Artigo: Não é para comemorar
Por José Renato Nalini*
Somos um povo festeiro, que encontra pretexto para celebrações e que gosta de exteriorizar seu ufanismo. Só que o panorama global é motivo para preocupação e angústia, menos do que razão para festejar.
Os cientistas estão exauridos de tanto conclamar a humanidade a levar a sério a mudança climática. Essa é a maior ameaça à sobrevivência da espécie nos próximos anos. Muito discurso, pouca ou nenhuma ação no sentido de refrear a volúpia do consumismo e o irresponsável uso de combustíveis fósseis, causadores do efeito estufa, em virtude da emissão de gases venenosos.
Os números da mudança climática são aterradores. O ano de 2023 registrou aumento de 1,4 graus centígrados na temperatura mundial. Não foi só muito mais quente se comparado aos níveis pré-industriais, de acordo com a OMM – Organização Meteorológica Mundial. Foi muito mais grave: 2023 foi o ano mais quente nos últimos cento e vinte e cinco mil anos! Não é achismo, nem catastrofismo: são dados do respeitado observatório climático europeu Copernicus.
Esse fatídico ano registrou a emissão de 36,8 bilhões de toneladas de gás carbônico, tudo por causa da teimosia em se utilizar de combustíveis fósseis: petróleo, gasolina, óleo diesel e o pavoroso carvão. Houve aumento de 1,1% nas emissões, em relação a 2022. Alguém acredita que até 2030, e faltam apenas seis anos, haverá redução de 43% nessa emissão nefasta, para cumprir o limite de 1,5º C, de acordo com o ajustado no Acordo de Paris?
Em 2009, os países desenvolvidos se comprometeram a fornecer cem bilhões de dólares por ano, para financiamento climático nas nações mais pobres até 2020. Promessa descumprida, como ocorre nesse âmbito de irresponsabilidade ecológica. Os governos sequer avaliam a economia que fariam se honrassem sua palavra. Pois a cada bilhão de dólares empregados no combate às inundações costeiras, evitar-se-ia o gasto de catorze bilhões em danos econômicos.
E o que resultou da COP 28? A Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas realizada em Dubai, nos Emirados Árabes, de 30 de novembro a 13 de dezembro, contou com mais uma promessa: oitocentos milhões de dólares para perdas e danos climáticos. Compromisso de triplicar as energias renováveis e duplicar a eficiência energética até 2030. Pífia aprovação da transição dos combustíveis fósseis, com expressa vedação a qualquer menção no sentido de se eliminar o petróleo. Quando os sobreviventes quiserem cobrar por essa omissão criminosa, os responsáveis já estarão mortos. Triste sina a de uma raça que não tem juízo.
*É Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-Graduação da UNINOVE e Secretário-Geral da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS.