A tradicional festa do Divino Espírito Santo

Itu ainda guarda atividades da cultura religiosa popular, remanescentes do tempo colonial. No início do século XVIII já se celebrava por estas bandas a solenidade de Pentecostes com grande participação da comunidade, o que ficou marcante na cultura regional paulista.

A tradição é Ibérica e se espalhou de Itu para cidades da região: Porto Feliz, Piracicaba, Tietê, Laranjal Paulista e Capivari. Em cada lugar uma peculiaridade, mas a raiz é a mesma: o louvor ao Divino Espírito Santo, terceira pessoa da Santíssima Trindade, na cultura do povo, o Deus do futuro, da esperança, da bonança, a quem se pede luz.

A festa tem início no domingo de Páscoa, quando o Pároco benze as imagens que serão levadas para a zona rural. Nos sítios se pedem prendas, na visita às famílias que se comprometem a contribuir para o grande dia. Há alguns anos o Instituto Cultural de Itu reviveu a folia tradicional, com visita da Bandeira do Divino a sete casas, com reza e louvações. Dois violeiros e a percussão entoam o pedido de pouso: “Deus vos salve a casa santa, onde Deus fez a morada, onde está o Divino Espírito e a Hóstia Consagrada”. O curador faz a reza e a Bandeira permanece algumas horas na casa, para o povo fazer pedidos ao Divino e louvar os seus sete dons: Sabedoria,  Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor de Deus. Os dons são representados por fitas coloridas, que enfeitam a Bandeira. É tradição dar nós nessas fitas com pedidos de saúde, paz e prosperidade. Em um domingo a Bandeira desfila, em cortejo, as ruas centrais de Itu.

O guardião da festa é o Alferes, que conduz a bandeira, que a enfeita e carrega nos pousos.

A festa do Divino coincide com o término da colheita, portanto é uma celebração de fartura. O dono da casa dá de comer a toda a gente, enquanto se cantam as modas de viola.

Na igreja há o tríduo solene, às vésperas de Pentecostes. Revive-se o tradicional Império do Divino, representação histórica em que a rainha Santa Isabel, por ter recebido a visão do Espírito Santo, dedicou a Ele o reino de Portugal, entregando-Lhe a coroa e o cetro. Há mais de 200 anos as crianças representam a corte, vestidas de rei, rainha e pajens. O cortejo vai da casa do império à igreja, para depositarem as insígnias reais aos pés do Divino.

No sábado o desfile de carro de bois trazia lenha dos sítios para ser abençoada e leiloada na porta da igreja, bem como outras prendas como boizinho, leitões e doces. A renda era destinada às obras sociais. Ainda se faz um desfile com estudantes e cavaleiros, rememorando essa velha tradição.

No domingo a procissão encerra todas as celebrações. Antigamente o povo agradecia ao Divino com um solene Te Deum, cuja belíssima composição o maestro Tristão Mariano nos deixou. A quermesse é o momento de congraçamento do povo todo, unido pela fé. É uma celebração de forte protagonismo dos leigos, que só deve ser valorizada e ampliada.

Luís Roberto de Francisco

Cadeira nº 30 I Patrono Tristão Mariano da Costa