Vidro

Por André Roedel

Todo mundo espera alguma coisa de um… filme de M. Night Shyamalan! O diretor indiano naturalizado norte-americano sempre entrega longas-metragens complexos, com subtemas interessantes e permeados de bom suspense – com exceção da insalvável adaptação do desenho Avatar. Foi assim com o aclamado O Sexto Sentido e os dois ótimos capítulos iniciais de sua “trilogia de super-heróis”, Corpo Fechado e Fragmentado.

Com Vidro, a conclusão que chegou aos cinemas na última semana, a expectativa era que o nível só subisse. Porém, tamanha perspectiva dos fãs não foi confirmada. O filme é bem resolvido, tem boas atuações e uma história empolgante, mas a execução não é bem o que os “shyamalovers” tinham em mente.

Sequência direta do surpreendente Fragmentado, Vidro reúne todos os personagens desse universo compartilhado para uma grande sessão de terapia. David Dunn (Bruce Willis), Kevin Crumb (James McAvoy) e Elijah Price (Samuel L. Jackson) estão confinados em um hospital psiquiátrico, sob os cuidados da Dra. Ellie Staple (Sarah Paulson, a única novidade do elenco).

Para a médica, os três desenvolveram uma espécie de paranoia que os faz acreditar que são superseres. Em meio a isso, Dunn e Kevin (o homem de 24 personalidades diferentes) travam um combate sob o olhar atento de Price, o especialista em revistas em quadrinhos com frágeis ossos e que passa a atender pela alcunha de Senhor Vidro.

O grande problema do filme para mim é que Shyamalan abandona boa parte da estética empregada nos demais episódios e escancara que se trata de uma produção de super-heróis. Desde as cores até o estilo de movimentação das câmeras dão um ar mais de filme de ação para Vidro, e não de suspense como deu mais do que certo no passado.

As atuações são boas, mas deixam a desejar em certos momentos. Achei Samuel L. Jackson subaproveitado – o filme era pra ser dele, oras! – e McAvoy não conseguiu repetir a interpretação extraordinária de Fragmentado, até por ter menos tempo de tela. Willis, por sua vez, está apagado e poderia ter mais destaque. Do elenco secundário, Sarah Paulson está mecânica e Anya Taylor-Joy vai bem.

No final, a saída encontrada por Shyamalan se não foi a mais acertada ou original, funciona bem. É possível comparar sua trilogia com outra trinca: a do Batman de Christopher Nolan, que atingiu o ápice no segundo longa. As questões abordadas são de igual importância, apesar de distintas. No longa de Shyamalan, ele finaliza deixando uma pergunta na cabeça do espectador. Uma dúvida que pode vagar pela mente da pessoa por anos – e não vou revelar para não estragar a experiência. Mas existe uma certeza: Vidro poderia ser melhor. Ainda assim, vale o ingresso.

Nota: 3,5 estrelas