Turma da Mônica – Laços

Por André Roedel

Adaptar qualquer obra de uma mídia para outra é tarefa difícil. É necessário respeitar as características dos personagens e da trama, mas entendendo os limites (ou a falta de) da nova mídia. Por isso, era de se ficar com o pé atrás quando foi anunciada a adaptação cinematográfica dos principais personagens dos quadrinhos nacionais: a Turma da Mônica.

Porém, o filme que estreou no final de junho – com o subtítulo Laços – não adapta para as telonas a versão da turminha que estamos acostumados a ler desde a infância. Aqui, o roteiro é inspirado em uma graphic novel escrita e desenhada pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi em 2013, uma das primeiras do selo Graphic MSP – que, basicamente, deixa que outros autores “brinquem” com os personagens criados por Mauricio de Sousa.

E o filme mantém o mesmo clima delicioso do gibi, adicionando elementos que só deixam tudo mais lindo. A obra dirigida pelo ótimo Daniel Rezende (de Bingo – O Rei das Manhãs) é leve, colorida e pueril. Tem aquele ar de filme enlatado da “Sessão da Tarde”, mas com toques tupiniquins. É mais ou menos o que seria se Conta Comigo fosse filmado aqui. Aliás, existem cenas idênticas ao clássico de 1986, dirigido por Rob Reiner.

O elenco mirim é mais do que acertado. Todo o processo de escolha dos quatro jovens atores que viveriam a turma foi longo, mas resultou em escolhas certeiras. As crianças são carismáticas e o Cebolinha de Kevin Vechiatto louba a cena. Talvez até demais, roubando o protagonismo que deveria ser, obviamente, da Mônica de Giulia Benite. Gabriel Moreira como Cascão vai bem, mas eu, particularmente, fiquei encantado com Laura Rauseo, que faz a Magali, desde a vez que a vi na última Comic Con Experience (CCXP). Promissora!

Do elenco coadjuvante, que conta com alguns globais, o destaque fica mesmo para Rodrigo Santoro. Um dos principais atores do Brasil faz uma participação pra lá de especial como o Louco. A cena dele, aliás, não estava na graphic novel e foi mais um elemento adicionado pelos roteiristas do filme que ajudaram a manter o clima fantástico das histórias em quadrinhos. Porque Turma da Mônica – Laços pode ter sido feito com atores de carne e osso, mas continua com a leveza dos gibis.

E é isso que faz o longa ser uma das melhores obras infantis do Brasil de todos os tempos. O material criado pelo gênio Mauricio de Sousa se mostrou tão atual que certamente veremos continuações de Laços – que, claro, tem seus problemas, principalmente pela evidente falta de orçamento. Mas essas dificuldades são superadas com o talento de Daniel Rezende, o maravilhoso casting e uma história de amizade e respeito que há muito tempo não era contada no Brasil. Vale o ingresso!