesse muito conteúdo sobre autoconhecimento nas redes sociais, eu precisava de orientação para expressar partes desconhecidas de mim sem qualquer julgamento e organizar meus pensamentos e sentimentos”, relata.

 Em quatro meses de terapia, os resultados têm sido bastante positivos. “Já sinto que a nuvem que havia sobre minha vida está se dissipando e consigo enxergar as coisas mais claramente. Isso já é visível, por exemplo, no meu ambiente profissional – onde estou mais animada e trabalhando em cima da minha evolução profissional. No âmbito pessoal, estou menos ansiosa e mais animada também em comparação com o período pré-depressivo pelo qual passei anteriormente”.