Saúde em Foco: As lições deixadas pelas Olimpíadas

Por Dr. Eneas Rocco*

Os Jogos Olímpicos terminaram, mas ainda estão bem frescos em nossas mentes e bem aquecidos em nossos corações. As sensações que essa avalanche de jogos nos deixa, são sempre intensas e duradouras.

Os parisienses nos brindaram com ingredientes inesquecíveis, alguns já presentes em versões anteriores, mas com relevo ainda maior nesta jornada, como a participação das crianças na prática do skate; um esporte de lazer, que pela plástica exuberante ganhou status de esporte olímpico. Essa inclusão navega na mesma onda do surfe e de outros esportes que antes não eram considerados “tão nobres quanto os clássicos”. Mas os tempos modernos, gritam um “abaixo a ortodoxia”.

Entre as corajosas iniciativas dos jogos de Paris, figurou a abertura do Rio Sena, que como todos os rios de trajeto urbano, recebe poluição diária. Fez parte do esforço da organização dos jogos, o legado de um rio mais limpo e mais vivo no quotidiano da cidade, e colocando na pauta dos jogos a preocupação que devemos ter diariamente com nossa sobrevivência e das gerações que virão.

Outro aspecto que ficará em nossa memória é a da inclusão étnica representada pelos indivíduos oriundos de diversas nações, que deixaram a sua pátria natal, e vivem em outros países como refugiados. Vestiram a camisa da grande nação olímpica que os recebeu.

Havia de fato um clima de esperança, de paz, e principalmente de repúdio ao ódio, como se viu na competição de vôlei feminino de praia, quando, durante a disputa da medalha de ouro, um princípio de desentendimento entre as atletas na quadra, foi abortado pelo DJ, que elevou o volume do som ambiente, tocando a inesquecível canção Imagine, de John Lennon.  Aliviou o conflito e suavizou os tensos rostos das competidoras, trazendo o sorriso…

Com abertura e encerramento impecáveis, as olimpíadas nos deixam caminhos prontos para serem seguidos:

Nosso Brasil nas últimas edições dos jogos, tem mantido uma performance estável com conquista de medalhas em diversas modalidades esportivas. Já é um avanço, mas podemos caminhar mais. Temos uma área continental com população igualmente gigante. E esse incentivo à prática esportiva não deve objetivar um maior ganho de medalhas, isso é só a consequência. O que nós precisamos, é ver mais gente com a bola na mão, mais gente correndo nas ruas, mais centros de treinamento, mais distribuição de gratuita de tênis, mais possibilidades de deslocamento seguro para nossas crianças, mais merendas, mais alegria de viver para a para o povo de poucos recursos, que é o que nos representa nos jogos, com raras exceções. Tem tanto dinheiro no futebol! Será que não é possível olhar nossos meninos e meninas por outras lentes?

Senhores Ministros da Educação, da Saúde e do Esporte do Brasil, vamos pôr as mãos à obra por favor, neste país com cerca de quarenta milhões de crianças. Elas estarão no auge nos jogos de 2028, se tivermos o olhar no futuro com as ações no presente. E quem sabe não começamos por aí a nossa grande mudança. Por que temos que ser o eterno gigante adormecido?

O esporte consegue ao mesmo tempo contribuir com a educação, a saúde, o espírito agregador e de liderança, a amizade, a diminuição do vício e dos fatores de risco de diversas doenças. O esporte promove indivíduos com poucas chances, ao status de cidadãos admirados pela sociedade de seu país e do mundo todo. Conhecemos inúmeros exemplos em nosso meio e sabemos que não precisa ser só no futebol. O número de esportes olímpicos só aumenta, e nós temos talentos para todos eles. Boa semana a todos!

*Dr. Eneas Rocco (CREMESP 25643) é formado pela Faculdade de Medicina da PUC-SP – Campus Sorocaba, com especialização pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e Hospital Matarazzo de São Paulo.