Itu celebra centenário de João Bispo
A Academia Ituana de Letras (ACADIL), com apoio do Jornal Periscópio, celebra o centenário de nascimento do Professor João dos Santos Bispo, em 05 de agosto. Em prosa e verso, os acadêmicos lembram esse grande ituano que, ao longo de décadas, contribuiu incansavelmente para a Educação e a Cultura de nossa cidade.
“Homem de rara gentileza e abundante cultura, valorizada por seu apego ao Humanismo e a Ética, educador e orador brilhante, João Bispo será sempre exemplo a ser seguido e reverenciado. Em tempos tão desalentados como esses que vivemos, sua falta é ainda maior”, afirma Allie Marie Queiroz, presidente da ACADIL.
“Falta-nos suas palavras sábias e tranquilas, seu entusiasmo com os livros, o profundo conhecimento das histórias do passado longínquo e do mais recente da cidade, de fatos e personagens que discorria com desenvoltura e satisfação. Falta-nos, sobretudo, a janela de sua casa aberta, o sorriso maroto e a prosa envolvente”, finaliza.
João dos Santos Bispo nasceu em Itu aos 05 de agosto de 1920, filho de Aurora Esteves Santos e de Joaquim Luiz Bispo; casou-se em 1944 com Laura de Castro Cintra, de cujo consórcio nasceram os filhos: Abelardo (falecido), Paulo Emílio, Afonso Celso e Jorge Luiz. Matriculou-se no Externato São José, anexo ao Colégio do patrocínio e, depois, transferiu-se para o Grupo Escolar “Dr. Cesário Mota”, onde concluiu o curso primário, em 1931, e completou o Curso de Ensino Secundário no Ginásio do Estado de Itu, em 1936.
Diplomou-se professor em 1939, na Escola Normal do Ipiranga, em São Paulo, licenciando-se em Pedagogia na Faculdade de Filosofia, Ciências de São Bento, na capital, em 1943. Lecionou Filosofia e Sociologia no Colégio Estadual e Escola Normal “Dr. Francisco Tomaz de Carvalho”, em Casa Branca/SP, onde também foi vice-diretor e diretor. Foi transferido para Itu, por concurso, para o Colégio Estadual e Escola Normal “Regente Feijó”, onde se aposentou em 08 de novembro de 1987. Faleceu aos 93 anos, em 27 de julho de 2013 em Itu.
Confira os depoimentos dos acadêmicos:
“Conheci o mestre João dos Santos Bispo em Casa Branca, onde ele foi meu diretor no sempre tradicional Colégio Estadual e Escola Normal Prof. Francisco Thomaz de Carvalho, onde eu cursava o ginásio. Dono de uma invejável erudição, orador nato e emérito, algumas das muitas outras qualidades que o projetaram para um horizonte de muitos amigos e admiradores. Era sempre muito requisitado por todos os setores da sociedade ituana, por pessoas que nunca se furtaram do prazer de ouvi-lo. Cada palestra ou pronunciamento seus, eram verdadeiras epopeias literárias, em que se fazia sentir também outra qualidade muito sua: o grande conhecimento que tinha do nosso vernáculo. O meu abraço à sua memória! Para sempre, do amigo e aluno”.
Inaldo Lepsch
“A característica do cidadão, professor João dos Santos Bispo – e muito marcante – sempre fora a lhaneza no trato, para quantos o viessem a conhecer. Certa feita, numa das costumeiras visitas que lhe fazia, ficamos ambos surpreendidos com determinado fato, sem saber a causa daquele pormenor. De pronto, a dúvida se instalara, sem solução. A conversa tomou outro rumo e tudo bem. Três ou quatro dias depois, ouço a campainha e – que agradável surpresa – era ele, o professor. Entrou e trouxe o entendimento da matéria, obscura a princípio e agora finalmente dissecada. O mais importante nessa ocorrência: Sua Senhoria, a essa época, já se achava algo debilitado e quase não mais saía para as habituais andanças matinais, na Floriano. Ademais, resido à rua Maestro Elias Lobo, que nasce no Carmo e segue até a rua Maestro José Vitório. Normal para se descer as três quadras, mas razoavelmente íngremes no seu retorno. Sugeri levá-lo, mas ele se dissera afeito a breves deslocamentos, aqui e ali. Voltou a pé. Esse o saudoso mestre, seu João, que aprendemos a conhecer e admirar. Todo ele, atenção e fidalguia”.
Bernardo Campos
“Conheci o Prof. João dos Santos Bispo no sobrado da família, tempo de D. Aurora, sua mãe. Ele e a irmã, Maria Cecília, eram a parte intelectualizada da acolhedora família portuguesa. Depois o encontrei como diretor no Regente Feijó. Ali o atencioso educador atendia com carinho o menino imaturo e desatento. Na juventude tive o privilégio de conviver com o bom filósofo, de enorme paciência com o neófito. Algumas vezes o acompanhei ouvindo gravações de Beethoven e Offenbach naquela sala de música, ao lado de sua biblioteca; falava-me com encantamento de seu mestre de música, Nhonhô Tristão. João Bispo nos ensinou a ler e ouvir o que se produziu de melhor no universo das letras e das artes. Diariamente mantinha notável exercício de enlevo com a cultura. Um sábio!”
Luís Roberto de Francisco
“Quando me aproximo da estante de livros de poesia, proximidade constante nesta quarentena, lembro-me com saudade do professor João dos Santos Bispo. Nela marcam presença exemplares de um Fagundes Varela, de um Martins Fontes, de um Drummond e dos inspirados poemas de Edvar Carmilo. Se levanto o olhar para a prateleira de cima vejo um Sérgio Milliet e dois Aluísios de Castro, que pertenceram a meu pai. Essas belíssimas obras poéticas nos foram presenteadas por João Bispo, o grande e saudoso amigo bibliófilo. João Bispo centenário? Mal posso acreditar… Na memória ainda o guardo moço e elegante, na lírica eloquência ao ritmo dos versos que costumava dizer de cor, encantando-nos a todos com a fluência de sua oratória brilhante!”
Maria Lúcia A. de Marins e Dias Caselli
Menino João, de esquina
Em esquina, conversa, fala;
Não cala, apenas ensina
Quanto a vida é fugaz;
Precisa dela apenas fazer
Um sonho, leve quimera
E quem dera, viver em paz.
Durce Gonçalves Sanches
Obrigada JP por estar junto com a Acadil celebrando um grande ituano!
COMO HOMENAGEM E ETERNA GRATIDÃO AO QUERIDO E INESQUECÍVEL MESTRE, SUGIRO Á
ACADIL A CONSTRUÇÃO DE UMA ESTÁTUA JUNTO AO COLÉGIO REGENTE FEIJÓ QUE ELE TANTO AMOU. UMA CAMPANHA NESSE SENTIDO TERIA GRANDE PARTICIPAÇÃO DE TODOS OS ALUNOS
QUE O ADMIRAVAM. QUE TAL PENSAR NO ASSUNTO