Lusos, mas corintianos!
J.C. Arruda
O que me contaram é que o caso se sucedeu recentemente. Teria sido em 2010. Mas, o que aconteceu foi que o casal Pedro Cabral e Dona Maria Carlota veio para o Brasil no início de 2009, quando se iniciou essa crise na Europa que persiste até os dias atuais. Cabral e Maria Carlota, embora sendo proprietários de uma ampla chácara em Trás-os-Montes, região famosa de Portugal, estavam passando por sérias dificuldades financeiras, não conseguiam manter as atividades da propriedade e principalmente a produção de azeitonas e azeite, tendo em vista que as obrigações sociais com os empregados, embora não sendo tão pesadas como no Brasil, mesmo assim encareciam a produção.
Primeiro tentaram vender a propriedade em atividade e não conseguiram. Depois, desativaram toda a produção e insistiram vender a chácara sem encargos para o comprador. Também não apareceu negócio, pois que crise afetou o comércio em todos os setores da vida portuguesa. Foi aí que Maria Carlota lembrou-se dos parentes que estavam no Brasil. Mais precisamente em Itu. Uma irmã dela era casada com o Horácio Gomes de Sá que havia vindo para o Brasil há mais de 30 anos e que se estabelecera em Itu, com sucesso, vendendo roupas de porta em porta. Não foi preciso muito argumento para convencer o marido Cabral da esperançosa tentativa.
Os parentes “brasileiros” acolheram o casal de braços abertos. Mesmo sem conseguir vender a chácara, Cabral trouxe um pouco de dinheiro para começar a vida no Brasil, deixando a chácara aos cuidados de uma família portuguesa que se dispôs a vigiar a propriedade. O casal logo foi se entrosando na cidade. Ambos montaram uma banca de verduras no Mercado Municipal e, trabalhando só com produtos orgânicos, conseguiram boa freguesia. Como já disse, o casal foi logo se adaptando a vida na cidade. Tanto assim que Cabral foi convidado por alguns feirantes para ir assistir um jogo do Ituano contra a Portuguesa de Desportos no Estádio Municipal. O time de Itu deu um baile na Lusa, ganhando de 4 x 1. Cabral, como fazia na Europa, levou junto ao estádio, a esposa Maria Carlota. Ambos voltaram decepcionados.
Na semana seguinte, o jogo seria contra o Corinthians em Itu. E aí a situação se inverteu: o timão, além de vencer, deu um baile no Ituano. Cabral e Maria Carlota se encantaram com o Corinthians, apesar dos torcedores ituanos chamarem o tempo todo os corintianos de “gambá”! No dia seguinte, Cabral queria porque queria saber o que era um gambá. Depois de explicado, ele cismou de possuir um gambá como bicho de estimação. Imaginem a cena: um casal de portugueses, torcedores do Corinthians, tendo em casa um gambá como bicho de estimação. Mas, não passou muito tempo e chegou a boa notícia: a chácara em Trás-os-Montes estava vendida, bastava que ambos estivessem em Portugal para legalizar a negociação.
No dia da viagem é que acordaram para o problema: não queriam deixar o gambá em Itu. O bicho teria que viajar com eles. Foi quando o cunhado Horácio de Sá interveio: – “Olha, aconselho vocês a não levar o gambá porque o IBAMA não vai permitir”. Mas, o Cabral já tinha pensado no assunto e foi explicando: – “Fique tranquilo, Horácio. Já combinei com a Maria, ela vai levá-lo escondido debaixo da própria saia.” Aí o cunhado se desesperou: – “Mas, como? E o mau cheiro?” E o Cabral, deu de ombros: – “Isso é problema do gambá. Ele que se vire…”