“1917” apresenta inegável competência técnica e “alma” de Oscar
Por André Roedel
Um dos fortes concorrentes ao Oscar 2020, 1917 não é só mais um filme de guerra. É um filme sobre perseverança, companheirismo, dor e perda. Dirigido e roteirizado por Sam Mendes, a produção vem abocanhando os principais troféus na temporada de premiações não por acaso. A competência técnica demonstrada pelo cineasta britânico é inegável, mas o longa ainda demonstra ter “alma”.
Mendes conta uma história baseada em um relato de seu avô – que lutou na Primeira Guerra Mundial. O filme mostra dois soldados britânicos (vividos por George MacKay e Dean-Charles Chapman) atravessando o campo de batalha – incluindo territórios inimigos – para avisar um coronel (Benedict Cumberbatch) que suspenda um ataque. Com isso, milhares de soldados serão salvos. Apenas parte da trama é realmente inspirada em fatos. De resto, o roteiro imagina situações e, com poucos diálogos, coloca o espectador dentro do combate.
Para ampliar essa experiência, o filme utiliza a técnica do plano-sequência – que consiste na gravação de uma cena inteira sem cortes aparentes. E 1917 é filmado em dois enormes “planos-sequência” (entre aspas, porque há cortes imperceptíveis a cada segmento), aumentando o imediatismo e a tensão que a trama impõem. O recurso, que já foi usado em obras como Festim Diabólico (1948), de Alfred Hitchcock, é lindamente explorado por Sam Mendes. E ainda ganha brilho com a excelente direção de fotografia de Roger Deakins, premiado com o Oscar pelo excelente Blade Runner 2049, que eleva para uma categoria acima.
Mas nem tudo me conquistou em 1917, é claro. A história extremamente simples (temos apenas dois soldados indo do ponto A ao ponto B para entregar uma mensagem, enfrentando desafios que parecem fases do game Call of Duty) e a falta de uma interpretação marcante (MacKay se sobressai, mas os demais figurões do elenco, que conta com nomes como Colin Firth e Mark Strong, fazem apenas pontas) distanciam o espectador em alguns momentos e torna o filme “arrastado”.
Outro porém é o subtexto do filme, que por vezes glamouriza a guerra. Mas isso é algo muito pessoal da minha parte. Há quem ache 1917 uma grande crítica ao conflito, expondo tudo que há de podre em uma batalha dessa proporção. Só que nem todos esses apontamentos tiram o impacto e a qualidade de 1917, que conta com nível máximo de excelência em praticamente todas as categorias técnicas e deve ser o maior vencedor do prêmio da Academia neste ano – inclusive sendo o mais cotado para o Oscar de Melhor Filme. A conferir!
Nota: ☆ ☆ ☆ ☆ ½