Sujos contra mal lavados
Por Lucas Gandia
Se aprovo determinado programa social desenvolvido pelo governo federal, sou petralha. Se reconheço o desenvolvimento econômico de São Paulo, sou coxinha. Se critico a gestão de FHC à frente da presidência, sou lulista. Se reclamo da atual instabilidade política, sou tucano. Em uma nação dividida pelo discurso do ódio, como devem proceder aqueles que não querem fazer parte de uma polarização violenta e que apenas contribui para o enfraquecimento do próprio país?
Devemos reconhecer que há muito tempo não se falava tanto de política. Das salas de aula às mesas de bares, o assunto é um só. Isso é ótimo, pois cidadania vai muito além de distribuir votos – obrigatórios – de dois em dois anos. Por outro lado, nunca se debateu política de forma tão rasa e superficial. Em parte, reflexo de uma nação que raramente se interessou pelos (des)mandos de seus líderes. Mas a culpa não é apenas da população. Os meios de comunicação, de forma nada ingênua, continuam contribuindo – e muito – para os feios tropeços de um povo que está começando a andar.
Nos últimos meses, as redes sociais tornaram-se palanques de violência gratuita. Nos espaços virtuais, sobram acusações para todos os lados, em um processo pouco civilizado. Alguns esbravejam que isso é democracia: a liberdade de dizer o que pensa. Peço desculpas, mas não concordo. Primeiro, porque é preciso ter informação e conhecimento para poder opinar; segundo, porque é tolice alguém acreditar que está sendo democrático enquanto apenas rebate de forma violenta qualquer manifestação contrária a sua própria visão de mundo. Se pretendem se tornar “cidadãos engajados”, devem, antes de mais nada, abandonar o papel de crianças mimadas – até porque, convenhamos, o Brasil é muito maior que o Facebook e o Twitter.
Decidida a “lutar pelo fim da corrupção e construir um país melhor”, significativa parte da população está decidida a ir às ruas amanhã (13), em mais um dia de protestos espalhados pelo Brasil. O discurso é lindo, mas a prática é trágica. Vestidos de verde e amarelo – muitos com camisas da Seleção Brasileira de Futebol – os manifestantes gritarão pelo fim de todos os males representados pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Tudo isso, inclusive, estimulado e inflamado em rede nacional pelo próprio PSDB, principal sigla representante da oposição.
Neste caso, não importa que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) esteja envolvida em casos milionários de corrupção e que o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, já tenha sido citado cinco vezes por delatores da Operação Lava-Jato. É claro que a generalização é perigosa, haja vista que muitos brasileiros estão dispostos a realmente lutar nas ruas por um país mais justo. Entretanto, é lamentável constatar que a indignação do povo é seletiva e, justamente por isso, transformada em massa de manobra por uma oposição tão ou mais suja que a situação. Este tipo de movimento, definitivamente, não me representa.
Em Itu, assim como em centenas de outras cidades, haverá protestos neste domingo. Quem acompanhar o movimento com certeza ouvirá berros contra Lula e Dilma, mas, por ironia ou ignorância (prefiro ficar com a primeira possibilidade, embora acredite apenas na segunda), muito dificilmente ouvirá qualquer manifestação contrária a nossos representantes políticos das esferas estaduais e municipais. Aliás, será que todos lembram em quem votaram nas últimas eleições para vereadores e deputados? E mais, fiscalizam os trabalhos dos edis e parlamentares eleitos?
Em momentos de crise moral e ética, sobram almas bem-intencionadas. É duro acreditar: nesse “Fla-Flu” de sujos contra mal lavados, narrado por uma imprensa desonesta, parcial e envolvida, a luta nunca foi contra a corrupção. O que interessa, infelizmente, é apenas o poder.
Aos que preferem protestar, peço que mantenham a civilidade. Aos que preferem se manter afastados, recomendo que não se deixem manipular pelos outros. Em meio a um cenário caótico e desordenado, apenas uma coisa é certa: a vida continua na segunda-feira.