Uma nova política

Por André Roedel*

A eleição do último domingo (07) foi focada na disputa presidencial e na possibilidade de vitória em primeiro turno do candidato Jair Bolsonaro (PSL) – o que não aconteceu. O capitão da reserva disputará a faixa de presidente da República em segundo turno dia 28 contra Fernando Haddad (PT), sendo amplo favorito para a vitória. Porém, com a atenção voltada a este embate, os eleitores acabaram esquecendo da composição da Câmara dos Deputados e da Assembleia Legislativa.

Itu viu mudança em seus representantes. Se antes eram quatro – dois federais e dois estaduais –, agora temos três. Missionário José Olímpio (DEM) e Rita Passos (PSD) não conseguiram renovar seus mandatos, Herculano Passos (MDB) e Rodrigo Moraes (DEM) se reelegeram e Mônica Seixas (PSOL) é a novidade em São Paulo. Ela, a mais votada entre todos os candidatos locais, foi uma surpresa para muita gente – mas não para quem vem acompanhando a política com atenção desde as chamadas Jornadas de Junho de 2013.

Eleita para o primeiro mandato como a 10ª mais votada no Estado, com quase 150 mil votos, a jornalista vem participando desde aquele mês de movimentos sociais e manifestações em Itu, região e também na capital paulista. Mônica foi desenvolvendo o lado ativista cada vez mais, o que resultou na sua aproximação junto a “Bancada Ativista”.

Movimento suprapartidário, a “Bancada” veio com uma proposta diferente para ocupar a política em meio a essa crise de representatividade que o eleitor brasileiro atravessa. Um grupo de nove ativistas de diversas pautas, encabeçado por Mônica, se candidatou para uma cadeira na Alesp. Com o mote “multiplique o seu voto”, a “Bancada Ativista” conseguiu abranger inúmeros municípios de uma forma que um só candidato não conseguiria.

A proposta ganhou adesão de eleitores mais à esquerda do espectro político, é claro (muito por ter saído sob a legenda do PSOL, partido que concedeu a candidatura independente ao grupo), e também de pessoas da mídia como Marcelo Tas e Astrid Fontenelle. Com votos concentrados na capital (mais de 80 mil), a “Bancada” também cativou muitos eleitores no interior. Em Itu, foram 2.195 votos.

No geral, os números do último pleito mostram que uma nova forma de fazer política tem conquistado os eleitores. Que propostas inovadoras podem – e devem – ter vez. A chamada “velha política” vai perdendo espaço, apesar de ainda ter seus adeptos. A renovação na Alesp, por exemplo, foi de 55%. Já a renovação no Congresso Federal foi um pouco menor, de 47,3% – o que representa 243 novos deputados do total de 513. Muitas novidades foram impulsionadas pelo “bolsonarismo” (tanto que o PSL cresceu exponencialmente), mas houve lugar para outras ideologias.

O partido NOVO, por exemplo, conquistou oito cadeiras na Câmara dos Deputados e quatro na Alesp. Eduardo Ortiz, ex-vereador de Itu e que tentou uma vaga de deputado estadual, não se elegeu, mas surpreendeu e ficou como suplente. Fez 9.833 votos, sendo 5.573 em Itu, gastando menos de R$ 17 mil numa campanha que, seguindo as diretrizes da legenda, não usou dinheiro público.

Deixando de lado o impacto que os resultados podem ter na política ituana, estadual e nacional, o que fica de experiência dessa campanha de 2018 é que o povo começa a mudar seus hábitos na hora de votar. As mídias sociais já são vitais e quem tem poder de dialogar através desses meios já sai na frente. Mas isso tem que vir acompanhado de novas práticas, novas maneiras de enxergar os cargos públicos. Se ainda temos a incerteza no cenário presidencial, temos a certeza de que uma nova política vai começando a despertar na esfera legislativa.

 

* É jornalista e chefe de redação do Jornal Periscópio.