Obras inacabadas de prédio atormentam moradores do bairro Cruz das Almas
Em 2013, moradores da Rua Sorocaba e imediações, no bairro Cruz das Almas, viram a vida ganhar preocupações com o início das obras do Residencial Blanc. O que era para ser um empreendimento que iria valorizar ainda mais a área acabou por virar um pesadelo.
O “esqueleto” dos prédios foi erguido, porém as obras seguem inacabadas, aproximadamente oito anos depois de iniciadas, uma vez que o antigo proprietário vendeu o espaço e a construtora responsável (Paulo Afonso) entrou em recuperação judicial, tendo pessoas que compraram o apartamento na planta entrado com ações judiciais.
O Periscópio, assim como outros veículos de comunicação da cidade, acompanha a situação durante todo esse período, tendo noticiado diversos tipos de reclamações em relação à área abandonada, seja pelo acúmulo de água e mato, que gerou preocupação e ainda gera em relação à dengue, seja pelo aparecimento de animais como escorpiões nas casas vizinhas aos prédios.
Recentemente, de acordo com os moradores do bairro, a preocupação também passou a ser em relação à segurança. Uma residente da Rua Cruz das Almas (paralela a via em que se encontram os prédios), que não quis se identificar, comenta que pessoas sem condições de pagar aluguel estariam invadindo os apartamentos inacabados da área.
A moradora diz ter “presenciado um homem com um pedaço de madeira saindo do local frequentemente. Na região, residem muitos idosos que estão sentindo medo, pois as pessoas ficam pedindo comida, dinheiro e se negam, elas ficam batendo no vitrô, xingam”.
A mulher destaca que os moradores das imediações se sentem acuados em seus lares. “A situação está se agravando muito, está um lugar perigoso. Começaram a invadir em novembro. Tem um casal com mulher grávida, que fica pedindo comida e quando se recusam batem na janela, xingam. Dá medo, pois não sabemos do que são capazes”.
Outra moradora que preferiu o anonimato reforça a insegurança. “Estamos passando muitas dificuldades e medo. Temos visto pessoas entrarem no local para usar drogas e fazer outras coisas. Também temos visto pessoas entrarem na área com caminhonete e retirar materiais de dentro do prédio. Isso sem falar do mato alto e dos escorpiões. O tapume está todo quebrado. Temos a preocupação também com a grua, quando chove e venta forte, tenho muito medo dela cair. Acabou a paz”, desabafa.
Uma terceira residente do bairro, esta da Rua Sorocaba, relata que, na semana passada, duas mulheres se assustaram com a tentativa de abordagem de dois homens que saíram daquela área. “Os dois aproveitaram que não tinha muito movimento e foram em direção a elas e as duas, assustadas, caminharam em direção a uma residência em que um morador saía. Com isso, os dois homens entraram novamente no prédio”, explicou.
O JP esteve no local, na manhã da última quarta-feira (17), e constatou que o tapume da área se encontrava derrubado, em toda a sua extensão, o que facilita o acesso à construção inacabada. A reportagem também verificou no momento de sua visita ao local que nenhuma pessoa se encontrava no prédio, porém, em contato com uma outra moradora da Rua Sorocaba, a mesma disse que os “andarilhos só chegam aos prédios para dormir” no período da noite.
Construtoras
Durante o contato com os moradores das imediações dos prédios, a reportagem foi informada por uma das reclamantes que a área teria passado para a responsabilidade do Banco Plural. O JP então entrou em contato com a empresa, que por meio de nota informa que “o Grupo Plural esclarece que nenhuma empresa de seu grupo é titular do imóvel em referência, bem como nenhuma empresa do Grupo Plural tem qualquer relação com a Construtora Paulo Afonso”.
“A BRPP Gestão de Produtos Estruturados Ltda., empresa do Grupo Plural, assumiu recentemente a gestão de 02 (dois) fundos de investimentos, Tower II Renda Fixa Fundo de Investimento IMA-B 5, e Elleven Fundo de Investimento Renda Fixa IMA-B 5, credores da Construtora Paulo Afonso, que é o proprietário do matrícula do imóvel e responsável pela sua manutenção”, acrescenta.
“Como gestora dos fundos supramencionados, a BRPP também reforçou o pedido à Construtora Paulo Afonso para que tome as devidas providências sobre a invasão e a manutenção do local. Cumpre esclarecer que os fundos de investimento acima referidos e atualmente geridos pela BRPP adquiriram, no passado, antes da gestão pela BRPP, créditos cuja responsabilidade pelo pagamento é da Construtora Paulo Afonso”, conclui.
O JP tentou contato com a construtora Paulo Afonso, via e-mail e telefone, porém não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Prefeitura
A respeito das denúncias de invasão nos prédios, o JP questionou a Prefeitura de Itu, que informa que o Serviço de Abordagem do Centro Pop, ligado à Secretaria Municipal de Promoção e Desenvolvimento Social, realiza visitas sistematicamente a núcleos onde se encontram pessoas em situação de rua.
A ação, de acordo com a administração municipal, tem como o objetivo de orientar e ofertar os serviços da assistência social, criando condições dignas que levem a uma nova perspectiva de vida.
“Nos prédios citados já foram realizadas visitas e a assistente social identificou apenas um homem, que teve seu caso analisado e está sendo devidamente orientado. O serviço de abordagem do Centro Pop é contínuo e novas visitas serão realizadas”, acrescenta a administração municipal em nota.