E o torneio Periscópio?

J.C. Arruda

Bons tempos aqueles! Essa é a frase preferida dos sessentões de hoje em dia. De minha parte, eu costumo dizer que as pessoas não tem saudade do tempo, mas sim da época em que eram jovens. Se eu ainda pudesse escolher, gostaria de ser jovem nos dias atuais pois a vida hoje é sim mais fácil do que naqueles tempos quando, para se ter uma simples bicicleta era necessário muito trabalho e esforço. Uma moto ou uma lambreta então eram sonhos distantes de serem realizados. Carro então, somente os milionários poderiam ostentar. Pois, foi nesse período que nasceu o nosso Jornal Periscópio.

Naquele momento não se tratava de viver do jornal. A proeza era fazer o Periscópio sobreviver, pois inúmeros outros jornais já tinham surgido em Itu para se extinguir logo em seguida. Felizmente, a cidade nunca chegou a ficar sem imprensa, pois a brava A Federação sempre conseguiu sobreviver com dignidade graças à população católica da cidade. As pessoas costumavam brincar dizendo que o vigário falava na missa que “quem não lê a Federação, não tem salvação”.

Mas, inacreditavelmente, o novo “Periscópio” com todos os sacrifícios acabava por pagar seus poucos funcionários em dia. No entanto, quando chegava o final do ano, tinha que pagar o chamado décimo terceiro salário e aí sim, as coisas se complicavam. Foi então que surgiu a ideia de promover o Torneio Periscópio de futebol de salão. O esquema era assim: cada time inscrito pagava uma taxa por atleta e, como sempre havia mais de 60 equipes em média, essa grana dava para pagar o 13° e ainda sobrava para uma festa de fim-de-ano.

Quem se responsabilizava pela organização do Torneio eram os integrantes do Grêmio Paula Souza e do Bossa Nova Futebol de Salão. Os ingressos para a torcida eram cobrados na porta do “Regentão” a quadra coberta da Escola Regente Feijó. Toda rodada resultava em boa renda. Essa renda era revertida uma rodada para o Grêmio Paula Souza e outra rodada para o Bossa Nova. Quer dizer que Grêmio e Bossa Novas sempre tinham dinheiro em caixa para compra uniformes, agasalhos e para excursões que realizavam para jogar em outras cidades, até mesmo fora do Estado.

Tanto gremistas como os bossanovistas vibravam quando havia uma briga durante alguma rodada. A rodada do dia seguinte certamente teria mais público e maior renda. O time que mais causava encrenca era o dos Oficiais do Quartel de Itu. Difícil a rodada que tinha os Oficiais e que não acabava em quebra pau. Assim, mesmo quando o time do quertel era eliminado por uma derrota, a direção do torneio (nós!) sempre dava um jeito para uma repescagem para recolocar os oficiais de volta à quadra…

Mas, a maior briga aconteceu numa decisão que foi levada em sua rodada final para o Ginásio de Esportes da AA Ituana. Deixa explicar uma coisa: naquela época havia muita rivalidade entre os jovens de Indaiatuba e Cabreúva, pois os garotos indaiatubanos quando participavam das Romarias para Pirapora e passavam por Cabreúva, ficavam horas se engraçando com as meninas cabreuvanas. Isso foi criando tal animosidade com os jovens locais. Pois nessa edição do torneio, ficaram para a grande final o Tejusa de Indaiatuba e o Esporte Clube Cabreuvano.

O ginásio estava super lotado de ituanos, mas também com bastante torcida dos dois times. Por precaução, havia pelo menos uns dez policiais para evitar o pior. Foi instalado inclusive um forte sistema de som que alegrava o ambiente e que deveria tocar o Hino Nacional antes do jogo. Era uma festa. Após o hino, começou a partida e desde o começo tendeu para a violência. Antes de terminar o primeiro tempo explodiu o sururu entre os jogadores. Tanto os titulares como os reservas passaram a trocar socos e voadoras. Os policiais entraram na quadra para por ordem na casa. Mas, já era tarde! Também os indaiatubanos e os cabreuvanos da torcida, invadiram a quadra.

Foi aí que o Luizinho Delboux, que era o presidente da Liga, teve a ideia. Correu rápido para perto do Ximbica, que comandava a aparelhagem de som e foi gritando: – “Vai, Ximbica! Coloca rápido uma música para ver se acalma o pessoal!” E dentre as centenas de músicas que poderiam ser tocadas, na pressa pegou a primeira que lhe veio às mãos: o tema do filme “Rock Balboa” que fazia o maior sucesso no Brasil inteiro. Quer dizer, além de alimentar o ânimo guerreiro dos cabreuvanos e indaiatubanos, incentivou também a torcida de Itu a participar do sururu. Felizmente, entre mortos e feridos salvaram-se todos.

Quanto ao jogo em si, nem me lembro se terminou ou não. Do resultado me lembro menos ainda…