Artigo: Academia contra a pobreza
Por José Renato Nalini*
O indiano Abhijit Banerjee e sua mulher Esther Duflo, criaram um laboratório de Ação contra a Pobreza em 2003. Ambos são professores do famoso MIT – Instituto de Tecnologia de Massachussetts e sua proposta é criar estratégias de redução da pobreza.
Em virtude de seu trabalho, receberam o Nobel de Economia em 2019, juntamente com Michael Kremer. Uma das ideias que eles desenvolveram: colocar um dispensador de cloro junto ao local onde os humildes habitantes de aldeias hindus se abastecem de água. O cloro evita a proliferação de bactérias e, com essa medida simples, protegeu-se a infância que, antes disso, era mais sujeita a comorbidades e até à morte.
Hoje, o laboratório já conta com 261 professores, espalhados em várias Universidades do mundo.
O relato da experiência está no livro “A Economia dos Pobres – Uma nova visão sobre a desigualdade”, publicado pela Zahar. E deveria inspirar as Universidades brasileiras. A disseminação de cursos universitários no Brasil é uma realidade. E a Constituição é bastante explícita quanto aos pilares sobre os quais se assenta a educação de nível superior: ensino, pesquisa e extensão.
Do ensino, em geral dá-se conta. Pesquisa é algo mais raro. Extensão, quase nenhuma. Ora, por que não encarregar os universitários de relacionarem os problemas enfrentados pelos carentes, pelos despossuídos e criarem respostas simples para a resolução desses óbices?
A participação do estudante na eliminação de uma dificuldade, na facilitação da vida de quem já sofre por ser excluído do banquete do capitalismo selvagem, daria outro interesse e empenho ao aprendizado. Um dos pontos mais falhos da educação brasileira é a distância entre a teoria e a prática. A escola nem sempre contempla a vida real. Permanece na tosca missão de fazer o aluno decorar informações, esquecida de que hoje, com a sociedade totalmente digitalizada, basta um clique para a obtenção de dados atualizados, com celeridade, segurança e garantia muito maiores do que a de uma postila.
O número de Faculdades existente no Brasil justifica uma atuação coordenada para mudar a face da sociedade tupiniquim, cuja miséria foi escancarada pela pandemia. Mais importante do que entregar diploma, é fazer com que o universitário tenha consciência das carências do povo sofrido, cuja elevada carga tributária sustenta toda a estrutura de ensino.
*É reitor da UNIREGISTRAL, docente da pós-graduação da UNINOVE e Presidente da Academia Paulista de Letras – 2021-2022.