Saúde em Foco: Sobre a dor – 2° parte
Por Dr. Eneas Rocco*
Em coluna anterior, apresentamos pontos importantes sobre os tipos de dor, a medida subjetiva de sua intensidade, suas variações quanto à duração, localização e outras características.
Por tratar-se de assunto prevalente e complexo, retornamos ao tema, para abordar mais algumas questões peculiares dos diferentes tipos de dor.
Múltiplos aspectos devem ser observados, para descoberta da origem da dor através da história clínica e exame físico. Exames complementares devem ser realizados já com definição das hipóteses diagnósticas.
A dor localizada aponta com maior chance para dores de origem superficial. A dor mais profunda, no entanto, se relaciona geralmente com uma origem visceral.
Dores que aparecem a intervalos como as cólicas, falam a favor de contratura muscular de vísceras ocas como os intestinos, o útero, a vesícula biliar.
O caráter em queimação que aparece no epigástrio (“boca do estômago”) em geral refere-se a problemas estomacais como a úlcera péptica. Em casos de esofagite, a sensação também pode ser de uma queimação no meio do tórax.
O paciente sempre deve relatar, eventual relação da dor com a deglutição, ou à micção, à menstruação, à ingestão de gorduras, pois cada uma delas guarda relação com situações clínicas mais ou menos específicas.
Dores latejante como a dor de dente e a enxaqueca, também são bem características.
A pesquisa dos fatores que melhoram ou pioram a dor, também deve ser considerada, pois agrega ao diagnóstico da causa da dor. Por exemplo, a melhora com a ingestão de alimentos, se relaciona à mudança do pH do estômago melhorando o desconforto. A dor no peito que surge com o esforço e melhora com o repouso, tem enorme possibilidade de associar-se com problemas do coração.
A irradiação da dor também auxilia na descoberta da causa, como é o caso da dor do nervo ciático, iniciada na região lombar com irradiação para as pernas.
O primeiro livro que tive a oportunidade de ler depois de formado, era sobre dor. O Dr. Radi Macruz, do hospital das clínicas de São Paulo, um dos nossos maiores professores de cardiologia, editou, há quase cinquenta anos, o livro “Dor Torácica”.
Tratava-se de uma obra que pautava questões de semiologia, revelando mais de vinte razões para a dor torácica. O maior ensinamento dessa obra, é a chamada de atenção, para o fato da dor nunca apresentar uma causa isolada, havendo sempre possibilidade de associação de mais de um mecanismo em sua origem.
Fatores de ordem psicológica estão frequentemente presentes, face a insegurança que a de dor trás, e sua presença, mascara as características da dor original. Além disso, pode haver a concomitância de dor originada de outra estrutura, aparecendo em região próxima à da manifestação inicial, trazendo ainda mais dúvidas.
Exemplo típico dessas circunstâncias, pode acontecer em pacientes com infarto agudo do miocárdio, cuja principal manifestação é a dor torácica intensa. Ocasionalmente, a área infartada pode comprometer o pericárdio- membrana que envolve o coração- ocasionando dor decorrente desse processo inflamatório, que pode modificar as características da dor original.
Enfim, a descoberta da origem de um processo doloroso, às vezes é bastante óbvia. Outras vezes trabalhosa e demorada. Em quaisquer circunstâncias, esse trabalho depende bastante dos elementos fornecidos pelo informante e do conhecimento das causas e da fisiopatologia pelo médico que faz aqui o papel de detetive! Boa semana a todos!
*Dr. Eneas Rocco (CREMESP 25643) é formado pela Faculdade de Medicina da PUC-SP – Campus Sorocaba, com especialização pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e Hospital Matarazzo de São Paulo.
Independente da origem e causa, sentir dor é muito ruim!! Obrigada pelas informações!
Mais um vez o colega, amigo e quase irmão, o Dr. Eneas Rocco, fala com muita propriedade desse sintoma maior que é a dor. Simples e elucidativo, como sempre! Parabéns amigo!