Tapetes de Corpus Christi: tradição cinquentenária se mantém

Iniciada por Alcides Scalet em 1966, atividade prossegue graças ao empenho de seus familiares e toda a comunidade católica da cidade

tapetes

André Roedel

Há 50 anos, o feriado de Corpus Christi na cidade de Itu é marcado por uma tradição religiosa muito especial: a confecção dos tapetes. Iniciada por Alcides Scalet no ano de 1966, a atividade – que volta a acontecer desde o início da manhã da próxima quinta-feira (26), com missa na Igreja Matriz a partir das 16h seguida da procissão do corpo de Cristo – permanece ocorrendo graças ao empenho de seus familiares e de toda a comunidade católica ituana.

O empresário Estevão Scalet, 53 anos, explica como seu pai, hoje com 83 anos, iniciou a tradição. “Ele começou depois de ter visto em uma outra cidade na região de São José do Rio Preto, parece que Matão. Ele achou bonito e resolveu trazer pra cá”. Alcides, que era professor, contou com a ajuda de seus alunos do Colégio Regente Feijó. “Esses alunos gostaram, ele achou que ficou bom e daí pra frente não parou mais”.

Hoje a tradição é mantida por Estevão, pois seu pai, devido à diabetes, já não anda mais. “Eu já participava com ele desde o começo e fui vendo o trabalho, fui ajudando, trabalhando junto e, quando ele não conseguiu mais desenvolver o trabalho por causa da doença, eu assumi. Isso já faz quase 10 anos”, explica o empresário, que conta hoje com o auxílio de seus três filhos, Felipe, Frederico e Ana Cláudia. “Os meus filhos participam também, estão ajudando a manter a tradição”, comenta.

Empenho
E manter a produção dos tapetes coloridos, feitos com serragens coloridas, cal, pó de café, casca de ovo, tampinhas de garrafas, palha de arroz e flores, não é fácil. É necessário muito empenho e colaboração de todas as paróquias da cidade. “A maior parte é trabalho voluntário. A gente trabalha com a Prefeitura, que nos ajuda, e os empresários da cidade. Inclusive nós mesmos bancamos uma boa parte dos custos. Quando a gente não consegue doações ou ajuda de outros empresários, a gente acaba assumindo alguns custos. Estamos mantendo apesar de todas as dificuldades. A gente não quer parar”, relata Estevão.

A confecção dos tapetes conta com apoio de diversas comunidades de jovens, o que agrada o empresário. “Nós temos feito um trabalho junto com os padres para que incentivem os jovens, porque é uma forma de evangelizar também. E tem dado resultado. Catequistas com os seus catequizandos e o pessoal dos movimentos de jovens das paróquias têm aderido e tem dado certo”, comenta. Ao todo são 50 comunidades paroquiais que ajudam na confecção dos quase 2 km de tapetes, que atravessam as principais ruas centrais de Itu.

Faça chuva ou faça sol
Independente do tempo que faça em Itu na próxima quinta-feira, a tradição deve se manter. “Mesmo com chuva a gente conseguiu fazer. Se a chuva for fraquinha, a gente faz. Teve um ano que não foi possível fazer o tapete, porque estava uma chuva muito forte e aí não tem como fazer; a chuva leva embora tudo o que você faz. Sai a procissão, mas sem o tapete. Mas desses 46 anos, isso aconteceu uma ou duas vezes”, conta o empresário.

Novidade
A partir desse ano, Estevão, junto com o Padre Fernando (da paróquia do bairro São Luiz), está buscando trazer a ideia de temas litúrgicos. “Nós estamos fazendo reuniões com o pessoal que trabalha nos tapetes pra ver se a gente consegue que eles tragam mais imagens, por exemplo do ano da misericórdia, da Porta Santa que nós temos aqui na cidade, do Jubileu de Ouro da Diocese. São esses os temas que a gente propôs para o pessoal e vamos ver o resultado na quinta-feira”, relata.

Turismo
Além dos fiéis, a tradição atrai muitos turistas para a cidade. “Em termos turísticos, para a cidade é muito bom. E em termos de evangelização, eu entendo que é melhor ainda. Alguns turistas pedem até para colaborar no tapete. A gente abre um espaço, eles trabalham também e entendem o sentido da procissão. É uma procissão importante, é o corpo de Cristo que passa no meio do povo”, comenta Estevão.

Mais participação
Para os próximos anos, Estevão espera maior participação do povo ituano. “Eu gostaria que o povo tivesse uma participação mais efetiva. É uma procissão importante, é uma procissão que nos ajuda a manifestar a nossa fé e o trabalho na confecção do tapete faz parte da procissão. Então o povo poderia e pode ajudar, colaborar no dia. Venham participar. Nos procurem. Nós estamos na rua a partir das 5 da manhã. Quanto mais gente trabalhando, mais bonito vai ficar esse tapete. E é aberto espaço para todo mundo. É só chegar, colaborar e a gente vai fazer uma procissão mais bonita ainda. É isso que eu gostaria de ver na nossa cidade”, pede.